Bruno Henrique Castro, 18, denuncia ter sido alvo de racismo por cliente em mercado na Zona NorteDivulgação

Rio - Um estudante de 18 anos denuncia ter sido vítima de racismo por uma mulher na fila do caixa do supermercado Guanabara, em Piedade, na Zona Norte do Rio. O caso aconteceu no dia 15 deste mês e está sendo investigado pela 24ª DP (Piedade) como crime de injúria por preconceito e calúnia. Segundo Bruno Henrique de Castro Monteiro, a mulher, ainda não identificada, se referiu a ele como "neguinho do morro".
Imagens gravadas por um outro cliente, que presenciou os xingamentos racistas contra o estudante, flagraram outro momento dos insultos, onde a mulher se refere a Bruno e seu primo, de cor branca, de "podre", "fedorentos", "filhos da p...", "mendigos" e "lixos". Assista o vídeo abaixo.
Bruno disse que foi ao mercado com o primo, por volta das 16h, para comprar ingredientes para o jantar de aniversário da mãe. "Eu perguntei para ela onde ficava um produto que estava faltando na lista, aí ela falou numa boa. Eu respondi: "Obrigado, tia", mas ela não gostou. Aí meu primo corrigiu para 'senhora' e ela respondeu: 'Senhora é a sua mãe'. A gente não entendeu nada", disse o estudante.
Em seguida, ao se direcionar para o caixa do mercado, a fila mais vazia era justamente onde a mulher estava. "Ficamos atrás dela na fila e ela começou a gritar, foi o momento do vídeo", conta. Em outro momento da gravação, a mulher diz para Bruno que a raiz do cabelo dela é clara e que tem nariz fino.
Veja o vídeo:
Jovem se sentiu constrangido
Bruno diz que nunca havia passado por uma situação de racismo antes e, para ele, vivenciar esse momento foi um choque. "Lembro disso todo dia, eu fiquei muito sem graça, constrangido, fiquei bem mal. A sorte foi que muita gente no mercado nos apoiou, menos os dois seguranças", disse.
Em depoimento à 24ª DP, Bruno contou que, ao acionar os vigilantes do local, os mesmos insinuaram que ele e o seu primo é que poderiam ser presos.
A mãe de Bruno, a dona de casa Andrea de Castro, de 38 anos, confessa que o episódio a deixou muito abalada e que, até o momento, ainda não conseguiu assistir ao vídeo com os insultos. "Foi uma coisa que mexeu muito comigo, foi o pior presente que eu poderia receber no meu aniversário. A gente vê na televisão esses casos acontecendo toda hora, mas acha que nunca vai acontecer com um dos nossos. Não sei muito bem como lidar", confessa Andrea.
A dona de casa diz que seu filho ficou com o psicológico abalado e que está se sentindo diminuído. "Abalou muito o psicológico dele, ela falando toda hora que ele é mendigo, favelado. Mas eu falo para ele que não tem que se sentir diminuído. Eu quero justiça, tenho fé que essa mulher vai ser encontrada", disse.
Bruno também disse esperar que tudo seja resolvido e que a mulher não saia impune.
Ao DIA, o advogado do rapaz, Jean Narciso, disse que a mulher está na iminência de ser identificada pela delegacia. "Até o presente momento não foi qualificada, mas disseram que ela é do bairro... Estão na iminência de conseguir os dados dela", disse.
Ainda de acordo com a defesa de Bruno, ele vai buscar as medidas legais diante da omissão dos funcionários que presenciaram as agressões, mas nada fizeram para ajudar a vítima. "Até o presente momento o estabelecimento não se pronunciou, sequer prestou a devida assistência a eles. Se fosse ao contrário, acreditamos que o comportamento dos agentes de segurança do estabelecimento seria diferente do demonstrado nas imagens", concluiu.
A 24ª DP disse que solicitou as imagens de câmeras de segurança da região e vão ouvir todos os envolvidos. A investigação está em andamento.
A reportagem procurou o supermercado Guanabara, mas até o momento não houve retorno. O espaço está aberto para manifestação.
Outro de caso de racismo praticado no mesmo dia
Na Zona Sul, um outro caso de racismo, ocorrido também no dia 15 de junho, é investigado pela Polícia Civil. O produtor de audiovisual Vinícius Bandeira, de 23 anos, relatou ter sofrido racismo por seguranças do Shopping Leblon, na Zona Sul do Rio, por volta das 21h. Muito abalado e revoltado com a situação, a vítima expôs em suas redes sociais que foi perseguido, humilhado e apontado como um possível criminoso que poderia roubar peças de roupas das lojas. O caso está sendo investigado pela 14ª DP (Leblon) como injúria por preconceito e constrangimento ilegal.
Vinícius conta que saiu do seu trabalho, no bairro do Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio, e foi ao shopping para procurar um presente para uma amiga e roupas para usar no seu aniversário, quando percebeu que estava sendo acompanhado a todo momento por seguranças do Shopping Leblon. "Os seguranças esperavam nas portas das lojas de forma completamente constrangedora e acima do que, infelizmente, estou acostumado. Os funcionários nem ao menos tentavam disfarçar o indisfarçável enquanto eu estava naquele ambiente completamente hostil à minha existência", desabafou o rapaz.
Ainda de acordo com o produtor, o fato se agravou quando ele entrou no provador de uma loja de roupas e, ao sair, foi informado por uma das vendedoras, que também é negra, que os seguranças os alertaram que ele poderia furtar peças de roupa. Ainda segundo a funcionária do estabelecimento, os vigilantes do shopping disseram que Vinícius levantou suspeita por ter saído de outras três lojas sem ter comprado nada.

"Após efetuar a compra, a vendedora com os olhos muito atentos e sensíveis me explanou o que havia acontecido e pediu para tomar cuidado, pois não sabíamos qual seria o limite daquela perseguição, vide os tantos casos de agressões e assassinatos que assistimos em tantos shoppings e supermercados do Brasil", disse o rapaz.
O Shopping Leblon destacou que repudia todo e qualquer tipo de discriminação e informou que segue contribuindo na investigação do caso e está tomando as medidas cabíveis, como o afastamento imediato do funcionário.