Em liberdade, Waelinton Gonçalves, de 33 anos, tenta provar que foi preso no lugar do irmãoDivulgação/ Acervo pessoal

Rio - "Lugar de terror, dor e tristeza". É assim que o operário da construção civil Waelinton Gonçalves dos Santos, de 33 anos, descreve os 50 dias que ficou preso na cadeia pública de São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. Ele é acusado de crimes que teriam sido cometidos pelo irmão, Vando Gonçalves dos Santos. Waelinton foi solto no início da tarde de quarta-feira (5) e recebido com festa pela mulher Michele dos Santos e as duas filhas menores de idade.
Muito abalado psicologicamente e com crises de ansiedade, Waelinton disse ao DIA que tenta se reerguer e reunir forças para provar na Justiça que é inocente.
"Estou confuso, sem entender tudo isso e com ansiedade. A minha mente e corpo estão se adaptando ainda. Mesmo assim estou muito feliz em poder ver como o dia do lado de fora da prisão é lindo, já que o lugar que eu estava era de terror, dor, tristeza… Graças a Deus consegui sair dali", desabafa. O operário compartilhou uma cela pequena com outros 22 homens. Por causa da falta de espaço, os detentos se revezavam para dormir nos colchões.
Para a Justiça do Rio Grande do Norte, Waelinton foi o autor dos crimes de roubo, tentativa de roubo, porte ilegal de arma e homicídio, todos praticados no Rio Grande do Norte, entre outubro de 2014 e agosto de 2015. Os processos tramitam na Justiça do estado. No entanto, a defesa do trabalhador tenta validar as provas que mostram que Waelinton estava no Rio de Janeiro na época dos crimes e que o verdadeiro autor é o irmão dele.
Já do lado de fora da prisão, o operário disse que ainda não tentou fazer contato com Vando e que também não foi procurado por ele para tentar esclarecer os fatos. Mesmo solto, o operário continua respondendo pelos crimes e precisa seguir quatro medidas cautelares: comparecimento obrigatório em juízo a cada 30 dias; proibição de manter contato ou se aproximar das vítimas, ou pessoas relacionadas aos delitos imputados, e a proibição de ausentar-se da Comarca do Rio de Janeiro, onde mantém domicílio, até revogação da medida.
"Eu sei que ainda não acabou, tenho que cumprir restrições a pedido da Justiça e preciso provar a minha inocência. Mas só de retornar e respirar o ar da minha casa de novo já fico feliz", disse ele, que relembrou com carinho os primeiros minutos em liberdade.
"A partir do momento que botei o pé para fora daquele portão, senti uma felicidade imensa em poder rever minhas duas filhas. Ver como o dia é lindo, poder abraçar minha mulher e retornar para o aconchego no meu lar não tem preço", disse.
Próximos passos
De acordo com Diego Moreira Saldanha, advogado que defende o operário, o caso tem um alto grau de dificuldade devido ao caso tramitar no Rio Grande do Norte. "As ações penais continuam e temos agora que provar uma vez de todas que ele é inocente. Já apresentamos defesas preliminares em dois processos. E vamos interpor uma revisão criminal nos próximos dia", disse o advogado.
Localização do operário mostra que ele não participou dos crimes
O primeiro crime trata-se de um roubo a uma farmácia em Natal, ocorrido em outubro de 2014. O suspeito que se apresentou como Waelinton ficou sete meses e quatro dias preso, sendo solto em maio de 2015. Pouco antes, em janeiro do mesmo ano, o operário se mudou para o Rio com a mulher. Em fevereiro de 2015, Waelinton estava trabalhando de carteira assinada em uma empresa de construção, também no Rio.
O segundo processo foi registrado no dia 24 de julho de 2015, por tentativa de roubo e posse ilegal de arma. O advogado do preso também apresentou provas que mostram que dez dias antes desse crime Waelinton havia mudado de emprego, também de carteira assinada, em uma empresa com sede em São Conrado, na Zona Oeste do Rio.
Em busca por informações dessa ocorrência, a defesa dele descobriu que nesse crime o homem que disse chamar Waelinton foi baleado, passou por uma cirurgia na barriga e depois fugiu do hospital sem ser formalmente identificado. "Juntamos aos autos do processo fotos recentes do rapaz que demonstram não possuir qualquer cicatriz na região da barriga, além de ter carteira de trabalho assinada. O próprio Ministério Público reconheceu a possibilidade de que o rapaz não estivesse no Rio Grande à época dos fatos", afirmou o advogado.
No dia 28 de agosto, mais um crime, dessa vez um homicídio no Rio Grande do Norte, foi imputado ao operário. Dois dias antes, Waelinton havia se casado no cartório com Michele, no Rio. "Como uma pessoa que tinha acabado de casar, estava em lua de mel, saiu do Rio de Janeiro e matou uma pessoa? Como uma pessoa que foi baleada no dia 24 de Julho de 2015 e passou por uma cirurgia, estava em nova empresa no Rio de Janeiro onze dias depois? O próprio delegado no inquérito policial fez essa pergunta", disse o defensor.