Mateus Ozorio era irmão do companheiro de SabrinaReprodução

Rio - Mateus da Silva Ozorio Ferreira, acusado de matar Sabrina Tavares, de 31 anos, no dia 11 de agosto do ano passado teve a prisão preventiva suspensa e aguarda o julgamento em liberdade. A soltura aconteceu depois que sua ex-companheira, uma das testemunhas do caso, mudou a versão do depoimento. A próxima audiência está marcada para o dia 28 de agosto. O caso voltou a ter repercussão depois que a mulher teve o túmulo violado e o crânio retirado do caixão do cemitério em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

Sabrina foi morta enquanto dormia em casa no mesmo município. Ela estava com a mãe, que também foi baleada no ataque, mas sobreviveu ao se fingir de morta. Na época, foi divulgado que dois homens participaram do crime. Mas apenas Mateus foi identificado. O comparsa teria sido o condutor da moto utilizada na ação.

O acusado chegou a ficar preso depois que teve a prisão preventiva decretada em fevereiro deste ano. Mateus é irmão do policial militar com quem Sabrina era casada, Cristiano da Silva Ozório Ferreira. O agente também foi morto na porta da casa em 2016, no bairro Parque Ambaí, em Nova Iguaçu. Ele conversava com uma pessoa quando foi atingido por um disparo feito de um veículo que passou pelo local. Cristiano era soldado reformado e trabalhou no 20º BPM (Mesquita).

Os relatos do pai da vítima e de outra testemunha revelam que havia uma disputa judicial pela casa em que Sabrina morava, logo após a morte de seu companheiro. No dia seguinte à morte da mulher, Mateus e a irmã já estavam no imóvel, supostamente autorizados por um advogado, diz o processo. A família do PM mora no local.

Outra testemunha afirmou que o acusado já lhe enviou fotos de arma de fogo e falou por diversas vezes que acreditava que Sabrina era responsável pela morte do irmão. Outros relatos também afirmavam que o cunhado era visto com arma de fogo. 

A ex-namorada do acusado, Vitória, declarou à polícia saber dos planos dele para matar uma pessoa, sem saber quem seria a vítima. Ela confirmou que o ex-companheiro achava que Sabrina tinha responsabilidade na morte de Cristiano. A testemunha, no entanto, mudou seu depoimento à Justiça.

Inicialmente o juiz havia determinado a prisão cautelar. No entanto, na audiência do dia 19 de julho o juiz acolheu o pedido da defensoria, que defende Mateus, e entendeu que não havia prova suficiente para deixar o acusado preso, revogando a preventiva.

A defesa pediu que o policial civil Jefferson Silva Pereira, escrivão no caso, seja ouvido. O magistrado anotou que pode haver, na próxima audiência, uma acareação entre Vitória e o escrivão que realizou o depoimento de diversas testemunhas.

O juiz afirmou que embora existam indícios sobre o acusado, não há provas de periculosidade.
"Ao contrário do que disse o Ministério Público, as testemunhas ouvidas nesta data apontam com firmeza apenas o que ouviram dizer sobre a autoria. A vítima Fátima [mãe de Sabrina] reforçou não ter identificado o autor dos disparos. Os demais apontam que existem rixas entre as partes a respeito da casa, e Vitória voltou atrás do que havia dito em delegacia, apontando inclusive coação por parte policial", anotou o juiz Adriano Celestino Santos.
Em publicação em sua rede social em agosto do ano passado, mês do assassinato, Mateus chegou a  criticar a soltura de criminosos. "Quem inventou o assassinato não sabe a dor da saudade, quem inventou o roubo não sabe a dor de meses trabalhando em vão, quem inventou o estupro não sabe a dor da insegurança, da sua dignidade indo embora. Liberdade é só pra quem merece, doa a quem doer!", escreveu.
A reportagem tentou contato com Mateus e pediu nota para sua defesa. O espaço está aberto para manifestação.

Delegado vê crimes distintos

Em paralelo à investigação sobre o homicídio de Sabrina e a tentativa de homicídio contra sua mãe, a Polícia Civil investiga a violação do túmulo da mulher. O delegado titular da 58ª DP (Posse), José Mário Salomão, não trabalha com a hipótese de que o crime tenha relação com a execução. Ele acredita que a motivação tenha sido a de realizar um ritual religioso.

Funcionários do cemitério acionaram a família para alertar que o caixão havia sido violado. O caso foi registrado em 16 de abril. Exames demonstraram que a cabeça da vítima havia sido removida do local, no Cemitério Iguaçu Velho.

Salomão acrescenta que provavelmente o criminoso não agiu sozinho, já que teve que quebrar o túmulo, revolver terra, posicionar as garrafas e ainda retirar o crânio da vítima. Ele acredita que conseguirá resolver o caso em até 30 dias.

De acordo com relatos da família e o inquérito policial, os restos mortais levados pelos criminosos foram substituídos por um objeto de barro.
"A gente quer justiça. O túmulo da Sabrina é identificado: tem foto, nome e data da morte. Não tem como terem feito por engano. Foi alguém que realmente queria a cabeça dela. Quem teria interesse nisso? É muito complexo. Como estivéssemos revivendo a morte dela, ou que tivessem matado ela novamente. Foi um pedaço dela que levaram para fazer maldade. E a pessoa é muito fria para fazer uma coisa dessa", afirmou a madrasta da vítima.

Nas imagens contidas no laudo pericial, é possível ver a tampa de concreto da sepultura quebrada e o caixão à mostra. Em outro registro feito pelo perito, há também a imagem do alguidar de barro com cinzas e garrafas de bebidas próximas.

Segundo depoimento dos funcionários do cemitério que identificaram a violação, dentro das garrafas de bebida havia papéis com os nomes de várias pessoas. O fato foi notado pelo funcionário por volta das 8h da manhã, logo no início do seu expediente, mas a família questiona a demora na comunicação do fato.