Familiares realizaram um protesto em frente a 17ªDP (São Cristóvão)Arquivo Pessoal

Rio - Familiares de funcionários presos em um escritório, por golpe em vendas de consórcios, realizaram um protesto na tarde deste domingo (4) em frente a 17ª DP (São Cristóvão) pedindo por Justiça. Segundo a denúncia, grande parte dos empregados tinha sido contratada recentemente e não tinha conhecimento sobre os crimes cometidos pela empresa. Ao todo, 22 pessoas foram detidas pela Polícia Civil no último dia 26.


Uma das presas, Marlene Castro, de 30 anos, trabalhava há 20 dias como vendedora. Mãe de uma adolescente de 13 anos, ela mora com a filha de aluguel no Jardim Bangu, na Zona Oeste. Segundo a melhor amiga, Dhanuza Tomas, 31, a família está devastada, já que a avó da vendedora, de quem ela era muito próxima, morreu dois dias depois da prisão.

"Na sexta-feira, quando ela foi detida, ela ia trocar de lugar com a mãe dela no hospital porque a avó estava internada, mas ela não apareceu, então procuramos. A avó morava com os pais, próximo dela, porque a mãe dela ficava com a filha para ela trabalhar. No domingo, quando saiu a sentença de que ela ia continuar presa, a avó faleceu e ela ficou sem saber. Não pôde nem ir ao enterro. A mãe dela está devastada, porque está lidando com uma mãe que morreu e com uma filha presa", lamentou.

Ainda de acordo com a amiga, a última vez que os familiares conseguiram ver Marlene foi no dia em que ela foi presa. Dhanuza reforça que a vendedora tinha sido contratada pela empresa por meio de oferta de vaga e estava trabalhando com objetivo de cumprir metas, sem fazer ideia de que se tratavam de golpes.

"A Marlene é uma pessoa supervaidosa e uma coisa que ela não saía de casa, era sem os cabelos dela, que eram orgânicos, e a parte mais difícil foi que ela teve que tirar foto no presídio sem cabelo, e parece besteira, mas quando toca nessa vaidade da mulher, dói, fere. Outra coisa é que a carteirinha do presídio só fica pronta em 10 dias, ou seja, ela está 10 dias presa e vamos ter que esperar mais 10 dias para vê-la", explicou.

Outro inocente seria Rian Vitor dos Santos Da silva, 21 anos. Segundo a irmã, Kathleen Santos, 26 anos , ele trabalhava no escritório há apenas duas semanas.

"Fiquei sabendo porque a polícia me ligou. Isso perto da meia-noite. Ele é menino trabalhador, me ajuda muito com meus filhos. Somos oito irmãos, não temos mãe e nem pai. Está sendo muito difícil, não vejo ele já desde o dia que foi preso", disse.

A mãe de Alyne Moura dos Reis Dias, 19 anos, disse que a filha trabalhava por comissão há três meses no escritório e que também foi enganada. De acordo com Karen Cristina Moura Braga, 39, a situação trata-se de uma grande injustiça.

"Eu não durmo, eu não como, todo dia eu choro, meu filho fica perguntando pela irmã, minha mãe está arrasada, está sendo muito difícil tanto para mim, quanto para outras mães, só tristeza. Todos ali foram enganados, ninguém quando vai procurar emprego pergunta a vida do patrão, eles vão fazer o que o patrão vai mandar", disse.

Karen explicou também que todos achavam que estavam trabalhando dignamente. "O que está acontecendo com eles é muita injustiça, todos inocentes. A gente como mãe, jamais mais vamos apoiar esse tipo de coisa para os nossos filhos, que foram criados dignamente por cada família. Queremos justiça por todos", reforçou.

Ao DIA, a mãe da jovem disse que a dona da empresa esteve na delegacia e teria garantido a liberdade dos funcionários, o que não foi cumprido.

"A dona da empresa estava lá, e falando o tempo todo para as mães que estava tudo resolvido, que ela estava ali, que tinha dois advogados ali por eles, que eles iam sair de lá, e a gente como mãe estava sem entender. Por fim, era quase 4h e ouvi falar que ninguém ia sair, que todos seriam transferidos para Benfica e que a audiência ia ser no domingo e nenhum dos nossos filhos foram liberados", lamentou.
Mais uma funcionária é Jayanne de Jesus Reis, de 22 anos, mãe de uma menina de 7. Para a tia, Katia Reis, que esteve presente no protesto deste domingo (4), está sendo muito difícil para a criança ficar longe da jovem.
"Meu irmão não dorme, não come mais, minha cunhada está arrasada, a filha pergunta por ela dia e noite. A gente fica cada hora inventando uma história. Está triste demais! Ela é evangélica, extremamente correta, nunca fez nada de errado, estava trabalhando nessa empresa apenas um mês e meio", lamentou.
Junto com os quatro, também foi presa Myllene Alessandra de Souza Mendes Portes, de 19 anos. De acordo com a mãe, Ana Cláudia Souza Tenorio, toda a família está arrasada, principalmente as netas, uma de apenas 2 anos e outra de 9 meses.
"Minha filha é uma criança no meio de tanta gente lá dentro. Estamos sofrendo muito! Minhas netas só ficam com febre, perguntam por ela o tempo todo", lamentou.
O que diz o TJRJ?

Procurados pelo DIA, o Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ) informou que a decisão da juíza Mariana Tavares Shu, que rejeitou o pedido de habeas corpus para os acusados, foi realizada no último dia 30.

"A organização criminosa é extremamente organizada, possuindo complexa divisão de tarefas, para realizar o golpe da seguinte forma: Após anunciarem pelo Facebook veículos para venda e atraírem os clientes para o estabelecimento comercial, os consultores os induzem a efetuar o pagamento de uma entrada para a aquisição do bem, acreditando tratar-se de financiamento de veículo", explica um trecho da decisão.

A juíza disse ainda que os custodiados participam de organização estruturada para a prática de
estelionato e falsidade ideológica, com o anúncio de venda de veículos, que jamais eram
entregues aos compradores, a despeito do pagamento do sinal.

"Portanto, a prisão é imprescindível para a desarticulação do grupo, evitando-se a reiteração da prática criminosa", disse.
Relembre as prisões
Policiais da 17ª DP (São Cristóvão) fecharam no último dia 26, um escritório onde uma quadrilha aplicava golpes em vendas de consórcios, no bairro de Rocha Miranda, na Zona Norte. Na ocasião, 22 pessoas foram presas em flagrante acusadas de organização criminosa.
De acordo com a Polícia Civil, o grupo prometia oferecer cartas de crédito, que são documentos financeiros que podem ser usados para comprar bens, como motocicletas, automóveis, caminhões, entre outros. As vítimas eram induzidas a pagar um valor de aproximadamente 10% do bem que desejavam como forma de depósito, a fim de supostamente garantir sua compra.
Os valores obtidos eram creditados em uma conta indicada pelo funcionário responsável pela venda do consórcio, por meio de pix, transferência bancária e boletos. Além do contato com clientes via telemarketing, a empresa utilizava anúncios em redes sociais.
No local, foram encontrados diversos documentos que permitiram identificar inúmeros clientes que teriam adquirido consórcios dos investigados. Também foram apreendidos notebooks, celulares e documentos contendo um passo a passo de como os atendentes deveriam atender os clientes.