Camisa com a foto do mototaxista com os dizeres: 'Mototáxi não é bandido. Justiça para o Diego Felipe'Pedro Ivo / Agência O Dia

Rio - Dois dias após ter a liberdade concedida, o mototaxista Felipe Oliveira dos Santos, de 35 anos, afirmou, nesta sexta-feira (15), se sentir livre e aliviado. A família de Diego tenta provar sua inocência desde quando ele foi detido em uma blitz da Polícia Militar, no dia 26 de julho, na Penha Circular, Zona Norte do Rio, transportando um adolescente com armas e drogas.
"Só de saber que posso andar e ser livre, coisa que não dá lá dentro, me sinto aliviado. Eu só ficava pensando na minha família e como estavam as coisas aqui do lado de fora. Eu fiquei preso sendo inocente e trabalhador, de carteira assinada, como mototaxista e motorista de aplicativo, mas pela minha cor e por morar em comunidade, me incriminaram. Não é porque a gente mora na comunidade, que é bandido", ressaltou Diego em entrevista ao DIA.

No dia da prisão, o mototaxista foi abordado em uma blitz do 16º BPM (Olaria) quando transportava um passageiro de 17 anos para o Complexo da Penha, também na Zona Norte. Na mochila do adolescente, os policiais militares encontraram um fuzil, drogas, munições e roupa camuflada. Diego foi preso em flagrante e o jovem, apreendido e liberado em seguida. Depois de ser encaminhado para o sistema prisional, Diego passou por audiência de custódia e sua prisão foi convertida em preventiva.
Diego alega que chegou a perguntar para o adolescente se ele estava levando algo ilícito na mochila, no entanto, o jovem negou. “Eu peguei ele no ponto de mototáxi na Nova Holanda, eu nunca tinha visto ele, e cheguei a perguntar se tinha alguma coisa errada. Na Penha, fui parado pela polícia e jamais ia imaginar que ele tinha uma arma na bolsa. Quando eu vi que algemaram ele, desci da moto e deitei no chão com a mão na cabeça. Eles nos colocaram na viatura e levaram para a delegacia", contou.

Na delegacia, segundo o mototaxista, o adolescente o acusou e alegou que o material encontrado na mochila era dele. Diego disse, ainda, que em sede policial pediu ao delegado responsável pelo caso para checar seu telefone e de, alguma forma, tentar provar que não era envolvido com o crime organizado. No entanto, segundo Diego, a autoridade policial afirmou que "ele deveria provar sua causa na Justiça". 
Sua mulher, Tatiane Coelho, só descobriu seu paradeiro após percorrer diversos hospitais e delegacias do Rio. Quando o localizaram, dois dias depois, ele já havia sido transferido para o presídio Tiago Teles de Castro Domingues, em São Gonçalo, na Região Metropolitana. À época, a família recebeu apoio da Comissão Especial de Combate ao Racismo (Cecor) da Câmara do Rio e pela Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Assembleia Legislativa (Alerj).
Diego é mensageiro do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, no Fundão, há 15 anos, levando exames e conduzindo pacientes para a realização deles, além de ser mototaxista há dez e trabalhar há três como motorista de aplicativo. "Gente de comunidade é trabalhador também, tem comunidade com médico, enfermeiro e advogado. Eu sempre lutei e trabalhei muito na vida, abdico de estar com a minha família para trabalhar. E eu falo isso para os meus filhos porque eu não quero no futuro ter que ir na porta de presídio visitar ninguém. Nenhum pai de família quer isso", relatou.

O mototaxista conta que no presídio, onde ficou 49 dias, passou os piores dias de sua vida. "Passei o pior Dia dos Pais da minha vida, meu pior aniversário, era muita tristeza, me senti humilhado. Eu não conseguia dormir, ficava 24h em um cubículo com vários homens, sem poder fazer nada", afirmou.
Na quarta-feira (13), a Justiça do Rio decretou a soltura de Diego. Em sua decisão, a juíza Daniela Barbosa Assumpção de Souza, da 23ª Vara Criminal da Comarca da Capital, entendeu que "não mais subsistem os motivos ensejadores da prisão preventiva do réu" e substituiu a prisão por medidas cautelares. 

Quando recebeu a notícia do alvará de soltura, o mototaxista decidiu fazer uma surpresa e não contar a novidade para os familiares, no entanto, dentro do ônibus encontrou uma conhecida da mãe. No reencontro, parentes e amigos abraçaram Diego em meio a muitas lágrimas de alegria. Os filhos do mototaxista também foram ao local para reencontrar o pai. Todos usavam camisas com a foto do motociclista com os dizeres: 'Mototáxi não é bandido. Justiça para o Diego Felipe'.
De acordo com a mulher do mototaxista, familiares ainda estão muito abalados e continuam a luta para provar a inocência de Diego. "Ainda não teve julgamento, ele está respondendo em liberdade. Então, ele ainda tem ficha criminal, não sei se a qualquer momento vão querer botar ele lá dentro de novo. Vamos continuar lutando pra provar a inocência dele porque vai depender do juiz. O que a gente espera é que isso seja reparado logo", ressaltou Tatiane. 
Após a soltura, Diego passou a ser obrigado a comparecer a cada dois meses em juízo para informar e justificar suas atividades, bem como a estar presente em todos os atos do processo.