Maria Mariá, de 21 anos, denuncia ter sido vítima de racismos e comentários misóginos nas redes sociaisReprodução/Redes sociais

Rio - A rainha de bateria da escola de samba Imperatriz Leopoldinense, Maria Mariá, de 21 anos, foi alvo de comentários racistas e misóginos em um vídeo onde ela aparece sambando na semifinal de samba-enredo para o Carnaval 2024, na última sexta-feira (24). Nas mensagens, perfis fizeram comentários de forma pejorativa sobre o cabelo trançado de Maria Mariá e também dispararam mensagens agressivas contra a mesma.
Nas imagens, publicadas no perfil do site Carnavalesco, a rainha aparece sambando na frente da bateria e, ao girar, o cabelo passa perto de uma das ritmistas da escola. "O ângulo não foi favorável e, como estou com tranças longas, quando eu girava parecia que pegava no rosto da ritmista. Isso não aconteceu, foi uma ilusão. Mas, como na internet tudo vira faísca para um incêndio, começaram a comentar e repostar com comentários racistas e misóginos", conta Maria Mariá. 
Veja as imagens:
"Por isso não tem cabelo de verdade. Deus não dá asa a cobra"; "Incrível como essas meninas adoram jogar esses cabelos de boneca velha na cara dos outros. Dou logo um arrancão"; "Se eu fosse a do chocalho eu acendia um isqueiro na trança dela que ela não ia nem ver de onde veio o fogo"; "Ou eu puxava essas tranças feia ou ela ia conhecer o som do chocalho"; "Mandava logo tomar no c* e jogava o chocalho na cara dela e ainda dava uma banda nessa filha da p*". Essas foram algumas das dezenas de mensagens publicadas na rede social X, antigo Twitter. 
Ao tomar conhecimento dos fatos, Maria Mariá foi à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), na tarde desta terça-feira (26), mas a especializada já havia encerrado o expediente. A rainha disse que vai retornar à unidade na quarta-feira (27) para formalizar a denúncia. 
Ao DIA, ela contou que reuniu prints com os comentários de teor racista e misógino para anexar junto ao boletim de ocorrência. "Tomou proporções que precisam de medidas mais além", disse.
Maria Mariá também publicou um texto em sua rede social onde afirma estar bem, mas o que a preocupa e entristece são as ameaças de agressão. "O pensamento é muito poderoso, principalmente quando se tem a intenção de ferir o próximo. Espero verdadeiramente que meu posicionamento fortaleça cada um de vocês! Somos e seremos sempre coletivos. O racismo é vertiginoso na nossa sociedade, infelizmente. Seguirei sendo o meu melhor por nós! Ainda que cansada, sei a representação que carrego. Estou rodeada de amor e carinho. Cara gente branca, isso é só o começo", escreveu.
Na tarde desta terça-feira (26), a escola de samba Imperatriz Leopoldinense também reagiu ao ocorrido e afirmou que vai dará suporte à rainha de bateria, disponibilizando advogados para que a justiça seja feita. "A luta para exorcizar este modo criminoso de agir e pensar é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e democrática. A Imperatriz e Maria Mariá, através de seus advogados, tomarão as medidas cabíveis contra os agressores. Racistas não passarão", disse. Leia a nota na íntegra ao final da matéria.
Quem é Maria Mariá
Maria Mariá se tornou a mais jovem rainha de bateria da história da Imperatriz Leopoldinense, com apenas 21 anos, no ano passado. Moradora do Complexo do Alemão e estudante de comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a ex-passista substituiu a cantora Iza no Carnaval de 2023.
Em sua estreia no posto de rainha de bateria, a escola de samba conquistou o título do Grupo Especial do Carnaval carioca. Comandada pelo carnavalesco Leandro Vieira, a agremiação de Ramos ganhou a disputa depois de 22 anos de jejum.
Leia a nota de repúdio da Imperatriz Leopoldinense na íntegra:
"O G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense manifesta, publicamente, repúdio aos recentes ataques racistas sofridos pela nossa Rainha, Maria Mariá. O conhecimento e a luta contra qualquer forma de racismo, seja ele individual, estrutural, institucional ou ambiental, são pautas urgentes. Como característica singular, a humanidade nos une através da pluraridade. O Carnaval, por si só, une os povos em festa, amor e empatia.

A luta para exorcizar este modo CRIMINOSO de agir e pensar é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e democrática. A Imperatriz e Maria Mariá, através de seus advogados, tomarão as medidas cabíveis contra os agressores. Racistas não passarão!".