Referências às facções apontam para a crescente guerra no Morro dos MacacosArquivo Pessoal
Publicado 06/01/2025 17:35 | Atualizado 06/01/2025 17:56
Rio - O bairro de Vila Isabel, na Zona Norte, amanheceu nesta segunda-feira (6) com símbolos de facções que escancaram a guerra crescente no Morro dos Macacos. No alto da comunidade, bandidos hastearam uma bandeira de Israel, em alusão ao Terceiro Comando Puro (TCP). Já nas ruas do bairro, criminosos ligados ao Comando Vermelho (CV) fizeram pichações em alusão ao controle da área pela facção.
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Na tarde desta segunda-feira (6), o vice-presidente da Associação dos Moradores e Comerciantes de Vila Isabel, Marcus Vinicius Vasco da Silva, flagrou um homem retirando a bandeira. O TCP, que atua no Morro dos Macacos, é liderado pelo traficante Álvaro Malaquias Santa Rosa, o 'Peixão', que comanda o crime organizado no Complexo de Israel, formado pelas comunidades Parada de Lucas, Vigário Geral, Cidade Alta, Pica-Pau e Cinco-Bocas, que abrange diversos bairros na Zona Norte. O traficante está na mira das polícias Civil e Militar há pelo menos 12 anos e possui uma extensa ficha criminal, incluindo um inquérito por terrorismo.
Já na Boulevard 28 de Setembro, principal via de Vila Isabel, criminosos aliados ao CV picharam 'Vermelhou Macacos' em uma banca de jornal, em referência às tentativas da facção em dominar a comunidade. 
Apartamentos atingidos por balas perdidas
Moradores também encontraram diversos fragmentos de balas espalhados por Vila Isabel. Na esquina das ruas Barão de Mesquita e Botucatu, no Grajaú, um tiro atingiu o quarto de uma criança durante o tiroteio entre a noite de domingo (5) e a manhã desta segunda (6). Segundo imagens divulgadas pelo pai da menina nas redes sociais, o projétil passou pela janela, atingiu a parede e parou em cima da cama.
No quarto, ainda é possível ver a parede cor de rosa que teve a tinta arrancada e a bala em meio aos ursos de pelúcia e desenhos de unicórnio. Por sorte, ninguém da família se feriu. "Uma das minhas filhas poderia ter morrido. Não tem lugar seguro no Rio de Janeiro", comentou o pai.
O vice-presidente da Associação de Moradores e Comericantes de Vila Isabel também encontrou quatro projéteis, sendo três próximo à quadra da Unidos de Vila Isabel e uma no terraço de um prédio na Rua Barão de Mesquita. 
"Os tiros não chegaram a meia hora, foi em uma área perto da antiga pedreira, que ecoa, mas foi um tiroteio muito intenso, estão atirando do morro em direção aos prédios, proposital mesmo", disse Marcus.
"Infelizmente, não podemos correr dessa situação e também não adianta a covardia. Hoje, podem ser os filhos dos outros e, amanhã, pode ser um dos meus filhos ou netos vítimas dessa guerra de total incompetência das secretarias de segurança pública em resolver o assunto", concluiu.
Durante um tiroteio, uma mulher foi baleada dentro de casa, no Morro dos Macacos, e encaminhada ao Hospital Federal do Andaraí. Até o momento, não há informações sobre seu estado de saúde e a ocorrência foi registrada para a 20ª DP (Vila Isabel).
Segundo a Polícia Militar, agentes da 11ª UPP (Macacos), do 6º BPM (Tijuca), da 6ª UPP (São João), e do 3º BPM (Méier) reforçaram o policiamento no entorno das comunidades ainda na noite de domingo. Já durante a manhã desta segunda-feira, equipes do DIA estiveram no local e constataram que a segurança segue reforçada.
Procurada, a Polícia Civil informou que investiga as organizações criminosas que atuam na região e as disputas territoriais. A instituição realiza operações para descapitalizar e enfraquecer esses grupos, cujos resultados são prisões de lideranças e outros integrantes das facções, inclusive, de outros estados do país.
Nas redes sociais, moradores relataram que o confronto se estendeu por horas provocando pânico na comunidade e nos arredores. "Tiroteio ininterrupto há quase 1 hora no Morro dos Macacos. Aqui do Grajaú/Vila Isabel tá muito alto, muito assustador, imagina pra quem tá lá. Uma sinfonia macabra com vários tipos de armas, bombas, metralhadoras diferentes, guerra civil e ninguém liga. O Rio acabou", disse um perfil.
Um outro morador filmou o momento em que um projétil atingiu uma árvore em frente a um prédio. Nas imagens, é visível a intensidade do tiroteio.
Ainda na internet, muitos moradores da região relataram os momentos de pânico durante o confronto. "O tiroteio foi sinistro. Deu para ouvir aqui em casa, na Tijuca. Apavorante mesmo, cenário de guerra", lamentou um perfil.
"Moro no 6º andar na José do Patrocínio, em frente a Light. Senti tanto medo dessa vez que fomos dormir no corredor do apartamento, estava muito intenso e parecia mais perto daqui do que outras vezes. Nossa sala e quartos têm visão frente-lateral para o Morro dos Macacos", explicou uma moradora.
Disputa de território
A localização do Morro dos Macacos é considerada favorável para os criminosos, pois dá acesso à Zona Oeste por meio do Parque Nacional da Tijuca. O 'atalho' é atrativo para a maior facção do Rio, que tenta expandir sua organização para a Zona Oeste, como vem acontecendo na Gardênia Azul.
As constantes trocas de tiros na comunidade acontecem em meio a uma tentativa de expansão territorial do Comando Vermelho (CV) liderada por traficantes do Morro do São João, no Engenho Novo.
A distância entre as duas comunidades é de aproximadamente 4 km, o que facilita a mobilização de traficantes em tentativas de invasões e ações violentas. Dados do Instituto Fogo Cruzado, em 2024, apontam que, ao todo, foram 68 confrontos na região até o dia 12 de dezembro, que deixaram 11 mortos e 9 feridos.
Em meio a guerra, no final do ano passado, um vídeo que circulou nas redes sociais mostra simpatizantes do CV, trafegando pelas vielas da comunidade gritando palavras de comemoração após, segundo relatos da internet, terem assumido o controle da região.
No último dia 29, na Rua Senador Nabuco, uma bala perdida atingiu a geladeira de uma moradora e, por pouco, ninguém se feriu. Na imagem, é possível ver que o projétil quebrou o vidro da janela e invadiu a cozinha. No dia seguinte, devido ao clima de tensão nos arredores da comunidade, o Colégio Pedro II, em nota oficial, informou que foi obrigado a cancelar as aulas como medida preventiva.
Na mesma semana, uma operação da PM prendeu sete suspeitos, entre eles cinco homens, uma mulher e um adolescente, que estavam escondidos em uma casa na comunidade.
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