O professor e médico Roberto Medronho assume o cargo de reitor da UFRJ com planejamento para reduzir a evasão estudantilCleber Mendes / Agência O Dia

Rio – Roberto de Andrade Medronho, 64 anos, novo reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tem um baita desafio pela frente. O epidemiologista, professor titular da Faculdade de Medicina da UFRJ (FM), venceu a eleição interna, realizada por alunos, professores, profissionais técnico-administrativos e pesquisadores, e depois foi escolhido pelo Presidente da República - que costuma acompanhar o desejo da comunidade acadêmica. Vencida esta batalha, a próxima a ser travada é contra o orçamento insuficiente, a evasão estudantil e os assédios e racismo cometidos na maior universidade federal do país.
Roberto tomou posse em julho, em uma cerimônia no Ministério da Educação (MEC), em Brasília, e presidida pelo ministro Camilo Santana. Juntamente com a vice-reitora Cássia Turci, professora titular do Instituto de Química, ficará no cargo até julho de 2027. Ambos fizeram parte da chapa 10 com o slogan 'UFRJ para todos: autonomia, inclusão e inovação', que obteve 31,7% dos votos, (2.253 dos docentes, 2.536 dos técnicos-administrativos e 6.835 dos estudantes, totalizando 11.624). 
Com cerca de R$ 320 milhões recebidos do Ministério da Educação (MEC), a saída é procurar a iniciativa privada para driblar as dificuldades financeiras e reduzir a evasão estudantil. O valor inicial era de R$ 313 milhões, mas houve uma recomposição orçamentária do Governo Federal de R$ 2,44 bilhões para universidades e institutos federais, um reconhecimento da perda orçamentária dos últimos anos, mas ainda abaixo da recomposição inflacionária.
A inclusão, trazida no slogan da chapa vencedora, passa pela assistência estudantil, fragilizada por este déficit de receita da universidade. A UFRJ realiza um programa de inclusão social por meio do aumento de número de vagas e ações afirmativas, como as cotas sociais, proporcionando à universidade pública um perfil diverso. Medronho, que ingressou na Faculdade de Medicina, em 1977, era morador do bairro da Abolição, subúrbio da Zona Norte, e lembra que a universidade era bem diferente.
"Antes o perfil era de pessoas da elite, hoje tem um perfil socioeconômico semelhante ao da população brasileira como um todo, mas precisa de dinheiro, pois é com dinheiro que se faz políticas", afirma Roberto.
Mas, segundo o reitor, mais de 12 mil alunos abandonaram a instituição entre o início da pandemia, em 2020, até hoje, dos quais 5 mil eram procedentes de programas de ações afirmativas.
"O estudante venceu todas as barreiras socioeconômicas para estar na sala de aula de uma universidade importante como a UFRJ, então ele tem que se formar, para mudar a vida dele, a vida da família dele e a vida da comunidade em que vive", reforça o novo reitor.
A ideia da nova gestão é procurar empresas privadas para a absorção da bolsa dos 'alunos brilhantes', nas palavras do reitor, pois a UFRJ não tem recurso para arcar com esta despesa. Seria uma espécie de estágio remunerado. A empresa financiaria, através de bolsa de estudos, a formação do aluno e depois o contrataria como funcionário. Além desta iniciativa, Medronho pensa em ampliar o número de bolsas estudantis.
A oferta de acomodações também é essencial para a manutenção dos alunos, "que serão fundamentais nas transformações sociais para a mudança do Brasil", garante o reitor.
Expandir o número de alojamentos é uma das propostas da nova reitoria, que já está em contato com a Prefeitura do Rio, de olho no Centro. Esvaziado pela crise econômica e pela pandemia da Covid-19, a prefeitura pretende revitalizar esta parte da cidade e Roberto almeja fazer residências estudantis no Centro, o que poderia povoar o lugar e estimular a reabertura de pontos comerciais.
Sobre o aspecto alimentação, o professor destaca que o restaurante universitário existente no campus Praia Vermelha passa por dificuldades. O desejo é construir um refeitório no 'novo Canecão'. A UFRJ assinou, em junho passado, a concessão de 30 anos de área no campus Praia Vermelha com o equipamento cultural. Além de investir na parte cultural, o consórcio precisará construir um restaurante universitário no campus Praia Vermelha com capacidade para fornecer duas mil refeições por dia, além de dois prédios acadêmicos no mesmo campus. Isso possibilitará que o Palácio Universitário concentre atividades de pesquisa e extensão das unidades ali atuantes. O consórcio Bônus-Kefler precisará fazer intervenções que chegam a R$ 137,7 milhões em todo o projeto, sendo R$ 53,7 milhões nas instalações acadêmicas e R$ 84 milhões na parte cultural.
Outra maneira de conseguir atrair recursos é através do Parque Tecnológico, um espaço de mais de 350 mil m² dedicado à articulação entre universidade, empresas e sociedade. A proposta da reitoria é fechar acordos com mais empresas de variados setores da economia, para somar ciência e tecnologia com as necessidades das companhias e criar as inovações necessárias, tendo o conhecimento especializado da universidade como suporte.
"Vamos ajudar a reconstruir esse país com o dinheiro que temos. Cada centavo aplicado na universidade, que é dinheiro de imposto pago pelo povo, retornará em bons serviços para a sociedade", afirma Roberto Medronho.
A restrição orçamentária também causa problemas de infraestruturas. O novo reitor espera conseguir terminar as obras do complexo CCJE-CFCH (Paliteiro): Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE) e Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), cujo prédio fica ao lado da Faculdade de Letras, na Cidade Universitária.
Primeira instituição oficial de ensino superior do país, em atividade desde 1792, por conta da existência da escola politécnica (sétima escola de engenharia do mundo e a mais antiga das américas), a UFRJ foi organizada como universidade em 1920, e tem cerca de 65 mil estudantes, 4 mil docentes e 8 mil funcionários técnicos-administrativos, incluindo aqueles que atuam nas unidades hospitalares da instituição. Só a Cidade Universitária, o campus principal, conta com circulação diária de cerca de 100 mil pessoas. 
A universidade tem presença registrada nas dez melhores posições de diversos rankings acadêmicos na América Latina, com o melhor curso de Engenharia Naval e Oceânica das Américas (à frente, inclusive, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts MIT) e 50 de seus professores estão entre os melhores cientistas do planeta. A missão de gerir uma instituição deste porte é árdua, mas Roberto garante estar animado e com boas expectativas para os próximos anos.
"Estamos bastante esperançosos, pois estamos vendo uma preocupação presidencial com a educação. Isto nos dá muita disposição para fazer o melhor para a sociedade. Somos profissionais públicos e é esta é a nossa missão, devolveremos o investimento da sociedade em ótimos profissionais formados", finaliza.

Universidade antirracista
Uma medida que não precisa de recursos financeiros e que será adotada pela nova reitoria é o combate ao preconceito e à violência. De acordo com Medronho, a universidade está ampliando políticas para ser antirracista: "Estamos atuando nas áreas de educação, elaborando programas para que as pessoas se toquem de que racismo é crime, e sendo intolerantes com os intolerantes. Estamos abrindo inquéritos para investigar casos de racismo e assédio moral e sexual. Seremos intransigentes através de campanha e ações para que casos assim não aconteçam mais. Seremos implacáveis com isso".
Bloco de carnaval
Para coroar os novos tempos, o reitor pretende voltar com o bloco de carnaval da UFRJ, o Minerva Assanhada. Criado em 2003, o bloco desfila pela Ilha do Fundão e foi oficialmente pensado e construído por e para pessoas da UFRJ. O nome homenageia a deusa romana das artes, do comércio e da sabedoria, que ilustra o brasão da universidade. Medronho, inclusive, compôs seu primeiro samba, em parceria com Noca da Portela.