A moradora escutou os estilhaços de vidro no momento dos confrontos deste domingo (29)Divulgação / Arquivo pessoal

Rio – A guerra por disputas de território entre facções no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, Zona Norte do Rio, está causando pânico na região. Uma moradora vizinha da comunidade relatou ao DIA que durante confronto de domingo (29), uma bala quebrou a janela da sua casa, entrando pela cozinha e atingindo a geladeira. Agora, ela pensa em se mudar devido à constante sensação de insegurança.
A mulher, que pediu para não ser identificada, relatou que estava em casa por volta das 18h e se assustou com o barulho dos disparos. Segundo ela, baseado no trajeto do projétil, qualquer um na residência poderia ter tomado o tiro.
"No momento do tiroteio, eu estava em casa com minha família. Eram umas 18h, estávamos envolvidos com tarefas da casa e eu fui à cozinha fazer café. Eu peguei as duas xícaras, saí da cozinha e vim para a sala. Quando sentei, vi a movimentação dos caras no meio do morro e chamei meu marido. Nesse momento, a gente escutou muito tiro e logo depois veio o barulho do estilhaço de vidro, e uma bala muito próxima. Aí, pensei: 'Pronto, foi aqui'. Ela transfixou o vidro [da janela] e foi bater na geladeira, exatamente na direção em que qualquer um de nós poderia ter sido atingido."
Após meses de confronto, a guerra no Morro dos Macacos atingiu o estopim nas primeiras semanas do mês. No último dia 14 de dezembro, a Polícia Militar reforçou o policiamento na região após seis dias seguidos de terror, mas disputas continuaram.
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Na manhã de sábado (28), moradores acordaram com um intenso tiroteio, em meio a uma operação do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) na comunidade que terminou com a prisão de seis suspeitos e a detenção de um adolescente. No entanto, horas depois, as trocas de tiro voltaram a acontecer, e segundo a moradora, chegaram ao seu ápice no domingo.
"A gente tem vivido dias de muita aflição, com tiroteios intensos. Mas o tiroteio de domingo, eu nunca vi igual. Foi muito grande, com diversos calibres, armas. Eu não levo mais celular para a rua. Sempre estamos com medo dessa sensação de violência", afirmou.
Ela explicou que mora com a família no local desde 2006. Na época, já havia conflitos, mas ultimamente tem piorado por causa das incertezas sobre o controle da comunidade. "A gente fica vulnerável à questão da guerra, da tomada de poder de outra facção, e a gente não tem noção do que pode acontecer. Se o local vai ficar mais calmo, perigoso, se vamos ficar vulneráveis ao domínio. Essa incerteza que nos deixa mais tensos. É o estresse que a gente vive", lamentou.
Segundo relatos, nos últimos tiroteios, traficantes da facção Terceiro Comando Puro (TCP) estão tentando retomar o domínio da comunidade, perdido para o Comando Vermelho (CV) recentemente. A mulher comentou sobre a constante sensação de insegurança para todos os moradores da região.
"Ficam todos na linha de frente, no meio da guerra. Eu tenho uma amiga que mora lá em cima. Ela tem filhos adolescentes e diz que é um perigo, não tem o que fazer. Você fica impotente no meio desse movimento todo de guerra. A gente não tem a quem recorrer, não sabemos como proceder durante um evento desse. Só temos a certeza que precisamos nos proteger", disse.
Ela compartilhou os planos de se mudar para um local mais seguro. "Meu pai faleceu e deixou um terreno para a gente. Estamos conseguindo uma compradora e com essa graninha, a gente talvez consiga dar entrada em algum lugar fora dessa área complicada", concluiu.