Pedro Ricardo Conceição da Rocha, o King, de 19 anos, é suspeito de criar grupos no Discord para cometer crimesReprodução

Rio - A Polícia Civil concluiu o inquérito e indiciou, nesta quinta-feira (13), Pedro Ricardo Conceição da Rocha, o King, de 19 anos, apontado como criador do principal grupo do Discord, plataforma onde membros praticavam estupros virtuais, e induziam à automutilação e ao suicídio de crianças e adolescentes. King foi preso em uma operação da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV) no último dia 4.
Pedro Ricardo vai responder por associação criminosa; divulgar e armazenar arquivos contendo cenas de abuso sexual infantojuvenil; estupro de vulnerável; e induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automutilação.
A Polícia Civil também representou pela pela conversão da prisão temporária em prisão preventiva, por prazo indeterminado. Após a prisão de King, foram identificadas outras três vítimas que colaboraram com a conclusão do inquérito policial.
Preso na casa da avó
Ele foi preso na segunda fase da "Operação Dark Room", da DCAV, onde o seu grupo era alvo. A ação aconteceu nas cidades de Cachoeiras de Macacu, na Região Metropolitana, e Teresópolis, na Região Serrana.
King foi encontrado escondido na casa da avó, em Teresópolis. Na primeira etapa da operação, dois adolescentes de 14 e 17 anos foram apreendidos.
As investigações iniciaram em março deste ano após o compartilhamento de dados de inteligência com a Polícia Federal e delegacias de diversos estados do país. Os adolescente alvos da operação são acusados de associação criminosa; induzimento, instigação ou auxílio a suicídio e estupro. Desde Abril, mais de 10 pessoas foram presas/apreendidas pela Polícia Federal e Polícias Civis dos estados.
Três servidores da plataforma eram utilizados por um mesmo grupo de jovens e adolescentes de várias regiões do país para cometerem atos de extrema violência contra animais e adolescentes, além de divulgarem pedofilia, zoofilia e fazerem apologia aberta ao racismo, nazismo e a misoginia.
Vídeos publicados na plataforma, e obtidos durante a investigação, mostravam ainda mutilações e sacrifícios de animais como parte de desafios impostos pelos criadores e administradores dos servidores como condição para membros ganharem cargos na comunidade, o que se traduzia principalmente em permissões e acesso às funções dentro do grupo. A maioria dessas ações era transmitida ao vivo em chamadas de vídeo para os integrantes dos servidores.
Além disso, adolescentes também foram chantageadas e constrangidas a se tornarem escravas sexuais dos líderes para que cometessem os estupros virtuais que eram transmitidos ao vivo por meio de chamada de vídeo para todos os integrantes do servidor. Durante a sessão, as vítimas eram xingadas, humilhadas e obrigadas a se automutilar. Ao comando do seu “Deus” ou “dono” faziam cortes com navalha nos braços, pernas, seios, genitália e tudo mais que ele mandasse fazer. Muitos espectadores riam e vibravam com a crueldade, uma prática conhecida como “LULZ” (trolar e rir do sofrimento alheio).
Tais vítimas, de várias regiões do Brasil, eram escolhidas no próprio Discord, em perfis abertos das redes sociais ou até mesmo indicadas por integrantes do grupo. Utilizando engenharia social e pesquisas em sites de bancos de dados e consulta de crédito, os líderes obtinham informações pessoais delas, numa prática conhecida como “DOX”. A partir daí iniciavam uma série de chantagens afirmando que possuíam fotos comprometedoras que seriam vazadas ou enviadas para os pais, caso não se rendessem às ordens. Na maioria das vezes estavam blefando.