Rio - Moradores da Praça Seca, na Zona Oeste, viveram momentos de tensão, na manhã desta segunda-feira (21). Após uma violenta troca de tiros na comunidade Bateau Mouche, criminosos atearam fogo em objetos e bloquearam acessos à região. Ônibus e uma unidade de saúde tiveram o serviço impactado. Um suspeito morreu e três foram baleados, incluindo um homem, apontado como liderança do tráfico de drogas na região.
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Segundo a Polícia Militar, agentes do 18º BPM (Jacarepaguá) foram atacados a tiros durante patrulhamento na comunidade, gerando um confronto. A corporação informou que criminosos fugiram para uma área de mata, mas quatro deles ficaram feridos. Três fuzis e uma pistola foram apreendidos.
Rubens Carneiro Siqueira, o Rubinho, apontado como líder do tráfico da Bateau Mouche e na Covanca, membro do Comando Vermelho (CV), foi baleado e preso. O homem e mais três seguranças, também atingidos, foram socorridos e levados para o Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste. Um dos seguranças morreu.
Logo após o tiroteio, equipes estiveram na Rua Cândido Benício, altura da Rua Barão, para retirar barricadas em chamas. O caso aconteceu no sentido Tanque.
A Cândido Benício, que chegou a ficar interditada, ficou com resquícios do crime. A via é uma das mais movimentadas da região, ligando Campinho, na Zona Norte, até o Tanque, na Zona Oeste. O Centro de Operações e Rio (COR) orientou o uso de rotas alternativas para chegar ao Tanque e na Taquara, como a Estrada Intendente Magalhães e a Estrada do Catonho.
"Os policiais do 18º BPM tinham uma informação de um baile funk acontecendo na comunidade. Os agentes fizeram uma ação e encontraram o Rubinho, que é chefe do tráfico da comunidade e da Covanca, junto com três seguranças. Eles acabaram presos e feridos. Durante essa ação houve fechamento da via para que pudéssemos atuar e para que o tráfego não viesse a ser atingido com o confronto. O policiamento segue reforçado na região", comentou o major Maicon Pereira, porta-voz da PM.
A ação impactou os serviços de ônibus na região. Passageiros de um BRT tiveram que se abaixar para se proteger de tiros. De acordo com a Mobi-Rio, a operação dos serviços que passam pela Praça Seca foram afetadas, ambos os sentidos, por motivo de segurança, por mais de 30 minutos.
A estação Tanque, também na Zona Oeste, ficou completamente fechada durante o clima de tensão. "Vim da Taquara e estava indo para a Praça Seca. Desde às 7h que estou aqui. Avisei ao meu patrão e já estão todos cientes. Começar a semana assim, né? É difícil, mas é o nosso dia a dia", comentou a passageira Tatiane Santos.
Por volta das 8h50, a Mobi-Rio informou que a operação foi liberada em ambos os sentidos e que os serviços entraram em processo de normalização de intervalos.
O Sindicato das Empresas de Ônibus da Cidade do Rio de Janeiro (Rio Ônibus) destacou que os coletivos municipais também sofreram impactos no itinerário.
Já a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) disse que uma unidade de saúde que atende a região da Praça Seca manteve o atendimento a população, mas suspendeu atividades externas realizadas, como visitas domiciliares.
Segundo a PM, o policiamento está reforçado na localidade. No início da tarde, criminosos jogaram bombas na direção de policiais na Rua Almirante Melquíades de Souza.
Linhas do BRT afetadas no período
31 - Alvorada x Vicente de Carvalho (Semidireto) 35 - Alvorada x Paulo da Portela (Parador) 40 - Alvorada x Paulo da Portela (Expresso) 41 - Recreio x Paulo da Portela (Expresso) 43 - Sta. Efigênia x Fundão (Expresso) 46 - Alvorada x Penha (Expresso)
Rubinho
De acordo com o major Maicon, Rubinho está envolvido em um triplo homicídio que aconteceu em Paty dos Alferes, no Sul Fluminense, em dezembro do ano passado, contra uma família. Além disso, o traficante tem relação com as disputas territoriais que ocorrem na Zona Oeste.
"Essa prisão do Rubinho acaba sendo importante porque tiramos um criminoso já envolvido em homicídios no interior, ou seja, que transcende a atuação da região de Jacarepaguá. Ele também é responsável pelo tráfico de drogas e por roubos de cargas nessa região e busca a expansão territorial do tráfico. Ele tem papel fundamental nesses confrontos e causa uma instabilidade na região já que é um dos criminosos mais respeitados e influentes", explicou.
Os fuzis apreendidos tinham inscrições fazendo referência à comunidade 700, em Jacarepaguá. "Um fuzil com luneta, outro com capacidade de munição aumentada, a gente vê um poderio bélico alto. Esses fuzis tem a inscrição de 700, que é outro local que a facção montava uma base para a venda de drogas aqui em Jacarepaguá. A gente vê uma tentativa de expansão grande da facção", disse o major.
Região marcada por conflitos
A comunidade Bateau Mouche atualmente é controlada pelo Comando Vermelho (CV), mas historicamente já sofreu com o controle do Terceiro Comando Puro (TCP) e de milicianos. A região corriqueiramente passa por confrontos entre grupos rivais pelo território.
No início de julho, houve uma tentativa de invasão do TCP em áreas dominadas pelo CV, de acordo com testemunhas. Em publicações, traficantes esbanjavam fuzis adquiridos durante confrontos e moradores revelavam o terror em meio ao fogo cruzado. A guerra teria envolvimento da traficante Eweline Passos Rodrigues, 28 anos, conhecida como Diaba Loira. Ela deixou o CV e passou a integrar o TCP.
Segunda vez em uma semana
Na última terça-feira (15), o serviço de BRT também foi impactado devido a violência que assola a cidade do Rio. Em Madureira, na Zona Norte, a circulação dos articulados no corredor Transcarioca ficou suspensa após a interdição da Avenida Ministro Edgar Romero durante uma operação na comunidade da Serrinha.
Além do BRT, o Rio Ônibus informou que bandidos abordaram 15 ônibus de linhas municipais em diferentes vias, como a Edgard Romero, a Avenida Ernani Cardoso e Rua Herculano Pena. Um coletivo foi sequestrado para servir como barricada.
Dados sobre violência
Um levantamento do Instituto Fogo Cruzado aponta um crescimento no número de tiroteios entre facções criminosas rivais na Região Metropolitana do Rio. Houve um aumento de 104, em 2024, para 154 em 2025. O número representa um aumento de 48%, além de um recorde na série histórica elaborada pela instituição.
De acordo com o relatório, neste período, o Morro dos Macacos, em Vila Isabel, o Morro do Fubá, entre Cascadura e Campinho, o Juramento, em Vicente de Carvalho - todos na Zona Norte - e o Catiri, em Bangu, na Zona Oeste, concentram mais da metade (57%) dos confrontos ocorridos durante disputas de território no primeiro semestre.
Ainda segundo o estudo, o número de pessoas baleadas no Grande Rio voltou a crescer nos primeiros seis meses do ano. Ao todo, 816 pessoas foram atingidas por disparos de arma de fogo: 406 morreram e 410 ficaram feridas no período. Houve aumento de 6% no número de mortes e de 14% no de atingidos, em comparação com o mesmo período de 2024, que registrou 744 baleados, com 383 mortos e 361 feridos.
Os disparos atingiram ao menos 56 pessoas dentro de automóveis, 44 dentro de bares e outras 40 quando estavam dentro de casa. Houve, ainda, 12 pessoas vítimas de tiro quando participavam de eventos, cinco atingidas dentro de transporte público, quatro dentro de barbearias e três atingidas dentro de unidades de ensino.
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