Familiares no velório do adolescente morto na Cidade de DeusPedro Ivo
'Um passo que a gente deu', diz pai de adolescente morto na CDD sobre policiais indiciados
Investigação da Corregedoria aponta que houve fraude processual, omissão de socorro e abuso de autoridade
Rio - Familiares e amigos do adolescente, de 13 anos, morto na Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio, no último dia 7, receberam a notícia do indiciamento de quatro policiais militares como o primeiro passo de uma longa investigação. Segundo a denúncia, agentes vão responder por fraude processual, omissão de socorro e abuso de autoridade.
Diogo Flausino, pai do menino, afirma que ainda existem muitas perguntas sem respostas. "Foi um passo que a gente deu, mas não estamos satisfeitos porque ainda tem muita coisa pela frente. A gente ainda espera muitas respostas e a punição de todos os policiais envolvidos", ressaltou ao DIA.
Após a morte do adolescente, a família iniciou uma investigação paralela com o intuito de conseguir testemunhas e provas que desmentissem a história apresentada pela polícia, de que dois homens teriam atirado contra a guarnição. "Foi um trabalho em conjunto com a ajuda de amigos e comerciantes. A nossa vida parou e ninguém voltou ao trabalho. A gente insistiu na verdade que sabíamos e graças a Deus, conseguimos provar a inocência dele", disse o tio do menino, Hamilton Menezes.
Para os familiares, a luta ainda continua para provar que o adolescente foi vítima de uma execução. "Não vamos parar, estamos na luta ainda e queremos respostas. Por que os policiais estavam em um carro descaracterizado? Qual foi o motivo disso tudo? Quem é o mandante? Faltam muitas respostas", afirmou o pai do jovem.
A investigação da corregedoria confirmou a denúncia dos familiares de que os policiais estavam em um carro descaracterizado. Na ação, os agentes também usaram drones de propriedade particular, omitiram socorro e fraudaram a cena do crime. Na decisão, a Corregedoria da PM destacou que, se os policiais ficassem soltos, eles seriam capazes de apagar evidências do crime e pressionar testemunhas.
Segundo familiares e amigos, o adolescente era bondoso, com muitos sonhos e talentos. “A cada passo que a gente dá em casa e no quintal, a gente lembra dele. Era um garoto nota 10, alegre, cheio de amigos, gostava de cantar e tinha o sonho de ser jogador de futebol. Essa é a memória que a gente quer ter dele e não a memória que os policiais queriam manchar", afirmou o pai do adolescente.
"Ninguém vai trazer meu filho de volta. A gente vai continuar lutando pela justiça para que não aconteça com outras famílias e que as pessoa que fizeram isso não fiquem impune porque isso tem que acabar", disse a mãe do menino, Priscila Menezes.
Todo o material recolhido durante a investigação da Corregedoria já foi entregue ao Ministério Público Militar (MPM). A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) segue investigando o caso.
Policiais indiciados
Os policiais Diego Pereira Leal, Aslan Wagner Ribeiro de Faria, Silvio Gomes dos Santos e Roni Cordeiro de Lima são cabos do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq), uma das forças de elite da corporação. Eles estão afastados preventivamente de suas funções desde o crime.
Ainda de acordo com a Corregedoria, os agentes tentaram incluir uma arma de fogo na cena do crime. Na época, a corporação divulgou, em suas redes sociais, que uma arma foi encontrada com o adolescente, considerado suspeito. A postagem foi apagada após ação judicial realizada pela Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DPRJ).
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