Moïse Kabagambe, congolês morto espancado em quiosque da Barra da TijucaReprodução
Durante depoimento, Lotsove contou que soube do assassinato na mesma noite e, quando chegou ao quiosque Tropicália, o corpo de Moise já havia sido levado para o IML. Ela ressaltou que seu filho trabalhava no local desde antes da pandemia, e havia pedido que ele não continuasse no trabalho. "Ele saía para trabalhar e chegava em casa sem dinheiro", contou, emocionada.
A administradora contou ainda que, no dia do crime, chegou a dar duas latas de cerveja a Moïse e que era comum que ele e outros trabalhadores dos quiosques pegassem bebida e cigarro para pagar depois — negando uma terceira cerveja à vítima. Sobre os réus, Viviane disse conhecer Aleson há mais tempo e que os envolvidos eram trabalhadores e nunca haviam brigado na praia.
A mulher é investigada paralelamente pelo Ministério Público por suposta omissão de socorro mas, neste processo, atua como testemunha da acusação.
O PM Alauir, irmão de Viviane, foi o último a depor. Ele informou que não presenciou as agressões, mas foi procurado por Aleson dois dias após o crime e se propôs a acompanha-lo até a delegacia para que se entregasse. O Ministério Público ainda tenta localizar as testemunhas que não foram encontradas para serem intimadas.
Relembre o caso
Moïse Kabagambe, 24 anos, trabalhava no quiosque Tropicália na praia da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Ele foi espancado e morto por Fábio Pirineus da Silva, Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca e Brendon Luz da Silva na noite do último dia 24 de janeiro. Os três homens agrediram o jovem com socos e chutes, golpes de taco de beisebol e pauladas.
O motivo, de acordo com relatos colhidos pela Polícia Civil foi um desentendimento após Moïse cobrar valores de duas diárias de trabalho no quiosque.
O crime gerou grande comoção com repercussão nacional e internacional, protestos e até relatos de ameaças de familiares do jovem congolês que chegaram a dizer que teriam sido inibidos ao ir até o local onde fica o quiosque para protestar e mostrar a indignação pelo assassinato brutal de Moïse.
Organizações de Defesa dos Direitos Humanos, grupos antirracistas e outras entidades de grande importância, bem como artistas e autoridades foram às redes sociais protestar contra o crime. O caso chamou a atenção das autoridades sobre condições de trabalho insalubre, maus tratos, abusos e não cumprimento de leis trabalhistas para com os imigrantes que moram no Rio.
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