Mulher trans agredida em Cabo Frio revela problema em olho direito: 'Acordei quase perdendo a visão'
Ariela Nascimento, assessora da vereadora de Niterói Benny Briolly (Psol), contou que sua visão estava embaçada e teve que correr para um oftalmologista
Ariela Nascimento denunciou um caso de agressão e transfobia ocorrido em Cabo Frio - Reprodução
Ariela Nascimento denunciou um caso de agressão e transfobia ocorrido em Cabo FrioReprodução
Rio - Ariela Nascimento, assessora da vereadora de Niterói Benny Briolly (Psol), que denunciou ter sido alvo de agressão e transfobia em Cabo Frio, na Região dos Lagos, disse, em uma postagem em sua rede social, que acordou com o olho direito embaçado, "quase perdendo a visão", nesta terça-feira (7). Ela ainda citou que houve negligência por parte dos funcionários da unidade de saúde que a atenderam após as agressões.
Aos seguidores, a professora contou que tomou um susto ao acordar, pois estava com a visão embaçada e, por isso, teve que correr para um oftalmologista. Segundo Ariela, durante seu atendimento em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) ainda em Cabo Frio, não foram feitos exames ou raio-x em seu rosto, uma das áreas mais atingidas pelos agressores. A vítima ainda relatou que segue com medo de algo pior acontecer.
"Queria muito dizer para vocês que já estou bem e que tudo isso foi um susto, mas não é o caso. Acordei quase perdendo a visão e tendo que correr para um oftalmologista, pois o hospital que me atendeu, após eu ter sido violentada, foi negligente e não fez sequer um exame ou raio-x do meu rosto, que foi um dos lugares em que eu mais apanhei. Eu estou com muito medo. Eu não quero que a situação piore, mas realmente é o que está acontecendo. Continuem me lembrando que eu não estou sozinha e me apoiando por aqui como puder porque eu temo que algo pior aconteça, mas estou tentando ser forte. Estou tentando mesmo!", escreveu.
Nesta segunda-feira (6), Ariela foi ao Instituto Médico Legal (IML) de Araruama, na Região dos Lagos, para fazer exame de corpo de delito. Ela contou que as agressões estão atingido sua autoestima, pois é difícil disfarçar seus machucados. No mesmo dia, a mulher trans foi novamente à 126ª DP (Cabo Frio) para tentar reconhecer seus agressores.
"Meu namorado e eu fornecemos características detalhadas para ajudar na identificação rápida dos responsáveis por esse crime. Essas etapas são essenciais para o andamento da investigação e para que os culpados sejam responsabilizados por seus atos. E que isso sirva de exemplo para que nenhuma outra passe por isso", comentou.
Devido a brutalidade da situação, movimentos sociais, sindicatos e partidos que lutam contra a transfobia marcaram uma manifestação, para ser realizada na frente da Câmara Municipal de Niterói, às 18h desta quarta-feira (8), exigindo justiça.
Relembre o caso
Ariela denunciou que foi alvo de agressão e transfobia em um bar de Cabo Frio na madrugada de domingo (5). Ela estava acompanhada do namorado, um homem trans, teve um braço quebrado e ficou com diversos hematomas por causa da violência das agressões.
Nas redes sociais, a mulher fez um grande desabafo e relatou que os atos transfóbicos iniciaram enquanto ela e o namorado trocavam afeto e carinho. "Um homem cis começou a proferir comentários transfóbicos e violentos, o que nos deixou extremamente desconfortáveis e ameaçados. Quando decidimos sair e voltar para casa, fomos surpreendidos por um grupo de homens cis que me atacaram covardemente. Eles me agrediram com chutes e golpes de madeira, e meu namorado, Bruno, também foi ferido ao tentar me proteger", disse.
A vítima foi agredida por pelo menos cinco homens. "Fomos alvos de agressões brutais simplesmente por sermos quem somos: Pessoas trans", lamentou.
Após esse episódio, a assessora disse que foi a uma unidade de saúde em busca de ajuda, onde outro caso de transfobia teria acontecido. No local, seu namorado e outra mulher trans teriam sido agredidos por um segurança.
"Angel, que veio me dar suporte em conjunto com o Centro de Cidadania e a Superintendência do município, foi tratada com desrespeito e negligência pela equipe médica, que se recusou a fornecer as informações necessárias para que ela pudesse prestar queixa juntamente a mim e denunciar o ocorrido, e ainda foi agredida junto ao meu namorado por um segurança do hospital enquanto tentava encontrar meios de me ajudar a conseguir Justiça para situação toda", disse.
Procurada pelo O DIA no dia das agressões, a Prefeitura de Cabo Frio explicou que as vítimas de transfobia receberam todo o atendimento na UPA do Parque Burle e, em seguida, elas foram levadas para o Hospital Central de Emergência (HCE) pela Superintendência de Políticas Públicas LGBTI, em parceria com o Centro de Cidadania LGBT da Baixada Litorânea.
Após o registro do caso na delegacia, o município encaminhou o casal para sua residência, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, com apoio da Coordenadoria Geral de Direitos Humanos.
"A Superintendência LGBTI+ lamenta profundamente a violência sofrida pela mulher trans e seu marido, um homem trans negro, que estavam no bairro Manoel Corrêa, na madrugada deste domingo (5). Quanto ao caso de agressão no UPA Parque Burle, a instituição vai apurar o caso. Além disso, a Prefeitura tem trabalhado incansavelmente para extinguir casos de LGBTfobia em equipamentos públicos promovendo capacitações para os servidores", finalizou em nota.
A reportagem entrou em contato novamente com a prefeitura, nesta terça-feira (7), sobre a denúncia de negligência que Ariela citou nas redes sociais, mas ainda não teve resposta. O espaço está aberto para manifestação.
O caso foi registrado na 126ª DP (Cabo Frio) e, posteriormente, repassado para a Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Cabo Frio. Segundo a Polícia Civil, a investigação está em andamento para esclarecer todos os fatos.
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