Termômetro marca 35º C em Ipanema na manhã deste sábadoPedro Teixeira/Agência O Dia
Sensação térmica do Rio impressiona cariocas e turistas: 'Parece uma sauna'
Especialista explica que proximidade do mar com o perímetro urbano é uma das condições que favorece o clima abafado na cidade
Rio – O típico sábado de verão no Rio de Janeiro lotou, como sempre, as praias do Rio de Janeiro. No Posto 9 da praia de Ipanema, na Zona Sul, cariocas e turistas, do Brasil e do exterior, curtiram o lazer partilhando de um sentimento praticamente unânime: a sensação térmica da cidade castiga mais do que qualquer outro lugar.
A reportagem de O DIA conversou com aqueles que se aventuravam em meio a uma temperatura de 30º C – porém, com uma sensação de 38º, segundo o Clima Tempo – e ouviu os mais variados comentários, todos na mesma direção: o Rio está quente demais.
“Aqui a gente ferve, cozinha”, resumiu a carioca de Sepetiba, na Zona Oeste, Jamilly Graça ao lado da amiga Vitória de Freitas, ambas de 21 anos. "Recentemente fui a Macaé e a sensação daqui para lá é totalmente diferente. Parece que estamos numa sauna", disse.
Antônio Carlos Galhardo, de 66 anos, carioca do Maracanã, também não teve dúvidas ao cravar o Rio como acima da média quando o assunto é calor: "Faço muitas viagens pelo Brasil, e aqui é mais quente. A sensação térmica é muito maior".
Segundo Wanderson Luiz Silva, meteorologista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a sensação de queimação na pele é resultado da combinação entre temperaturas elevadas e a alta umidade relativa do ar: "Ao suarmos, como a atmosfera já está mais úmida, esse suor não evapora fácil, deixando a sensação de calor maior em nós".
Ele acrescenta ainda que as características topográficas da cidade favorecem tal cenário: "Aqui temos a proximidade com o oceano à disposição do relevo, além do perímetro urbano. Ou seja, condições para ilhas de calor e eventual entrada de umidade".
Embora pela primeira vez no Rio, as amigas baianas Késia Stéphany, 26 anos, e Natália Lobo, de 27, que vieram das cidades de Alagoinhas e Salvador, respectivamente, garantem estar adaptadas a temperaturas mais elevadas, exatamente por viver em lugares com condições semelhantes.
"Tem equilíbrio no calor daqui e de lá, porque a Bahia também é muito quente", diz Késia, sendo seguida por uma observação de Natália: "Mas o Rio é mais abafado à noite".
"Pele queimando"
Se está difícil para cariocas e baianos, imagine para os europeus. O alemão Julius Mueller, de 23 anos, diz que sua experiência em outras praias, sobretudo no Velho Continente, é muito mais amena: “Na Europa, conheço outras cidades com praia. Barcelona, algumas na França... E claro que aqui é muito mais quente. Sinto a pele queimar”.
O português Duarte Amorim, de 25 anos, que veio de Lisboa para a primeira experiência na Cidade Maravilhosa, segue na mesma linha: "Em Portugal, colocamos uma cadeira e uma toalha e nos esticamos sem problemas. Aqui, estamos sempre molhados de suor, nunca secos".
O francês Benoit Galoyere, de 35 anos, casado com a brasileira Bruna Barbosa, de 31, concordou que o calor no Rio pega pesado e deu uma dica de como evitar problemas com o sol forte: "Evitamos sair nos picos de calor, antes de 10h e depois das 16h. A gente pratica muito esporte na praia. Então, com esse calor, não dá”.
Ele, entretanto, garante que já passou perrengues maiores na sua terra natal: “Sentia mais calor na França, para ser sincero. Aqui tem vento, praia, então aguento. No verão, a gente tem ondas de calor fora do normal. O calor que vem do Saara, da África... Mais de 45 graus com frequência. Fica pior do que aqui”.
Outros cuidados
Além de evitar a exposição ao sol entre o fim da manhã e as primeiras horas da tarde, como comentou Benoit, há outros recursos dos quais não se deve abrir mão, em prol da saúde: “Tomo muita água, senão não consigo levar o dia. Você literalmente desidrata, é horrível”, comentou Luan Felipe, de 29 anos, que veio do Recife (PE) visitar o Rio.
A água também está na lista de cuidados de Thiago Mathias, de 21 anos, de Belo Horizonte (MG) “Bebo muita água e água de coco para hidratar. Também trouxe um protetorzinho solar porque o trem aqui está pegando fogo”, brincou o mineiro. "E quando dá meio-dia, é bom procurar uma sombra", completa.
Para a médica dermatologista Cláudia Sá, Thiago tocou em dois pontos importantes. Sobre o 'protetorzinho', trata-se de um produto fundamental, mas que não pode ser aplicado apenas uma vez: “Cada aplicação de filtro solar, desde que seja à prova d’água, dura cerca de 80 minutos. Então, precisa reaplicar, mas ainda assim protetor não bloqueia totalmente a pele do sol. Tem que complementar com um chapéu, uma barraca”.
Quanto à exposição ao sol, ela enfatiza que o excesso é perigoso devido aos raios ultravioleta A e B, que podem acarretar problemas como envelhecimento precoce da pele, queimaduras com bolhas e até câncer de pele: “É sempre bom ficar menos que um hora sob o sol. A gente pede para evitar entre 10h e 15h. Mas o ideal é equilibrar essa exposição com outras atividades fora do sol”.
Antônio Carlos, do Maracanã, relata sua experiência: “Já tirei alguns sinais do corpo. Muitos não eram câncer, mas alguns preocupavam. Tento me proteger ao máximo”.
‘É quente, mas eu gosto’
A opinião de que o calor do Rio castiga é tão unânime quanto o desejo de voltar à cidade futuramente. Apesar da sensação de “pele queimando”, o alemão Julius é direto: “Sei que é quente, mas eu gosto. Adoro o Rio. Estou aqui pela terceira vez”.
Encantado, o mineiro Thiago está no Rio pela quarta oportunidade e deixa em aberto uma próxima: “Aqui é lindo demais, uma das cidades mais maravilhosas do Brasil. Não conheço igual. Gosto muito daqui”.
Já o português Duarte, que pegou tempo nublado quando chegou ao Rio, usa o bom humor para colocar uma “condição” para um futuro retorno: “Só volto se for com esse calor (risos)”.
‘Precisamos lutar pelo pão’
Quem não tem muita escolha de voltar ou não para a praia em dias de onda de calor são os trabalhadores à beira mar. Por exemplo, Wendel dos Santos, de 22 anos, há dois vai a Ipanema com seu forninho para vender queijo coalho e churrasquinho.
Ele admite que se sente intimidado pelo sol algumas vezes, mas prefere enxergar a situação pela lente do otimismo: “Já teve dias quentes em que pensei em não vir, mas no calor é que é bom. Dá mais movimento”.
Deived Rezende, de 31 anos, que trabalha há 15 numa barraca, pensa de maneira semelhante: “O relógio marca 35º, mas a sensação é de 45º. Aqui é mais quente, com certeza. Mas isso não me desmotiva, porque temos a necessidade de lutar pelo nosso pão. E dependemos do calor, porque se chover, não ganhamos dinheiro (risos)”.
Assim como Carlos Henrique, de 60 anos, que mesmo trabalhando somente há dois em outra barraca na praia, se diz inabalável: “Já me acostumei com esse calor. Tiro de letra (risos)”.
Para os próximos dias
Ainda neste sábado, as temperaturas seguem elevadas na capital. De acordo com o sistema Alerta Rio, a noite terá máxima de 39º, nas zonas Oeste e Norte, e mínima de 22º, na Zona Oeste e na área do Centro e da Grande Tijuca. Há previsão de pancadas de chuva isoladas.
Para domingo (26), os termômetros ficam entre 24º e 39º, com céu nublado e pancadas de chuva a partir da tarde. Já de segunda (27) a quarta (29), o céu segue nublado a encoberto, com possibilidade de chuva e máximas acima dos 30º.
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