Mônica Benício e Ágatha Arnaus, viúvas de Marielle e Anderson, falam sobre prisões deste domingo (24)Renan Areias

Rio - Mônica Benício e Ágahta Arnaus, viúvas de Marielle Franco e Anderson Gomes, respectivamente, estiveram na sede da Superintendência da Polícia Federal, no Centro do Rio, na manhã deste domingo (24). Na saída, as duas conversaram com a imprensa e falaram sobre a prisão dos acusados de mandar assassinar a vereadora e o motorista, em março de 2018.
"Foram seis anos e dez dias dessa espera. Se por um lado o nome da família Brazão não nos surpreende tanto, o nome de Rivaldo Barbosa sem dúvida nenhuma para nós foi uma grande surpresa. Em especial, considerando que ele foi a primeira autoridade que recebeu a família no dia seguinte, dizendo que seria uma prioridade da Polícia Civil a elucidação desse caso", iniciou Mônica.
"E hoje saber que um homem do qual nos abraçou, prestou solidariedade e sorriu dizendo que esse caso seria uma prioridade, tem envolvimento nesse mando, serve para nós entendermos que a Polícia Civil não foi só negligente, não foi só por uma falha que chegamos a seis anos de dor, mas em especial também por ter sido conivente com todo esse tempo de não elucidação do caso. Aos trancos e barrancos, foram seis anos e dez dias de muita dor, mas procurando força para encontrar e seguir de pé na luta por justiça. Sem dúvida nenhuma, hoje um passo importante para a democracia e para todo o Brasil. Mas há também, em algum lugar, o início de uma nova luta que a gente quer que todos sejam responsabilizados. Que todos sejam identificados e que a gente possa ter justiça por Marielle e Anderson", seguiu.
"Agora a gente tem um outro desdobramento nessa luta por justiça. E o que a gente quer não é que só os mandantes sejam identificados, mas todas as pessoas que tiveram algum tipo de envolvimento, seja em obstrução do caso como um todo, seja do manda execução. Que todas as pessoas que tiveram qualquer tipo de relação, qualquer tipo de envolvimento com assassinato de Marielle e Anderson, sejam responsabilizados ao rigor da lei pelo que fizeram", afirmou.
"Não há dúvida nenhuma que houve interferências. E elas não foram por incompetências, foram por cumplicidade, para que esse caso não chegasse a solução o mais rápido possível. Eu confesso que estou há seis anos e dez dias esperando essa resposta. Eu não cheguei a pensar o que seria esse momento. É importante, mas ainda não traz nenhum tipo de paz", revelou Mônica.
Muito emocionada, Ágatha Arnaus não segurou as lágrimas ao falar sobre a prisão dos acusados e, assim como Mônica, se mostrou surpresa com o nome de Rivaldo Barbosa. "Ver as pessoas que que participaram terem nos abraçado, beijado e prometido, falado, inclusive, que era amigo da Marielle, que tinha trabalhado junto, é um tapa na cara. É pisotear ainda mais. Você saber que que está envolvido e olhar no nosso olho e fazer promessas. É tão profundo e tão doloroso", disse.
"Vamos ver como as coisas ainda vão se desdobrar. Ainda faltam respostas. Falta muita gente. Não foram só os três. Nem nem os dois que estão presos. Tem mais gente que que colaborou, que que contribuiu de alguma forma. Falta muita coisa para a gente ter paz", afirmou Ágatha. "É um misto e é até difícil conseguir explicar o que eu sinto. Tem um quê de tá no caminho, de do alívio, mas ainda tem um peso, uma dor que não vai passar nunca. É desesperador ainda, mesmo com com com algumas respostas, ainda falta tanta coisa e parece que é tão perto e tão longe ao mesmo tempo. Parece que foi ontem, mas parece que está levando uma eternidade. Chega a ser incompreensível e difícil colocar em palavras", desabafou.
Mônica Benício falou ainda sobre a declaração do advogado de Domingos Brandão, que afirmou que o cliente não conhecia Marielle Franco. "Não é só do aspecto de vista de dor pessoal, uma declaração dessa feita por um personagem como esse, com o cargo que ocupa, é uma ofensa à democracia, a cada brasileiro que lutou junto com a gente por justiça, por Marielle e Anderson", afirmou.
Sobre Rivaldo, Mônica afirmou mais uma vez que se sentiu traída pelo ex-chefe de Polícia Civil do Rio. "Acho que não é só uma traição, mas um atentado à própria democracia. E o que, infelizmente, também revela muito do que é a política no Rio de Janeiro e não só a política no Rio de Janeiro, mas como o submundo dela se articula com a própria Polícia. A gente está falando de agentes extremamente corruptos, que colocam a democracia em risco, que fortalecem a milícia como um braço armado do próprio Estado, fazendo disso um instrumento de poder dentro desse país que precisa ser combatido", disse.