Diversos membros da igreja que Ronald fazia parte estiveram presentes cantando louvores em seu sepultamentoTatiane Siqueira / Agência O Dia

Rio - O corpo do jovem Ronald da Silva Santos, de 22 anos, que morreu depois de ser baleado em uma ação da Polícia Militar, foi sepultado na tarde desta quinta-feira (8) no Cemitério do Maruí, no Barreto, em Niterói, Região Metropolitana do Rio. A vítima ficou quase um mês internada no Hospital Estadual Azevedo Lima (Heal), por conta dos ferimentos, e faleceu nesta quarta-feira (7). 
Familiares e amigos estiveram presentes no cemitério e cantaram louvores como forma de homenagem à Ronald. Segundo Juliana Silva, mãe do jovem, a fé ajudou durante todo o tempo de internação doloroso e difícil do filho, que chegou no hospital com lesões na coluna, no estômago e no diafragma causadas pelos disparo. Para Juliana, Ronald era uma pessoa que tinha ligação com a igreja e sempre prezava pelo bem do próximo.
"Ele era um garoto querido, amado e todo mundo gostava dele. Uma pessoa muito ótima e evangélica. Ajudava todo mundo. Ele não podia ver uma pessoa com bolsa pesada que ele ia lá e fazia questão de ajudar. Muito prestativo, um ótimo filho. Essa calmaria toda é o Espírito Santo que está me ajudando. Você acreditar em Deus e ter Ele em você é a melhor coisa que tem porque Ele te acolhe, te abraça e te apoia. Foi difícil e doloroso passar por esse processo, mas sei que tem um Deus que conforta e me dá todo sustento", disse Juliana, emocionada.
Diversos membros da igreja que Ronald fazia parte estiveram em seu sepultamento. O pastor Adalberto Vale contou que o jovem era uma pessoa comprometida com a religião e que tinha boas relações com as pessoas ao seu redor. O líder religioso ainda ressaltou que, até no momento em que foi baleado, o homem perdoou o policial responsável pelo tiro.
"O Ronald era um jovem muito tranquilo, bem educado, de uma família simples e modesta, mas de uma educação sem igual diferenciada dos jovens hoje em dia. Era uma pessoa que sempre estava ajudando. Ele tinha um empenho no trabalho religioso, era uma pessoa comprometida que era só casa, igreja e aquela brincadeira de jovem a tarde ali. Sem muita preocupação. Foi uma crueldade desmerecida. Uma violência sem igual, fruto de uma realidade que estamos vivendo. O Ronald, até no momento de sofrimento, ele fala para o seu opressor que o perdoa. Esse era o Ronald", destacou o pastor.
Adalberto ainda contou que o jovem era envolvido com projetos da igreja e cuidava do som durante os cultos. "Era sempre envolvido. Sempre disposto a servir e fazer esse trabalho", completou.
Testemunha alega demora em socorro
Ronald foi baleado no dia 11 de maio deste ano enquanto caminhava para um campo de futebol, onde participaria de um jogo com amigos. Na época, a Polícia Militar informou que agentes do 12º BPM (Niterói) realizavam patrulhamento na Rua Silveira Mota, no bairro São Lourenço, quando foram atacados a tiros por criminosos e houve confronto. Em seguida, os militares foram informados que populares socorreram uma vítima ao Hospital Estadual Azevedo Lima.
No entanto, a versão apresentada pela PM é contestada por familiares e amigos que disseram que não havia confronto ou troca de tiros no momento em que o jovem foi atingido. O caso aconteceu por volta das 16h, quando a rua ainda estava movimentada. Ana Cláudia Teixeira, mãe de um amigo de Ronald, contou que viu um dos policiais atirar em direção ao jovem. Após o tiro, a vítima ficou caída e o agente não teria deixado moradores a socorrerem.
"Eu vi o policial atirar. Teve um tiro, eu cheguei na varanda e vi que ele [Ronald] estava descendo. Ele não correu. Ele levantou a mão e o policial atirou pelas costas dele. Não tinha ninguém correndo na hora. Não tinha nada ali. Era uma rua que só tinha criança. O moço de um bar tentou socorrer ele, mas o policial não deixou. O socorro demorou porque ele não queria deixar tirar. Os moradores peitaram e ele viu que estava sozinho. Quando ele viu que começou a aglomerar e que o garoto era do bem, ele deixou socorrer", disse Ana Cláudia.
Questionada sobre o assunto nesta quarta-feira (7), a Polícia Militar afirmou que continua com um procedimento apuratório interno para esclarecer o caso, mas não deu detalhes se os agentes que atuaram na ação foram afastados ou se suas armas foram apreendidas. A reportagem entrou em contato novamente com a PM nesta quinta-feira (8), mas ainda não teve retorno.
A morte de Ronald segue sendo investigado pela 76ª DP (Niterói), segundo informado pela Polícia Civil nesta quarta. Segundo a instituição, testemunhas já foram ouvidas e diligências estão em andamento para esclarecer os fatos. Porém, a mãe do jovem alegou ainda não ter sido ouvida como uma das testemunhas.