Diego Bomfim, Marcos Corsato e Perseu Almeida morreram, e Daniel Proença foi levado ao hospitalReprodução / Redes sociais

Rio - Para o coronel da reserva Robson Rodrigues, do Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e ex-chefe do comando da PM, o momento é de recolher provas e abrir o leque de investigação no caso da execução de três médicos na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, na madrugada desta quinta-feira (5).

O caso ganhou repercussão nacional e atenção de autoridades. Uma das vítimas fatais é irmão da parlamentar Sâmia Bomfim e cunhado do deputado federal Glauber Braga.

"No início de uma investigação é difícil apontar uma linha. É cedo para apostar as fichas em uma única hipótese. Cada uma delas deve ser cuidadosamente avaliada. Esse leque vai diminuindo de acordo com a qualidade das informações investigadas. É cedo para apostar fichas em única hipótese ou rejeitar qualquer tipo de hipótese. O tempo agora é de abrir o leque", afirmou Rodrigues.

Antes de descartar ou agarrar-se a uma linha de investigação, as equipes devem sair a campo para colher provas, explicou o especialista. "Todas as hipóteses são bem-vindas. Nos primeiros momentos, você tem mais chance de colher provas. Tem agilidade. Não quer dizer que tenha descoberto logo a motivação do crime".

Rodrigues exemplifica que é necessário colher mais imagens, verificar o trajeto realizado pelo veículo e encontrar o mais rapidamente possível o carro usado no crime. "Tem trabalho para muita gente. O esforço é de enviar meios para que as equipes possam trabalhar o mais rapidamente possível", resumiu.
O advogado criminalista Berlinque Cantelmo, sócio do Cantelmo Advogados Associados, afirma que não é possível afirmar preliminarmente que o caso tenha se tratado de um crime político, mas analisa que a movimentação dos criminosos nas imagens demonstra treinamento especializado.

"Trata-se de uma ação bem arquitetada com modus Operandi bem articulado, onde é possível inclusive detectar passada de avanço, progressão tática e empunhadura de assalto, enfim todas as características de pessoas altamente treinadas para cometimento de determinado delito nesse sentido ou até mesmo treinadas para exercer algum tipo de atividade de segurança pública ou privada", considerou. "Obviamente que num juízo superficial nós não podemos afirmar tratar-se de agentes públicos policiais, porém de uma análise técnica nós conseguimos extrair todas essas indumentárias que fazem parte de uma progressão tática profissional", completou.

Nesta quinta-feira, o ministro da Justiça, Flávio Dino, determinou que a Polícia Federal auxiliasse nas investigações. O mesmo foi feito pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, em relação à Polícia Civil de SP, que enviou equipes ao Rio.

O advogado especialista em Direito Criminal Thuan Gritz, sócio do Sade & Gritz Advogados, explica que a investigação por crime de homicídio, em regra, se dá perante as autoridades policiais do próprio estado onde o delito aconteceu. É possível, contudo, que haja colaboração entre polícias de mais de um estado em caso de crimes interestaduais ou envolvendo, como neste caso, pessoas oriundas de estado diverso.

"Ainda que fosse o ideal para a resolução da maior gama de casos possíveis – a movimentação de diversas autoridades (Polícia Civil de mais de um Estado, Polícia Federal, bem como determinações de órgãos do governo federal – como ministérios) não é algo que acontece corriqueiramente, mesmo que seja algo positivo na prática, especialmente para uma satisfação à família das vítimas", avaliou Thuan Gritz. "No caso, talvez por envolver pessoas importantes ou por se tratar de algo que já seja objeto de uma investigação maior (os motivos são desconhecidos, por ora), o envolvimento de várias autoridades durante a investigação pode estar acontecendo não porque a lei obriga tal participação direta, mas porque a cooperação e a mobilização transparecem uma satisfação por parte das Autoridades frente a esta atrocidade que aconteceu, seja para o público, seja para os familiares das vítimas, alguns deles relevantes no cenário político nacional", acrescentou Gritz. 

Para o coronel Robson Rodrigues, a investigação corre o curso normal e o apoio da PF transparece a aproximação entre o Governo do Estado do Rio e o Governo Federal. "A princípio é um crime comum, então é de competência da Polícia Civil do Rio. O fato da PF estar se colocando à disposição reflete a aproximação do governador Cláudio Castro com o Governado Federal", ponderou. "Imagens já foram recolhidas. É provável que munições tenham sido recolhidas, tem imagem do carro, dos rostos, isso tudo forma um mosaico de informações que precisa ser montado", concluiu.

Representantes das polícias Civil, Militar e Federal e a promotoria do Ministério Público do Rio de Janeiro se reuniram na manhã desta quinta-feira (5) em um pronunciamento, realizado na Delegacia de Homicídios da Capital, para falar sobre a execução de três médicos na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. O secretário José Renato disse que conversou com o governador Cláudio Castro e com o Ministro da Justiça, Flávio Dino, ainda durante a madrugada e, juntos, optaram pela integração das forças para uma melhor resolução do crime.
Os familiares dos médicos executados estiveram no Instituto Médico Legal (IML), no Centro do Rio, para fazer a liberação dos corpos na tarde desta quinta-feira (5). Acompanhados de uma advogada, os deputados estaduais Flavio Serafini e Professor Josemar, ambos do Psol, estavam na posse de uma procuração para cuidar dos trâmites envolvendo Diego Bomfim, irmão da deputada federal Sâmia Bonfim (Psol).