Silvia Martins, de 40 anos, morreu após sofrer complicações de uma lipoaspiraçãoReprodução / Redes sociais

Rio - A médica Geysa Leal Corrêa usou as redes sociais, nesta segunda-feira (25), para se defender das acusações referentes à morte da advogada Silvia de Oliveira Martins, de 40 anos, que aconteceu depois de uma lipoaspiração realizada em uma clínica nas Laranjeiras, Zona Sul do Rio, no dia 17 deste mês. 
Familiares da advogada alegam que Geysa é a responsável pela morte após o procedimento e, por isso, fizeram um boletim de ocorrência contra a cirurgiã na 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes), na quarta-feira passada (20), para dar início à investigação sobre o caso.
Silvia Olly, como era chamada pelos amigos, deu entrada na clínica para fazer a lipoaspiração no dia 15 deste mês. Na manhã do dia 16, a mulher recebeu alta, voltou para casa, mas começou a sentir fortes dores. Por volta das 14h30, a advogada foi para o Hospital Oeste d'Or, em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, onde ficou internada até às 6h56 de domingo (17), quando teve a morte confirmada.
Em sua defesa, Geysa alegou que a morte de Silvia foi um "fato médico" e não tem relação direta com a cirurgia em si. Segundo a médica, a lipoaspiração ocorreu sem intercorrência e a paciente recebeu acompanhamento até depois do procedimento.
"Muitas pessoas estão pedindo a minha versão. Não existe versão. O fato ocorrido foi claro. Foi realizada a lipo com toda segurança, como deve ser, sem intercorrências. Eu falei com ela a última vez está fazendo uma semana exatamente. Ela estava rindo, sem dor, sem queixa nenhuma. Teve alta normalmente no dia seguinte. Sinais vitais normais. Horas depois, ela apresentou um quadro de embolia pulmonar. Foi hospitalizada e até por volta das 23h ela estava estável. Eu só não fui lá porque era muito longe, à noite e não dependia do meu atendimento. Ela estava em um dos melhores hospitais, com especialistas no assunto. Ela teve uma complicação neste tratamento, que é o choque hemorrágico. Esse é o fato. É um fato médico. Não tem versão, não tem interpretação. O que tem versão, me desculpe, é fofoca. É disse me disse. Isso não. São fatos comprovados em exames, em todas as formas possíveis de serem comprovadas", destacou.
A médica disse que estava indo em direção ao hospital quando recebeu a notícia do falecimento de Silvia. Geysa rebateu as críticas que vem recebendo sobre a morte dizendo que a mulher era uma advogada de sucesso e sabia dos riscos que o procedimento poderia causar. A cirurgiã ainda destacou que foram realizados exames pré-operatórios antes da lipoaspiração para saber se a lipo poderia ser realizada.
"Quem me acompanha sabe como eu sou rigorosa com exames. Eu penso em adiar a cirurgia porque o exame não está do jeito que eu quero. Mas quem não me conhece, ok, eu entendo tudo isso. É um amor e uma falta que a Silvia vai fazer, e está fazendo, incomparável, mas não é justo me atacar porque cada vez que vocês me atacam nesse sentido vocês estão atacando a capacidade dela de discernir o certo e o errado. Era uma pessoa tão espetacular. Falaram também que os exames pré-operatórios estariam alterados. Mais uma vez: vocês acham que ela aceitaria fazer uma cirurgia assim? Nesse caso, para esclarecimento, os exames pré-operatórios são vistos por, no mínimo, três médicos. Eu, o anestesista e o cardiologista, que é quem faz o laudo do risco cirúrgico. Aí vocês vão falar que eu encobri alguma coisa e que o anestesista também porque é da minha equipe, mas o cardiologista tá o nome dele ali. O risco cirúrgico estava perfeito e muito bem feito por sinal. Então, questionem isso", destacou.
Condenação por outro procedimento
Geysa Leal Corrêa foi condenada em 2022 a dois anos de prisão pelo homicídio culposo pela morte da pedagoga Adriana Ferreira Capitão Pinto, de 41 anos, ocorrida em 2018, após uma lipoaspiração feita em uma clínica em Niterói, na Região Metropolitana do Rio.
Segundo a denúncia do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), a médica, que possuía especialidade em otorrinolaringologia na época, "deixou de observar o dever objetivo de cuidado que lhe era exigível e, agindo com inobservância das regras técnicas de profissão, com manifesta imperícia e negligência, deu causa à morte de Adriana".
Em 2022, a juíza Juliana Bessa Ferraz Krykhtine condenou a médica a dois anos de prisão, mas substituiu a sua detenção com duas penas restritivas de direito, sendo uma com prestação de serviços à comunidade de uma hora por dia de condenação, e outra pelo pagamento de um salário-mínimo vigente à época da morte. A médica ainda pode recorrer junto ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Em relação a esse processo, Geysa se justificou dizendo que Silvia sabia do que tinha acontecido porque ela era uma advogada renomada e com experiência. Inclusive, a médica revelou que já até tirou dúvidas na parte jurídica com ela.
"Eu venho aqui questionar vocês em algumas coisas sobre os absurdos que estão me atacando, que ao meu ver estão ofendendo a memória e a capacidade intelectual da Silvia, que era uma excelente advogada. Uma advogada brilhante, de muito sucesso. Vocês acham que ela não sabia dos meus processos? Sinceramente, vocês acham que ela nunca leu, que ela não estudou caso a caso, vocês realmente acham isso? Com certeza, vocês conheciam ela muito melhor do que eu. Nós nos conhecemos desde 2019, quando eu fiz o primeiro procedimento nela. Desde então, volta e meia a gente se falava. Fizemos o segundo em 2020 e o último agora, mas por vários momentos nós conversávamos. Não éramos grandes amigas, mas tínhamos uma relação muito bonita de respeito, admiração e confiança mútuas. Por várias vezes eu tirei dúvidas na parte jurídica com ela. Então, eu pergunto, vocês sinceramente acham que ela não leu isso?", questionou.
Investigação
Antes de registrar o caso na 42ª DP, Pedro Cayo Costa, filho da advogada, explicou que a família resolveu denunciar a médica porque quer Justiça pelo o que aconteceu, além de poder saber mais detalhes do ocorrido.
"A minha família só quer Justiça por tudo que aconteceu. A gente não sabe o caso concreto de tudo, mas a minha mãe chegou em casa bem e fez a cirurgia bem. Nesse momento, só queremos Justiça mesmo. Saber sobre o caso e de início é isso", explicou.
A empresária Camila Antoni, irmã da advogada, que a acompanhou até a clínica para fazer a cirurgia, destacou que elas não sabiam que a lipoaspiração seria realizada no local, já que havia um aviso que os procedimentos eram realizados em um hospital.
"Quando a gente chega lá, você vê um consultório bacana. Tem escrito lá que vai ser feito no hospital e é cobrado o valor. Acontece que, quando você chega lá, você já fez os exames, já pagou, tem hospital do lado, te dão o endereço, você já fez tudo, mas dizem que vai ser na clínica porque tem todos os equipamentos que tem no hospital. Então, a gente acredita que é o melhor. Eu acredito que a Sílvia não teria feito se não acreditasse que era o melhor", explicou.
Depois que sua irmã morreu, Camila soube que Geysa já havia sido condenada pela morte de uma mulher em decorrência de uma outra lipoaspiração. Por isso, a família resolveu levar o caso adiante e registrar uma queixa contra a médica.
"Na verdade, ela não deveria estar exercendo porque ela já tem mortes. Ela tem um monte de coisa. A pergunta que eu me faço é: por que ela está exercendo, se ela já foi condenada? Isso que eu queria entender. Por que?', finalizou.
A declaração de óbito de Sílvia indicou que a causa da morte foi um "choque hemorrágico, devido a um tromboembolismo pulmonar, em razão de lipoaspiração recente". A advogada foi sepultada na tarde desta segunda-feira (18), no Cemitério Jardim da Saudade, em Paciência, na Zona Oeste do Rio.
O caso atualmente está sendo investigado pela 9ª DP (Catete). Questionada sobre a investigação, a Polícia Civil ainda não respondeu. O espaço está aberto para manifestação.
Além da investigação, o Conselho Regional de Medicina (Cremerj) abriu uma sindicância contra Geysa. Caso as suspeitas de irregularidades sejam confirmadas, será aberto um processo ético-profissional contra a médica.