Rio - Teve início, na manhã desta quinta-feira (9), o julgamento do casal Suelen da Conceição Almeida e Alan Ferreira da Silva, mãe e padrasto de Kauã Almeida Tavares, assassinado dentro de casa, em Itaboraí, na Região Metropolitana do Rio. O crime aconteceu no dia 17 de março de 2022. Suelen e Alan respondem por homicídio qualificado e fraude processual.
Ao todo, oito testemunhas foram intimadas para falar em juízo, nesta quinta-feira (9). Entre elas está o delegado Fábio Asty, à época titular da 74ª DP (Alcântara) e responsável pelas investigações. Após o interrogatório das testemunhas, será a vez dos réus falarem. Em seguida, começa a fase dos debates e, dependendo do júri, esse momento pode levar até sete horas.
Caso o juiz da sessão decida levar o júri direto, o julgamento pode terminar no início da madrugada ou pela manhã de sexta-feira (10).
De acordo com as investigações da Polícia Civil, o casal estrangulou Kauã e, para não levantar suspeitas do crime, forjou uma cena de suicídio. Os indiciados relataram em sede policial que no dia dos fatos teriam encontrado Kauã pendurado na janela do quarto do casal, preso pelo pescoço na alça de uma guia de cachorros, já com o rosto roxo e a língua para fora. Eles disseram ainda que tentaram reanimar a vítima e, como não tiveram sucesso, levaram ele para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) mais distante da região onde moravam.
No entanto, a versão foi descartada pelos investigadores, já que o laudo de necropsia concluiu que a criança morreu após ser vítima de "asfixia mecânica por esganadura, por meio de sufocação direta pela obstrução das vias aéreas".
"As marcas encontradas no pescoço não condizem com o enforcamento. Mas, sim, com uma esganadura praticada pelos dedos das mãos. Isso é uma prova técnica irrefutável que não houve enforcamento, não houve suicídio", afirmou o delegado Fábio Asty, na época titular da 74ª DP (Alcântara). Kauã morava na casa com a mãe, o padrasto e o irmão mais novo, de 3 anos.
Testemunhas afirmam que criança era agredida com frequência
Em depoimentos à Polícia Civil, testemunhas afirmaram que Kauã sofria agressões frequentes em casa. Uma professora do menino também alegou que ele reclamava de cansaço por ter que realizar tarefas domésticas.
"Ela [a professora] falou que ele fazia as coisas, tarefas dentro de casa: lavava louça, passava roupinha dele, cuidava do irmão e a mãe dele só dormia. Falou que ele era obrigado a fazer isso", disse Renata Silva da Conceição, avó de Kauã.
"Há relatos de testemunhas que, certa vez, Kauã foi violentado fisicamente pela mãe, levando uma surra com cabo de vassoura. Ele também sofria uma violência psicológica. Ele sofria essas violências físicas constantemente. A gente não tem dúvida de que essa morte aconteceu em razão deste tipo de destempero praticado pela Suelen e pelo padrasto Alan", contou o delegado Asty durante a fase das investigações.
Wesley Almeida, pai de Kauã, contou, em entrevista ao Bom Dia Rio, da TV Globo, que o filho vinha sendo ameaçado pela mãe desde o início de seu relacionamento com Alan. Ele é o pai dos dois filhos de Suelen. "Sobre a agressão dela [Suelen] contra o meu filho, eu já sabia. Fui casado com ela por quase dez anos, eu presenciei várias vezes, não só eu, como meu pai, minha mãe também. Para mim foi um choque muito grande, ainda está sendo. Ela estava com esse namorado dela [Alan] e estava comigo, e eu nem sabia, meu filho estava seno ameaçado por ela", contou, em meio às lágrimas, e completou.
"Meu filho era ameaçado por ele e por ela, mas não contava nada para mim quando pegava ele. Ele [Kauã] não me falava com medo de quando chegar em casa, que ele sabia que iria apanhar".
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