Pesquisa revela as condições de segurança alimentar nas favelas do Complexo do Alemão William West / AFP
A pesquisa, realizada de 2019 a 2023, revela as condições de segurança alimentar nas 13 favelas que compõem o complexo. De acordo com os dados, 80% dos moradores convivem com algum nível de insegurança alimentar. Desses, 53% estão em situação grave.
Um dos gráficos mostra, ainda, que mais de 70% dos entrevistados tiveram alimentação insuficiente causada pela falta de dinheiro para comprar alimentos variados e saudáveis. Além disso, 40,3% dos moradores diminuíram a quantidade de alimentos ou pularam refeições por não ter condições de comprar comida.
O levantamento aponta também que 11% dos moradores declararam que seus filhos já ficaram um dia inteiro sem comer porque não havia dinheiro para adquirir os alimentos. Desses, 33% ficaram nessa situação por quase um ano e 51% ficaram alguns meses.
De acordo com a diretora de pesquisa do Ibase, Rita Brandão, a falta de alimentação prejudica o desenvolvimento cognitivo dessas crianças. "De 0 a 6 anos é o período de maior desenvolvimento cognitivo das crianças e isso está diretamente ligado ao aprendizado, ao desempenho escolar e às possibilidades futuras. Quando a gente vulnerabiliza as crianças a ponto de não terem o que comer, a gente está condenando toda uma geração futura a ter baixo desemprego e baixa escolaridade. Então, a alimentação está diretamente ligada ao desenvolvimento cognitivo das crianças e por isso, ela é tão importante nessa faixa etária", explicou.
Pesquisas como essa foram realizadas também em outras comunidades do Rio e da Baixada Fluminense. Segundo a diretora de pesquisa do Ibase, os dados serão divulgados em breve. "Pesquisas como a nossa são fundamentais para que as políticas públicas possam ser retomadas e as pessoas parem de passar fome. Nós estamos há 13 anos sem um censo demográfico e nos últimas três anos tivemos descontinuidade de várias pesquisas importantes nas quais as políticas públicas são pautadas", ressaltou Rita.
Para ele, a desigualdade social é uma das características mais fortes do Rio. "O Brasil tem muitos lugares com essa característica, bairros pobres ao lado de bairros ricos e isso é um processo de desigualdade social, essa pesquisa é um microcosmo do que acontece no Brasil como um todo. E o Rio é um dos municípios que tem muito dessa mistura de bairros pobres e ricos próximos", explicou.
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