Rafaela do Nascimento com as duas filhas no apartamento do Morar Carioca do AçoReginaldo Pimenta / Agência O DIA
"Imagina você perder tudo. Ir até a estaca zero e ganhar tudo de novo. É uma luz no fim do túnel que nem esperávamos", disse a vendedora ambulante, mãe de Letícia e Laura do Nascimento, de 9 anos e 1 ano, respectivamente.
Segundo Rafaela, a casa nova, um apartamento de dois quartos mobiliado, já com eletrodomésticos e televisão, traz uma mudança de perspectiva para a família. "Alagava sempre. Agora não vai ter mais isso. Agora não vai ter mais minhas filhas perguntando: 'Mãe, vai alagar a casa? Mãe, vê como está aí? Uma tranquilidade a mais para elas. A gente nem esperava", comemorou.
O motoboy e estudante da Universidade Federal Rural do Rio Jesse Goudar, de 25 anos, foi outro morador da comunidade do Aço contemplado.
"Eu acho que é uma transformação de mentalidade. Porque estar recebendo um apartamento mobiliado coloca a gente num outro lugar na sociedade. Diminui o empilhamento das opressões que nos subjugam a um estilo de vida específico e nos dão uma oportunidade de alcançar uma proporção maior na nossa vida. Muda tudo. Não só para nós, mas para os nossos filhos, que já vão partir desse lugar. É transformador para além do físico", comemorou.
Na casa antiga, o estudante de Ciências Sociais contou que vivia em função das chuvas e que, por conta dessa insegurança, já pensava em sair da comunidade. "O plano de todo mundo aqui na Comunidade do Aço sempre foi juntar um dinheiro e ir embora. Era, pelo menos. Hoje, não mais. Já pensamos em ficar aqui", disse.
O Morar Carioca do Aço tem 704 apartamentos previstos, em 44 blocos. Com as 48 unidades desta terça-feira, 96 já foram entregues. Os imóveis tem 50 metros quadrados, incluindo sala cozinha, banheiros dois quartos, área de serviço e varanda.
O servente de obra Fabrício Henry, de 25 anos, sua companheira Iasmin dos Santos, de 26, e sua filha Lauren Sophia, de apenas quatro meses, também receberam um dos apartamentos. "Nossa casa foi demolida durante esse processo de construção dos apartamentos, então estávamos há três meses morando de aluguel. Mesmo com a ajuda de custo, não estava sendo fácil", comentou.
De acordo com o prefeito Eduardo Paes, a entrega de mais três blocos de apartamentos é o pagamento de uma dívida do Rio com as famílias da comunidade.
"A gente esteve aqui na campanha de 2020. Ali eu vi uma cena que eu acho que todo mundo que é governante tinha que ter vergonha de não dar as condições para as pessoas viverem com o mínimo. Ninguém está falando de luxo. Estamos falando daquilo que é o mais básico. Um saneamento adequado, uma calçada adequada, uma casa adequada e a vida da gente vai. Com nosso esforço, com a sorte, a gente pode ganhar um pouco mais de dinheiros, mas a dignidade é obrigação", defendeu.
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