Moïse Kabagambe, congolês morto espancado em quiosque da Barra da TijucaReprodução

Rio - A Justiça do Rio realizou, na tarde desta sexta-feira (7), uma audiência de instrução no julgamento dos acusados do assassinato do congolês Moïse Kabagambe, espancado até a morte em janeiro de 2022, em um quiosque na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio.  Ao depor, a mãe da vítima, Lotsove Lolo Lavy Ivone chorou e pediu justiça pelo filho que, segundo ela, foi morto "como se fosse uma cobra".
Das 12 testemunhas previstas para serem ouvidas, apenas três compareceram à audiência no 1º Tribunal do Júri, no Fórum Central, no Centro do Rio. Os réus, Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca, Brendon Alexander Luz da Silva e Fábio Pirineus da Silva respondem por homicídio qualificado por motivo fútil, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima. A próxima audiência está prevista para dia 28 de julho, às 13h.

Durante depoimento, Lotsove contou que soube do assassinato na mesma noite e, quando chegou ao quiosque Tropicália, o corpo de Moise já havia sido levado para o IML. Ela ressaltou que seu filho trabalhava no local desde antes da pandemia, e havia pedido que ele não continuasse no trabalho. "Ele saía para trabalhar e chegava em casa sem dinheiro", contou, emocionada.
Também foram ouvidos Viviane Matos Faria, que administrava o quiosque vizinho, e o policial militar Alauir de Matos Faria. Viviane contou que estava trabalhando na noite do crime, mas não presenciou as agressões, tendo apenas ouvido comentários dos clientes sobre uma briga que acontecia no quiosque Tropicália.

A administradora contou ainda que, no dia do crime, chegou a dar duas latas de cerveja a Moïse e que era comum que ele e outros trabalhadores dos quiosques pegassem bebida e cigarro para pagar depois — negando uma terceira cerveja à vítima. Sobre os réus, Viviane disse conhecer Aleson há mais tempo e que os envolvidos eram trabalhadores e nunca haviam brigado na praia.

A mulher é investigada paralelamente pelo Ministério Público por suposta omissão de socorro mas, neste processo, atua como testemunha da acusação.

O PM Alauir, irmão de Viviane, foi o último a depor. Ele informou que não presenciou as agressões, mas foi procurado por Aleson dois dias após o crime e se propôs a acompanha-lo até a delegacia para que se entregasse. O Ministério Público ainda tenta localizar as testemunhas que não foram encontradas para serem intimadas.

Relembre o caso

Moïse Kabagambe, 24 anos, trabalhava no quiosque Tropicália na praia da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Ele foi espancado e morto por Fábio Pirineus da Silva, Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca e Brendon Luz da Silva na noite do último dia 24 de janeiro. Os três homens agrediram o jovem com socos e chutes, golpes de taco de beisebol e pauladas.

O motivo, de acordo com relatos colhidos pela Polícia Civil foi um desentendimento após Moïse cobrar valores de duas diárias de trabalho no quiosque.

O crime gerou grande comoção com repercussão nacional e internacional, protestos e até relatos de ameaças de familiares do jovem congolês que chegaram a dizer que teriam sido inibidos ao ir até o local onde fica o quiosque para protestar e mostrar a indignação pelo assassinato brutal de Moïse.

Organizações de Defesa dos Direitos Humanos, grupos antirracistas e outras entidades de grande importância, bem como artistas e autoridades foram às redes sociais protestar contra o crime. O caso chamou a atenção das autoridades sobre condições de trabalho insalubre, maus tratos, abusos e não cumprimento de leis trabalhistas para com os imigrantes que moram no Rio.