Fernanda Torres venceu o Globo de Ouro e pode concorrer ao Oscar 2025AFP
Para Fernanda Paiva, não existe sonho impossível e a prova disso é a trancista, que mesmo sendo mãe solo, vai à luta de todas as formas porque acredita nela mesma. "Não pode ter crise de fé. Acredite em você". E foi isso que todos viram em Los Angeles com a vitória da filha de Fernanda Montenegro no Globo de Ouro.
Fernanda entafiza o potencial femininoDivulgação
O DIA: O que a conquista de Fernanda Torres nos ensina sobre carreira feminina?
Fernanda Paiva: Experimentar e reinventar é o caminho para amadurecer: Fernanda percorreu da comédia ao drama, participando tanto de obras na televisão quanto no cinema, além de publicar livros como autora e atuar como roteirista. Ao invés de se apegar a um nicho específico, se dedicou a desenvolver múltiplas habilidades e testar seu talento em diferentes frentes.
O DIA: Mas ela já tinha uma herança genética. Como acontece com as pessoas que não são públicas?
Fernanda Paiva: Você vai crescer na velocidade de seu talento e capacidades. Sendo filha de grandes nomes da dramaturgia, isso, sem dúvida, criou oportunidades para Fernanda no início de sua carreira. Contudo não foi o que a fez permanecer brilhante ao longo do tempo. Para sustentar sua empregabilidade é importante não se acomodar e dar seu sucesso como garantido. Esteja atenta ao que o mercado valoriza e busque aprender sempre!
O DIA: Como lidar com as frustrações quando enquanto o sucesso não chega?
Fernanda Paiva: Fracassar faz parte: nem todas as obras das quais Fernanda participou fizeram sucesso, mas nem por isso ela deixou sua audácia de lado. Continuou a escolher papéis em filmes e programas diferentes e que exploravam seu multipotencial, mesmo que isso trouxesse risco. Brilhar requer, muitas vezes, acreditar e apostar em si mesma.
O DIA: Como fazer para alcançar o sucesso num mundo tão machista?
Fernanda Paiva: Seja protagonista: certa vez Fernanda destacou o quanto escolher projetos seus foi determinante para se manter produtiva. Assim como ela, é importante não esperar convites, mas sim criar oportunidades. Reconheça o valor das boas parcerias: cercar-se de pessoas que estão no mesmo propósito cria a ambiência necessária para te manter em movimento, mesmo quando a maré está baixa. Invista em criar uma rede de contatos que possa crescer em conjunto. E não esqueça de reconhecer e valorizar quem está do seu lado na luta. Fernanda, ao receber o Globo de Ouro, agradece ao diretor Walter Salles, a Selton Mello, à sua família e dedica o prêmio a sua mãe, Fernanda Montenegro.
O DIA: Em que a vitória e a trajetória de Fernanda nos inspiram sobre o avanço das mulheres e mães no mercado de trabalho?
Fernanda Paiva: Como mãe de duas meninas, o reconhecimento de Fernanda Torres no Globo de Ouro me leva a refletir: que mercado de trabalho é esse que as minhas filhas Isabela e Luiza irão encontrar no futuro? Isso, sem dúvida é o que me move a trabalhar com diversidade e equidade de gênero.
O DIA: Como você vê o avanço das mulheres no mercado de trabalho?
O DIA: Você acha que ser filha de Fernanda Montenegro ajudou?
Fernanda Paiva: Você sabia que o direito de mulheres frequentarem uma faculdade no Brasil veio apenas em 1879? (as candidatas solteiras tinham que apresentar licença de seus pais e as casadas eram obrigadas a ter o consentimento por escrito de seus maridos). E somente em 2010, tivemos a primeira mulher negra a ocupar o cargo de CEO no Brasil, a gigante mulher e mãe Rachel Maia. Fernanda Torres não ganhou às custas de sua mãe, e isso é óbvio! Seu talento, dedicação e resiliência a levaram a essa conquistamuito importante que certamente abrirá portas para outras talentosas brilharem no futuro. Quando se é mulher e mãe, aprendemos que as nossas vitórias não são somente nossas. Quando uma mãe prospera, ela faz isso por si e por sua família. Então que a gente saiba honrar quem veio antes abrindo espaço, e construir para quem virá depois.
O DIA: Como exercitar o foco, a autoestima e a resiliência em meio a tantas demandas e desafios diários?
Fernanda Paiva: "Nós somos cegos para a nossa própria cultura e ao mesmo tempo queremos que o mundo reconheça o que está perdendo". Essa frase de Fernanda Torres me inspira a abordar um tema muito comum na realidade de mães que trabalham, a dificuldade de valorizar as próprias conquistas, de pôr em prática a autoestima e enxergar a nossa potência. Quantas vezes delegamos ao outro o poder de nos mostrar o quanto somos incríveis e brilhantes? Ora, verdade seja dita, uma mãe que trabalha coloca, antes mesmo do horário do almoço, habilidades como foco em resultados, resiliência, gestão de conflitos, e tantas outras em prática, pelo simples fato de equilibrar tantos pratinhos simultâneos. E quando perguntada em uma entrevista de emprego sobre seus pontos fortes, tem dificuldade de enumerá-los. Quando deseja concorrer a uma promoção, ou mesmo se tornar líder, muitas vezes se sente impostora.
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