Praça Seca é palco de guerra entre traficantes e milicianosArquivo / Agência O Dia

Rio - A Praça Seca, na Zona Oeste, é apontado, pela plataforma Onde Tem Tiroteio (OTT), como o bairro do Rio que mais registrou confrontos no mês de maio. Segundo o relatório, 19 tiroteios foram contabilizados na região, que vem sofrendo com uma rotina de violência em meio a confrontos entre milicianos e traficantes por disputa de território.
A plataforma mostra que Brás de Pina, Penha e Jacarezinho, na Zona Norte, aparecem em 2º lugar, com 17 confrontos registrados cada um.

Já entre as regiões do Grande Rio, Rio de Janeiro, São João de Meriti e Duque de Caxias ficaram com a primeira, segunda e terceira colocação respectivamente, ajudando no expressivo número de tiroteios em maio, com 473 em todo o Estado.
Somente na capital, foram contabilizados 424 confrontos. Isso representa um aumento de 15% comparado ao número de abril e 114,1% de aumento em comparação ao mês de maio do ano passado. 
De janeiro a maio deste ano, o Estado do Rio contabilizou 1,5 mil tiroteios. Com isso, os confrontos no RJ apresentaram um crescimento de 135,3% comparados ao mesmo período de 2022, o qual foram registrados 657 tiroteios. O sociólogo Daniel Hirata, coordenador do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni-UFF), acredita que esse aumento se deve a dois fatores.
"Primeiro, temos uma intensidade de conflitos envolvendo grupos de milicianos e de facções do tráfico de drogas que tem chamado atenção, sobretudo na Zona Oeste. Em segundo lugar, há um aumento expressivo do número de operações policiais que tem sido feito nos últimos tempos. São duas situações nas quais acontecem tiroteios e cresceram de forma articulada ou separada. Ou seja, também há um certo número de operações que foram realizadas para a contenção dos conflitos armados", comentou Daniel ao DIA.
O perito e psicanalista forense José Ricardo Bandeira, especialista em segurança pública, também ressalta a diminuição do número de casos de covid-19 no Rio como um dos fatores.
"Ano passado, estávamos saindo da pandemia ainda. Tínhamos menos movimento de operações policiais e menos confrontos entre facções criminosas. Por isso, o número do ano passado é bem menor do que esse ano. Esse ano, já começamos fora de uma pandemia e operações policiais já estão mais intensificadas", destacou.
Benito Quintanilha, cofundador do aplicativo OTT, explicou que a plataforma foi criada para tentar diminuir os efeitos dos tiroteios, como as balas perdidas. "As pessoas nos informam sobre os confrontos, em seguida nós validamos esses tiroteios em grupos das comunidades e de acordo com a geolocalização de cada usuário, ele recebe a notificação sobre o confronto na região em que mora. Por exemplo, está tendo um tiroteio na Tijuca e um morador de lá tem o aplicativo, ele vai receber a mensagem e não vai passar pelo local do confronto", explicou.
Em nota, a Polícia Militar informou que os dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), revelam que desde 2019, a PM vem reduzindo os índices de letalidade em todo o território fluminense. "A Corporação destaca que as ações de enfrentamento ao crime organizado são planejadas com base em informações de inteligência, sendo pautadas por critérios técnicos e pelo previsto na legislação vigente, tendo como preocupação central a preservação de vidas, sendo executadas de forma integrada com outros órgãos de segurança", afirma a corporação.
Ainda de acordo com a PM, em 2023, mais de 11 mil criminosos foram presos e mais de mil adolescentes envolvidos com a criminalidade apreendidos. Além disso, a polícia informou que cerca de 2,4 mil armas de fogo, entre elas 216 fuzis, foram retirados das ruas.

"Os confrontos durante as ações policiais representam a forma de atuação dos grupos criminosos, que insistem em enfrentar as forças de segurança que buscam na atuação policial resguardar os direitos básicos da população. O Governo do Estado vem investindo em equipamentos para que as ações da Polícia Militar sejam cada vez mais técnicas e seguras para os policiais e a sociedade", informa um trecho da nota.
Confrontos na Praça Seca
Um veículo blindado da Polícia Militar foi incendiado por criminosos, na noite desta terça-feira (6), na comunidade do Bateau Mouche. Os bandidos atiraram contra equipes do 18º BPM (Jacarepaguá) e utilizaram coquetéis molotov para dar início as chamas, que se espalharam pelo caveirão rapidamente. De acordo com a corporação, o ataque aconteceu em represália à morte do chefe do tráfico de drogas da região, no domingo passado (4).
Em suas redes sociais, o governador do Rio, Cláudio Castro afirmou que determinou que as tropas permaneçam na região para localizar os envolvidos. "Nossa luta contra o crime é diária. Não vamos permitir que a bandidagem se crie aqui. Nada vai impedir o trabalho das polícias. Esse ataque de hoje a um blindado que estava numa base do Batalhão de Jacarepaguá é inadmissível (...) Já determinei ao comandante da PM que as tropas especiais permaneçam no terreno para localizar os responsáveis. É um ataque não só contra a polícia, mas contra toda a sociedade", escreveu.
Em entrevista ao 'BDRJ' da TV Globo desta quarta-feira (7), o coronel Luiz Henrique Marinho Pires afirmou que o episódio representa uma agressão ao Estado que não vai ficar sem resposta por parte da Polícia Militar. O secretário ainda destacou que as operações da corporação não buscam pelo confronto, mas pela prisão de criminosos, e a preocupação com a população que vive nas áreas conflagradas pela violência.
No último dia 14 de maio, uma troca de tiros entre criminosos e PMs do Batalhão de Operações Especiais (Bope), na Praça Seca, Zona Oeste, terminou com um suspeito baleado e um fuzil apreendido. De acordo com Polícia Militar, o confronto aconteceu na localidade conhecida como Capitão Menezes. O criminoso, que não teve sua identidade revelada, teria participado do confronto e encontrado ferido pelos PMs após cessar os disparos.
No fim de abril, dois homens foram mortos em 24h no bairro. A Polícia Civil instaurou um inquérito para apurar as mortes dos mototaxistas José André de Souza, de 42 anos, e Fábio Ferreira Resende, de 40 anos, baleados na Praça Seca. A suspeita é que José André teria sido morto por ter testemunhado a morte de Fábio no dia anterior. 
Em março, um intenso tiroteio deixou, pelo menos, três pessoas baleadas na Praça Seca. O confronto teve início na favela da Chacrinha, entre policiais militares e suspeitos, e depois seguiu entre criminosos rivais, dessa vez na comunidade do Jordão. As vítimas seriam dois mototaxistas e um homem. Motoristas que passavam pela Rua Cândido Benício, uma das principais vias do bairro, ficaram no meio do fogo cruzado.
Guerra de facções

Desde o ano passado, comunidades das zonas Oeste e Norte estão vivendo cenários de guerra por conta da disputa entre criminosos rivais. Sob forte influência de milicianos, as favelas têm sido palco de invasões do Comando Vermelho, que pretende expandir pontos de venda de drogas pelo Rio. Recentemente, integrantes do Terceiro Comando Puro (TCP) se juntaram com os paramilitares para expulsar bandidos da outra facção, que conseguiram invadir partes desses locais.

Além da Praça Seca, o Comando Vermelho está disputando o controle dos Morros do Fubá e do Campinho, na Zona Norte, e Muzema, Rio das Pedras, Complexo da Covanca, além da Gardênia Azul e a Cidade de Deus, na Zona Oeste. Nessas favelas, moradores têm sofrido com constantes confrontos entre os grupos rivais e operações policiais.
Top 10 dos bairros do Rio com maiores índices de tiroteios em maio de 2023
- Praça Seca: 19
- Brás de Pina: 17
- Penha: 17
- Jacarezinho: 17
- Madureira: 13
- Cordovil: 13
- Manguinhos: 12
- Vila Isabel: 12
- Guadalupe: 12
- Cascadura: 12
Número de tiroteios registrados desde o início de 2023 no Estado do Rio
Janeiro: 180 
Fevereiro: 156 
Março: 418 
Abril: 368
Maio: 424