Cícero Ferreira, de 48 anos, lamentou os prejuízos sofridosReginaldo Pimenta

Rio - Moradores da Rua Carobinha, em Campo Grande, na Zona Oeste, onde aconteceu o rompimento de uma adutora nesta quinta-feira (30) ainda contabilizam os prejuízos causados após a água invadir suas casas. Segundo o Rio+Saneamento, ao todo, 12 residências e 8 lojas foram atingidas. Para os moradores, o incidente há menos de um mês das festas de fim de ano trouxe uma sensação de impotência.

Durante a manhã desta sexta-feira (1º) equipes da concessionária atuam na região, na altura da Rua Clarinia. O vazamento de água foi contido imediatamente e os reparos já estão sendo realizados. Equipes da Comlurb também trabalham na limpeza das vias, enquanto os moradores tentam se reerguer em meio aos prejuízos.

O morador Cícero Ferreira dos Santos, de 48 anos, que está desempregado e tenta sobreviver com "bicos" lamentou a perda dos móveis e de R$ 700 em compras. "Deu mais de 50 cm de água aqui dentro de casa, perdi televisão, jogo de sofá, geladeira, cama box, mais de R$ 700 de compra, não ficou nada. Eu estava trabalhando, minha mulher me ligou e eu vim as carreiras pra cá. Minha mulher também não estava em casa, mas só deu tempo dela abrir a porta e a água já tava na cintura. Só deu tempo de salvar documento e alguns pertences, o resto não deu pra salvar nada", lamentou.

Cícero contou ainda que está desolado, sem saber o que fazer. "O que eu tenho aqui é só 1 kg de feijão e a metade de 5kg de arroz, mais nada. Eu vivo de biscate, e até isso tá ruim de fazer. Eu ia ver se arrumava biscate hoje mas nem isso eu posso fazer, ainda estou desorientado, não estou com cabeça pra nada, foi tudo perdido", explicou.

O morador também falou sobre a limpeza da casa e que sua mulher não para de chorar ao ver o estrago. "O fedor de lama podre que está dentro de casa que ninguém aguenta. Final do ano, a gente está desempregado e acontece isso. As compras que tinham foram tudo pro mato, não prestou nada. O Rio+Saneamento teve aqui ontem, tirou dois caminhões de água aqui em casa e ajudou a limpar, mas aquela lama preta minha mulher tá limpando ainda. Poxa, acho que vou ter que levar ela no médico, porque ela tá chorando o tempo todo. A gente já é pobre, não tem nada e perdemos tudo", afirmou.

Outro morador, o encanador industrial Antonio Marcolino, 41 anos, também lamentou a perda dos móveis da casa. "Eu estava trabalhando, minha mulher estava em casa e foi difícil. Não deu tempo de tirar nada que estava no chão, na altura dos móveis, e perdemos tudo, sofá, duas geladeiras, máquina de lavar, som, tudo! Foi muito rápido, ela estava com minha filha na hora", contou.

A moradora Verônica Roque, de 44 anos, foi outra que perdeu boa parte dos utensílios de casa. Ela conta que ainda tentou salvar duas camas e um sofá para ter onde dormir e sentar.

"Aqui deu perda total, molhou tudo, alguns móveis a gente ainda deixou dentro de casa, porque não temos como sair pra comprar. Ainda não fomos ressarcidos em nada, então não posso pegar e botar fora sem que a gente possa comprar outro. Mas muita coisa já foi pro lixo, tínhamos dois sofás retráteis, um a gente deixou, as duas camas de casal, a minha e do meu filho também, como não molhou em cima, só embaixo e em volta, a gente deixou pra gente poder dormir. O guarda roupa da minha filha está todo estufado, mas limpamos até a gente tentar se reerguer mais pra frente", disse.

Verônica também comentou sobre o incidente ter acontecido bem no fim do ano, onde a família se esforçava para conseguir reformar a casa. "Final do ano, um esforço danado pra gente comprar uma tinta pra casa e acontece uma coisa dessa, uma tristeza! Eu estava em casa com minha cachorra, quando eu vi aquela enxurrada entrar eu fiquei muito apavorada, me tremia dos pés a cabeça e não tinha o que fazer, era deixar a água entrar e pedir a Deus pra mandar um milagre", desabafou.

O presidente da Associação da Carobinha, Sandro Soares, 54 anos, disse ainda que o rompimento da adutora trouxe um caos para o bairro.

"Tem muitas famílias que perderam tudo, e nessa época de Natal, pessoas com 13º salário compararam móveis novos e perderam também, mas não tivemos vítimas fatais, só psicologicamente que as pessoas ficaram abaladas. Teve gente acordada até as 6h tentando limpar as coisas, e tá todo mundo apreensivo sem saber o que fazer. Fora as lojas também perderam tudo. Foram 11 casas que ficaram em estado deplorável e nove lojas", contou.

De acordo com a Rio+Saneamento todos os imóveis já foram limpos. A concessionária fez o cadastro dos moradores impactados e o levantamento dos danos causados para ressarcimento. A equipe do núcleo de Responsabilidade Social e Relacionamento com Comunidades da Rio+Saneamento segue no local para atendimento da população.

O abastecimento na região próxima à Rua Carobinha não foi afetado. No entanto, parte do bairro de Campo Grande e outros nove bairros da Zona Oeste já estavam com o fornecimento reduzido, desde a última terça-feira (28), devido ao reparo em adutora que vinha sendo realizado pela concessionária Águas do Rio, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
Segundo a empresa, o trabalho se concentra na escavação para a substituição do trecho que se rompeu.

Em função do serviço, o fornecimento de água está impactado nos bairros: Santíssimo (parte), Campo Grande (parte), Senador Camará, Vila Aliança, Bangu, Jabour, Realengo, Padre Miguel (parte), Campo dos Afonsos e Jardim Sulacap.  O fornecimento nestas localidades será restabelecido de forma gradual após o término do reparo.

Em caso de dúvidas, os moradores das localidades afetadas podem contar com os canais de atendimento da concessionária: o telefone 0800 772 1025, que oferece a possibilidade de envio de mensagem via WhatsApp e o site riomaissaneamento.com.br.