Julgamento começou ontem pela manhã, no 4º Tribunal do Júri do Tribunal de Justiça do Rio, no Centro da cidade Reginaldo Pimenta

Rio - Agatha Arnaus Reis, viúva de Anderson Gomes, foi a quarta testemunha ouvida no julgamento de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, nesta quarta-feira (30). Na oitiva, ela relembrou que o filho do casal tinha apenas 1 ano e oito meses quando o motorista foi assassinado no atentado contra a vereadora Marielle Franco. O menino possui onfalocele e faz uma série de acompanhamentos médicos, que chegaram a ficar interrompidos por um período após o crime, desde que nasceu. 
No depoimento, Agatha disse que ela e Anderson sempre compartilharam as despesas familiares e os cuidados com o filho. Ela relatou que o menino passou por diversos procedimentos cirúrgicos, mas o mais assustador aconteceu quando teve que cuidar da criança sozinha pela primeira vez, já que Anderson havia morrido. "Achei que fosse enlouquecer, achei que nada tinha mais sentido, que o Arthur era a última coisa que restou do Anderson", desabafou.
Para a viúva, Anderson "fazia o mundo melhor" e o filho "perdeu aquele que dizia que tudo ia dar certo, que dizia que já estava orgulhoso do filho". Ela afirmou não saber se o menino compreende o aconteceu, mas que sempre chama pai - primeira palavra que disse - quando vê vídeos do motorista. "Ele perdeu tudo, os Dias dos Pais, os Natais... ele era um bebê de colo".
Ainda de acordo com Agatha, o marido trabalhava como motorista para arcar com as despesas da família, mas vinha se preparando para um novo emprego na área da aviação , outro sonho que ele tinha, mas que não teve tempo para realizar.
"Eu quero que as pessoas que tiraram a vida do pai do A. paguem pelo que fizeram, eu não substituo de forma alguma o Anderson. Eu nunca, por mais que consiga mostrar um pouco do que ele representa para mim e para o A., não vai chegar perto do que ele era de fato. Ele é irrepetível, não existe igual. O nosso filho nunca na vida vai ter algo tão bom como poderia ter se o Anderson estivesse aqui", lamentou
Viúva relata como foram os primeiros anos de tratamento do sem o pai
Na audiência, a acusação exibiu um vídeo, gravado pela mulher, em que conta a Anderson que estava esperando um filho e o entrega um teste de gravidez. Muito emocionada, ela relatou que o motorista sonhava em ser pai, mas não teve oportunidade de ver o desenvolvimento do menino, já que o primeiro ano de vida dele foi marcado por acompanhamentos médicos. 
"Ele não teve a oportunidade de estar com o A. em outro contexto, mais tranquilo, num momento de pai e filho", disse Agatha, que lamentou o pai não ter visto o filho, hoje com 8 anos, começar a andar, aos 5.
"[A dor] não vai passar nunca, porque sempre vai ter alguma coisa que vai ser a primeira vez sem o Anderson. A primeira vez que ele andou, a primeira vez que ele falou mamãe, a primeira vez que ele foi para uma escola nova", pontuou.
A viúva conta que, mesmo após seis anos, o assassinato do marido ainda impacta diretamente no tratamento do filho, que além da onfalocele, enfrenta outras questões de saúde, ainda não diagnosticadas por falta de material genético de Anderson para os resultados.
Relembre o Caso
A vereadora Marielle Franco foi assassinada na noite de 14 de março de 2018, no bairro do Estácio, Região Central do Rio. A parlamentar, que estava acompanhada do motorista Anderson Gomes, de 39 anos, e da assessora Fernanda Chaves, de 43, voltavam de um evento de mulheres negras na Rua dos Inválidos, na Lapa.
O carro onde a vereadora estava passava pela Rua Joaquim Palhares, próximo a Praça da Bandeira, quando um carro, modelo Chevrolet Cobalt, na cor prata, emparelhou com o veículo. Em seguida, foram feitos nove disparos. Quatro deles atingiram Marielle, sendo três na cabeça e um no pescoço. Anderson foi atingido por três disparos nas costas, ambos morreram dentro do carro. A assessora ficou ferida por estilhaços.