Casarão que desabou no Centro do Rio está sendo demolido nesta sexta (21)Reginaldo Pimenta/Agência O DIA
"Eu estava no balcão quando ouvi três coisas de terra, meu marido achou que era chuva, eu escutei um barulho mais forte e ele falou que era trovoada, mesmo assim eu disse que não era e saímos de perto [...] Eu ainda falei que só acontecendo uma tragédia a prefeitura iria tomar providência. Nisso, o telhado foi vindo de escadinha, eu puxei ele para o lado de fora do depósito e foi a hora que caiu tudo, mas meu funcionário estava lá atrás, eu entrei em desespero e comecei a gritar ele, mas ele disse que estava bem, que não tinha atingido lá", explicou.
A comerciante conta que chegou a comentar com o marido a intenção de construir alguns pilares no bar para segurar as paredes em caso de possível desabamento. Com o susto, Maria relatou que também ficou angustiada após não achar sua gata chamada "Madona". A felina sumiu durante o desabamento e só reapareceu na manhã desta sexta (21).
"O telhado caiu e eu achei que ela estava morta, ela estava desaparecida desde ontem, apareceu hoje. Ela estava embaixo da caixa de guaravita, meu coração agora está livre, eu estava com muito medo dela morrer. Meu marido foi lá hoje, viu e pegou ela”, contou.
Segundo a comerciante, partes do imóvel já haviam despencado outras vezes. "Toda vez que cai, a prefeitura vem e interdita, mas os meninos de rua vão e tiram, fica o dito pelo não dito. Já caíram várias vezes, em uma delas eu estava no banheiro lá nos fundos e a parede caiu ao redor de mim, todo mundo achou até que eu estava morta, graças ao bom Deus não aconteceu comigo. Eu não falei nada com a prefeitura na época porque aquilo era nosso ganha pão, eles iam interditar e como a gente ficaria?", finalizou.
Os militares reuniram 50 homens de seis unidades, incluindo especialistas em salvamento em desastres, além de cães de busca e resgate. A corporação usou mais de 10 viaturas, dentre elas uma auto plataforma mecânica, que auxiliou na varredura aérea do espaço, a mais de 40 metros de altura.
De acordo com a prefeitura, equipes operacionais da Defesa Civil, das secretarias de Conservação e Serviços Públicos e Ordem Pública, da Guarda Municipal, da CET-Rio, da Comlurb e da Subprefeitura do Centro foram deslocadas para a Rua Visconde da Gávea, 73, no Centro, de forma imediata, assim que a informação sobre o desabamento parcial de um imóvel de três pavimentos chegou ao Centro de Operações e Resiliência (COR-Rio).
Interdição
Em função do trabalho das equipes, ainda na manhã desta sexta (21) as ruas Senador Pompeu e Visconde da Gávea permanecem interditadas ao tráfego de veículos. A alternativa para os motoristas é seguir pela Rua Marcílio Dias, a partir da Rua Bento Ribeiro, em frente à Central do Brasil; acessar a Rua Visconde da Gávea, na lateral do Palácio Duque de Caxias; e seguir pela Avenida Marechal Floriano até a Rua Alexandre Mackenzie ou a Avenida Passos.
Casarão estava abandonado
O casarão é privado, mas estava abandonado e não havia moradores no momento do desabamento. O proprietário já havia recebido notificações e intimações da Secretaria de Desenvolvimento Urbano, desde 2014. No entanto, o responsável não tomou qualquer providência.
A Defesa Civil também já havia realizado outras duas vistorias, em 2023 e 2024, e notificado o proprietário. A última ocorreu em 17 de setembro do ano passado, em função da ameaça de desabamento da estrutura. Na ocasião, o prédio apresentava acelerado estado de degradação, sem telhado, com quedas de revestimento, e risco de desprendimento de rebocos da fachada.
O caso está sendo investigado na 4ª DP (Presidente Vargas), que realizou uma perícia no local. Até a manhã desta sexta-feira (21), o delegado Mário Jorge Ribeiro, responsável pelo caso, aguardava um documento da subprefeitura do Centro para identificar o proprietário do imóve e convocá-lo para depor.
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