Exames de sangue nos doadores foram realizados no PCS Lab Saleme, em Nova IguaçuRenan Areias/Agência O Dia

Rio - A Secretaria de Estado de Saúde do Rio (SES) investiga a contaminação de seis pessoas por HIV, após receberem transplantes de órgãos. Nenhum deles estava infectado antes e o primeiro caso foi descoberto há um mês, quando um dos pacientes testou positivo para o vírus. Todos os exames de sangue dos doadores foram realizados pelo PCS Lab Saleme, contratado por licitação, e apresentaram falso negativo. 
O caso foi revelado pela 'BandNews FM', nesta sexta-feira (11), e confirmado pela SES-RJ para a reportagem de O DIA. A pasta informou que uma comissão multidisciplinar foi criada para acolher os pacientes afetados e, "imediatamente, foram tomadas medidas para garantir a segurança dos transplantados". A Secretaria esclareceu que realiza um rastreio com a reavaliação de todas as amostras de sangue armazenadas dos doadores, a partir de dezembro de 2023, data da contratação do laboratório.
O laboratório privado responsável por fazer os exames de sangue nos doadores fica em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e, de acordo com a SES, foi contratado por licitação pela Fundação Saúde para atender o programa de transplantes. O estabelecimento teve o serviço suspenso logo após o caso ser descoberto e foi interditado cautelarmente. Com isso, os testes passaram a ser realizados pelo Hemorio. "Uma sindicância foi instaurada para identificar e punir os responsáveis", completou a secretaria. 
A reportagem de O DIA esteve no endereço do PCS Lab Saleme, no Centro de Nova Iguaçu, na tarde desta sexta-feira, mas encontrou o laboratório de portas fechadas. No local, há um aviso de que o estabelecimento está em manutenção e que os resultados de exames de pacientes devem ser acessados somente pela internet. 
A situação foi descoberta no último dia 10 de setembro, segundo revelou a 'BandNews', quando um paciente transplantado foi ao hospital com sintomas neurológicos e teve resultado para HIV positivo. Logo depois, amostras dos órgãos doados pela mesma pessoa foram analisadas e outros dois casos confirmados. Há uma semana foi notificado que mais um receptor de órgãos teve o exame de HIV positivo, após o transplante. Até o momento, estão confirmados seis casos. 
Em nota, a secretaria considerou o caso "inadmissível" e "uma situação sem precedentes". Segundo a pasta, "o serviço de transplantes no estado do Rio de Janeiro sempre realizou um trabalho de excelência e, desde 2006, salvou as vidas de mais de 16 mil pessoas". Além da SES, o secretário de estado de Polícia Civil, delegado Felipe Curi, determinou a instauração de inquérito na Delegacia do Consumidor (Decon), que também apura casos de saúde pública, e a investigação está em andamento.
O Conselho Regional de Medicina (Cremerj) abriu uma sindicância para apurar o caso. "A falha teria acontecido na realização de exames de detecção do vírus HIV por um laboratório credenciado pela SES", diz a nota. O procedimento corre em sigilo. "A situação é gravíssima e o Cremerj reafirma seu compromisso de apurar os fatos com todo o rigor. A segurança dos pacientes é fundamental para garantir o bom exercício da medicina no estado do Rio e supostas falhas desse tipo são inaceitáveis", afirmou o presidente, Walter Palis.
A reportagem de O DIA tenta contato com a PCS Lab Saleme. O espaço está aberto para manifestação. 
Nota da Secretaria de Estado de Saúde do Rio
"A Secretaria de Estado de Saúde (SES) considera o caso inadmissível. Uma comissão multidisciplinar foi criada para acolher os pacientes afetados e, imediatamente, foram tomadas medidas para garantir a segurança dos transplantados.

O laboratório privado, contratado por licitação pela Fundação Saúde para atender o programa de transplantes, teve o serviço suspenso logo após a ciência do caso e foi interditado cautelarmente. Com isso, os exames passaram a ser realizados pelo Hemorio.

A Secretaria está realizando um rastreio com a reavaliação de todas as amostras de sangue armazenadas dos doadores, a partir de dezembro de 2023, data da contratação do laboratório.

Uma sindicância foi instaurada para identificar e punir os responsáveis. Por necessidade de preservação das identidades dos doadores e transplantados, bem como do encaminhamento da sindicância, não serão divulgados detalhes das circunstâncias.

Esta é uma situação sem precedentes. O serviço de transplantes no estado do Rio de Janeiro sempre realizou um trabalho de excelência e, desde 2006, salvou as vidas de mais de 16 mil pessoas."