Biblioteca Parque da Rocinha C4 fica na Estrada da Gávea, número 454Reprodução/ Biblioteca Parque da Rocinha
Antes da seleção, houve um chamamento para que os produtores de cultura se cadastrassem no mapa, ampliando a base de dados da ferramenta. Os 50 projetos selecionados vão receber um cachê de R$700 pela participação.
"É difícil discutir cultura sem saber o que tem de cultura no seu território. A prefeitura e o Estado não têm esse mapeamento. Têm dos aparelhos públicos, mas não do território. O Viradão quer dar visibilidade às iniciativas que funcionam há muitos anos na Rocinha e também aos novos pontos de cultura", explica Michel Silva.
O diretor institucional do Fala Roça destaca que a Rocinha é um importante ponto turístico da cidade do Rio, mas a renda da atividade não se reverte para a cultura local. Para debater o assunto, o Viradão terá mesas sobre como o turismo pode contribuir para a cultura e como tornar as iniciativas mais acessíveis, promovendo a inclusão de pessoas com deficiência.
"O turismo na favela, historicamente, nasceu na Rocinha, mas não fomenta a cultura. Em vez de subir a Rocinha com carro de safari, o turismo tem um potencial muito grande de fortalecer os produtores culturais", pontua.
Um exemplo de trabalho com turismo de base comunitária é o Museu Sankofa da Rocinha, criado em 2008, a partir do Fórum Cultural da Rocinha de 2007. O museu surgiu com o objetivo de preservar a história e a memória da comunidade, assim como os "saberes e fazeres" de seus moradores, como explica o cofundador da instituição Antônio Carlos Firmino.
O Sankofa ainda não tem uma sede física, mas promove exposições itinerantes e rodas de conversas em equipamentos públicos e praças, apresentando o acervo para os moradores. São 19 mil documentos catalogados. "A Rocinha é o espaço museal. São os moradores que guardam suas histórias", afirma Firmino. A instituição realiza o museu de percurso, no qual leva grupos de estudantes, turistas e servidores locais como médicos para conhecer a história da comunidade.
"As organizações estão trazendo propostas diferentes o tempo todo. Uma delas nos falou que está se sentindo fortalecida. Estava quase parando, e o Viradão traz esse respiro. É algo que está motivando, sendo importante para que os pontos culturais tenham espaço e sejam de fato reconhecidos", acrescenta Monique.
O evento mobilizou, por exemplo, o coletivo Batalha de Moscow, lançado por Zé Negão em 2020. A batalha foi interrompida por conta da pandemia de covid-19 e ganhou novo fôlego com o evento. Apresentador da roda, Zé Negão conta que conseguiu uma caixa de som emprestada e retomou a batalha na última sexta-feira (21) na Cidade Nova, parte baixa da comunidade.
"São portas se abrindo pra cultura dentro da comunidade. Eu não estava muito focado na batalha. Queria voltar e não sabia como. Esse Viradão foi muito importante. Vai dar para mostrar as culturas que têm aqui dentro", afirma Zé Negão, que teve a ideia da batalha a partir da Roda Cultural da Rocinha, onde era MC.
Jal Amorim é um dos produtores do Movimento Sarau LGBTQIAP+, um curso que há três anos é oferecido para artistas LGBTs e para pessoas que querem se apresentar no movimento drag. Realizado na Biblioteca Parque da Rocinha, o sarau dá aulas de figurino, expressão teatral, maquiagem além de acesso à assistência social para seus alunos.
"No Viradão eu vou estar de Creuza Barbosa, sendo mestre de cerimônia, e fazendo show. Eu já vi o Viradão que tem em São Paulo. Como morador, quando soube que teria na Rocinha, fiquei em êxtase, além da oportunidade dos grupos da comunidade se mostrarem, os visitantes podem conhecer as pérolas que temos aqui e não são vistas", ressalta Jal, pernambucano e morador da Rocinha há dez anos.
A programação conta com teatro, dança, música, batalha de rimas, intervenção audiovisual, simulador de surf, debates, exposições de artes, grafites, fotografias, artesanatos, exibição de curtas e documentários. Para alimentação, haverá 30 barracas de comidas de empreendedores locais.
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