Rio - Três testemunhas de acusação no processo que julga a morte de Moïse Kabagambe, de 24 anos, foram ouvidas na tarde desta sexta-feira (28), na 1ª Vara Criminal da Capital. No encerramento da audiência, a juíza Alessandra da Rocha Lima Roidis marcou para o dia 15 de setembro, às 13h, a continuação das oitivas das testemunhas. Brendon Alexander Luz da Silva, Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca e Fábio Pirineus da Silva são acusados de matar Moïse em um quiosque na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, em janeiro de 2022.
O primeiro a prestar depoimento foi Maicon Rodrigues Gomes, que contou que trabalhava nos quiosques da praia como freelancer e que conheceu a vítima na semana do crime. A testemunha disse que Moïse estaria há três dias ficando pela praia e consumindo bebida alcoólica e que chegou a oferecer dinheiro ao congolês para que ele fosse para casa descansar. A testemunha afirmou ainda que a vítima estava tentando pegar cerveja e que Jailton Pereira Campos, conhecido como 'Baixinho', estava tomando conta do cooler e não permitia.
Disse que 'Belo' apareceu com um pedaço de madeira para agredir Möise e que, então, percebeu que a situação estaria saindo do controle e saiu para tentar chamar a polícia. Em seguida, Jailton foi ouvido pela juíza. Ele disse que é amigo dos acusados, que não conhecia Moïse e que trabalhava no Tropicália e estava tomando conta do quiosque no dia da morte do congolês. Lembrou ainda que era seu segundo dia de trabalho lá e que, embora o seu turno fosse diurno, estava dobrando o horário porque o outro funcionário, que deveria rendê-lo, não chegou.
Jailton confirmou suas declarações quando prestou depoimento em sede policial, relatando toda a dinâmica das agressões cometidas pelos acusados, que resultaram na morte de Moïse. Disse que Brendon foi o primeiro a abordar o Moïse, chegando a derrubá-lo e imobilizá-lo com um golpe conhecido como "mata-leão". Em seguida, o Fábio chegou com um pedaço de madeira e começou a desferir vários golpes contra a vítima. Disse que o Aleson saiu de outro quiosque, pegou a madeira da mão de Fábio e também desferiu vários golpes contra Moïse.
Revelou que a vítima foi amarrada com uma corda e que, ainda assim, o Brendon chegou a desferir vários chutes contra ela. Contou que os acusados só decidiram desamarrá-la, quando viram que Moïse já estava morto. Daí, resolveram chamar o Samu.
A terceira e última testemunha ouvida na audiência foi Luis Carlos Cortinovis Coelho, proprietário de uma barraca da praia, localizada atrás do quiosque Tropicália. Luis Carlos contou que tinha trabalhado na praia durante o dia, mas que saiu por volta das 19h, não presenciando o ocorrido. Disse que Brendon, um dos acusados, trabalhava com ele na barraca e que nunca havia se envolvido em qualquer confusão. Afirmou que conhecia o Moïse, por ele trabalhar como freelancer no quiosque, mas que sempre procurou se manter afastado dele, porque enquanto trabalhava, ele também bebia e se metia em confusão.
Luis Carlos disse que soube do crime após receber um telefonema do Fábio, um dos acusados e que, quando chegou, o corpo de Moïse já havia sido retirado do local. Revelou, ainda, que entrou em contato com os acusados Fábio e Brendon, tentando convencê-los a se entregarem. Disse que, informado por um familiar do Fábio, conseguiu localizar o taco de beisebol usado para agredir Moïse e que o recolheu e entregou na delegacia.
Réus
Os réus também vão ser ouvidos. Fábio Pirineus da Silva, o Belo; Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca, o Dezenove; e Brendon Alexander Luz da Silva, o Tota, estão presos preventivamente desde a morte de Moïse e respondem por homicídio qualificado por motivo fútil, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima. De acordo com a polícia, Fábio assumiu ter dado pauladas na vítima, já Cristiano confessou ter participado das agressões, enquanto Brendon aparece nas filmagens imobilizando o congolês no chão.
Na primeira audiência, a mãe de Moïse, a comerciante Lotsove Lolo Lavy Ivone, foi ouvida. Durante depoimento, ela contou que soube do ocorrido na mesma noite, porém, quando chegou ao quiosque Tropicália, onde aconteceu o crime, o corpo de Moise já havia sido levado para o IML. A mulher ainda chorou e pediu justiça pelo filho que, segundo ela, foi morto "como se fosse uma cobra".
Inicialmente, doze pessoas iriam prestar depoimento, mas apenas três compareceram à audiência. Foram ouvidos Viviane Matos Faria, que administrava o quiosque vizinho, e o policial militar Alauir de Matos Faria.
Relembre o caso
Moïse Kabagambe, 24 anos, trabalhava no quiosque Tropicália na praia da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Ele foi espancado e morto por Fábio Pirineus da Silva, Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca e Brendon Luz da Silva na noite do último dia 24 de janeiro. Os três homens agrediram o jovem com socos e chutes, golpes de taco de beisebol e pauladas.
O motivo, de acordo com relatos colhidos pela Polícia Civil, foi um desentendimento após Moïse cobrar valores de duas diárias de trabalho no quiosque.
O crime gerou grande comoção com repercussão nacional e internacional, protestos e até relatos de ameaças de familiares do jovem congolês que chegaram a dizer que teriam sido inibidos ao ir até o local onde fica o quiosque para protestar e mostrar a indignação pelo assassinato brutal de Moïse.
Organizações de Defesa dos Direitos Humanos, grupos antirracistas e outras entidades de grande importância, bem como artistas e autoridades foram às redes sociais protestar contra o crime. O caso chamou a atenção das autoridades sobre condições de trabalho insalubres, maus tratos, abusos e não cumprimento de leis trabalhistas para com os imigrantes que moram no Rio.
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