As aulas de musicalização para a terceira idade são concorridasDivulgação
Os alunos estão aprendendo a teclar na escaleta - instrumento musical que une teclado e sopro- nas aulas da Escola Municipal de Música Weberty Bernardino Aniceto, em Nilópolis. A primeira turma é de musicalização com a escaleta, a outra aprofunda os conhecimentos musicais na escaleta e há o grupo da seresta. Eles precisaram ficar quatro meses sem aulas, enquanto a Prefeitura de Nilópolis promovia uma reforma no andar do CIEP Professora Stela de Queiroz, onde funcionam as escolas de música e de dança. Nas salas da escola de música, os operários fizeram o rebaixamento de teto, pintura das salas e reforma dos banheiros.
Sônia Leal leciona há 22 anos na escola de música e explicou como surgiu o grupo de seresta. "Surgiu há 20 anos como uma forma de confraternização e também porque havia alunos que não queriam aprender música, e sim ter uma atividade social ligada à música. Então, essas pessoas vão para cantar e os alunos que estão aprendendo vão tocar. Antigamente, eles ingressavam no curso iniciante e já aprendiam os instrumentos, mas tinham muita dificuldade. Aos poucos, fomos formatando o curso e, após a musicalização com as ideias centrais e a escaleta, depois passam para o restante", contou a professora.
'Over the rainbow' ou, 'Além do Arco-Íris', como ficou conhecida em português, era a balada que os aprendizes tocavam nas escaletas acompanhando Sônia Leal. Composta por Harold Arlen e Yip Hamburb, a bela canção escrita para o filme 'O Mágico de Oz' ganhadora do Oscar de 1939 e, até hoje, uma das mais famosas do cinema americano, conquistou a atenção dos alunos, que se esmeravam na execução da música.
Regina de Almeida, moradora do bairro Novo Horizonte, é uma das pessoas que frequentam as aulas de música há dez anos. "Eu tinha uma sonho desde adolescente de aprender a tocar violão, mas não tinha condições financeiras de pagar aulas particulares de música", recorda Regina, balconista aposentada que está com 73 anos. Ela elogiou a iniciativa de a prefeitura oferecer aulas para a terceira idade. "Eu fico muito feliz em participar, achava que não iria conseguir aprender. Isso é algo muito bom para a minha autoestima e, quando consigo tocar uma música que eu já conheço, já ouvi no rádio, eu sou muito grata", comemorou.
Também frequentadora da escola há 10 anos, a professora aposentada Edna Brandes da Silva, 79 anos, mora em Mesquita, e soube das aulas por uma amiga que estudava ali. " O amor, a música e a necessidade de exercitar meu cérebro são fundamentais para depois dos 60 anos e a aposentadoria. Treino em casa com frequência, e com o acompanhamento da professora que é notável. Eu tenho prazer em tocar e contribui também para a minha saúde mental. Eu me sinto muito feliz tocando", finalizou.
Professora do Departamento de Psicologia e colaboradora na Universidade para a Terceira Idade (UNITI) na UFF em Campos dos Goytacazes, Ana Lúcia Carvalho soube do trabalho realizado pela Escola de Música de Nilópolis e elogiou a iniciativa. "É muito importante esse tipo de trabalho voltado aos idosos. Somos seres em constante processo de desenvolvimento, caracterizado por mudanças físicas, afetivas e cognitivas. Há um declínio no adulto idoso das funções cognitivas, como a memória e a atenção, por exemplo", avalia.
Ela lembrou que o nosso cérebro se modifica de acordo com o tipo de relação que temos com o ambiente. "Assim, a aprendizagem de novas habilidades, como tocar um instrumento, e as próprias interações sociais promovidas neste ambiente são favoráveis para os processos cognitivos", explicou Ana Lúcia, doutora em Biociências Nucleares (área de interface entre a biologia e a psicologia) pela UERJ. "São inegáveis os benefícios desta aprendizagem para a manutenção da saúde e da qualidade de vida em indivíduos idosos", concluiu.
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