Comportamento dos motociclistas no trânsito será monitorado pela plataforma Foto: Reprodução Rede Social
O novo monitoramento faz parte de uma parceria firmada em maio com a prefeitura, visando a um compartilhamento de dados com o poder público que permita um melhor planejamento urbano no cenário de crescente uso de motocicletas na cidade.
Por meio da telemetria, a plataforma vai conseguir identificar com maior precisão freadas bruscas, curvas perigosas, excesso de velocidade e outros comportamentos arriscados no trânsito, produzindo uma pontuação que será atribuída a cada motociclista para que ele possa se atentar ao seu desempenho. A reincidência nesses comportamentos poderá levar ao bloqueio do condutor, disse Abecassis.
“Mais do que punir ou qualquer outro tipo de atitude, o principal objetivo é educar, informar que o comportamento deve ser ajustado”, afirma o executivo. “A ideia não é tirar a forma de ganha-pão do trabalhador, mas a gente precisa que os acidentes não aconteçam”, acrescenta.
Abecassis avalia que a telemetria representará um avanço na forma de monitorar o cumprimento das regras de trânsito na plataforma, que hoje é mais dependente das sinalizações dos usuários. O sistema atual já permite acompanhar os limites de velocidade por meio do GPS dos celulares, mas depende de uma denúncia dos passageiros para identificar outras formas de desrespeito ou direção perigosa.
O monitoramento das viagens por telemetria é uma tecnologia já utilizada há 5 anos na China pela DiDi Chuxing, multinacional da qual a 99 faz parte. No Brasil, o desenvolvimento dessa inovação conta com uma parceria com o Instituto Mauá de Tecnologia (IMT).
Aumento da frota
Com a expansão da frota em ritmo acelerado, a cidade buscou as plataformas para discutir como tornar o trânsito mais seguro. Entre dezembro de 2018 e agosto de 2025, a frota de motos saltou de 305 mil para 462 mil no Rio de Janeiro, um aumento de mais de 50%, segundo dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran).
Essa explosão tem sido sentida no sistema público de saúde, onde, de janeiro a junho deste ano, foram atendidas 14.497 vítimas de sinistros com moto em hospitais de urgência e emergência da rede municipal do Rio de Janeiro.
Segundo pesquisa contratada pela plataforma junto ao think tank Instituto Cordial, a proporção de usuários do 99Moto envolvidos em sinistros de trânsito a cada 1 milhão de viagens na cidade diminuiu ao longo do ano de 2023 e estabilizou em 2024.
No Rio de Janeiro, no ano passado, houve nove sinistros de trânsito considerados leves, sem internação, a cada 1 milhão de viagens, o que supera a média nacional, de cinco a cada 1 milhão.
Em relação a sinistros graves, quando há internação, houve menos de um a cada 1 milhão de viagens, enquanto a média nacional é de três a cada 1 milhão. No caso dos sinistros com morte, tanto o Rio quanto o Brasil têm menos de uma ocorrência a cada 1 milhão de viagens, segundo a pesquisa do Instituto Cordial.
O estudo conclui que, em comparação com o total de viagens de moto na cidade, a taxa de sinistros graves e fatais nas corridas do aplicativo é 12 vezes menor.
O diretor de operações do Instituto Cordial, Luis Fernando Villaça, avalia que o transporte profissional de passageiros monitorado por uma plataforma faz com que os motociclistas sejam menos imprudentes que aqueles que fazem viagens pessoais, que os que pilotam mototáxis sem monitoramento ou ainda que os entregadores.
“Cada uso da motocicleta têm fatores de risco que são bem específicos. A gente precisa entender cada um desses contextos, para conseguir ter práticas mais efetivas. A motocicleta é uma realidade inegável, a gente teve um aumento de frota muito significativo, que deu acesso à mobilidade e oportunidade de emprego para muita gente. Enquanto a gente não tiver transporte coletivo capilar, barato e realmente acessível, a tendência é que os usos de motocicletas fiquem cada vez mais acentuados. E a gente precisa fazer com isso seja seguro”, afirma.
Velocidade
“Lidar com a velocidade é a forma mais rápida de você reduzir a sinistralidade e a fatalidade no trânsito”, diz.
Para a professora adjunta do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Transporte do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) Marina Baltar, rever os limites de velocidade na cidade, especialmente nas vias expressas, é uma questão urgente.
“Tecnicamente, a gente sabe a importância, mas os moradores têm resistência. Então, muitas vezes, a gente vê uma resistência [dos agentes públicos] pela impopularidade que a questão da segurança viária traz. A gente precisa quebrar essa barreira e mostrar para a população que é um ganho. A gente só conseguiu colocar cinto de segurança nas pessoas depois de uma batalha muito grande”, defende.
Em maio, a Prefeitura chegou a anunciar um limite de velocidade de 60 km/h para motos na cidade, mas depois recuou.
O diretor de engenharia de tráfego da CET-Rio, André Drummond, acredita que a geografia da cidade, com áreas de menor densidade populacional e grandes deslocamentos, dificulta o convencimento da população de que é preciso reduzir os limites de velocidade.
“No imaginário do cidadão comum, diminuir a velocidade é aumentar o tempo de deslocamento, e o tempo de deslocamento já é gigante. A gente tem que desconstruir essa lógica. O que causa o trânsito não é só o volume de carros, é o sinistro de trânsito, um carro quebrado”, diz.
Drummond defende outras medidas adotadas na cidade, como as faixas exclusivas para moto e os pontos de apoio para motociclistas de aplicativo, que estão em expansão. Ele revela que a cidade também está trabalhando em um mapa de velocidade, para padronizar os limites de velocidade em vias de características similares.
“A falta de padronização de velocidade gera uma insegurança no motorista. O primeiro passo talvez seja a padronização das velocidades”, avalia.
Lesões
“Como as contusões ao tronco e membros, as entorses das articulações de carga [joelho e tornozelo] em um reflexo de proteção, ou pelo reflexo de apoio [punhos e mãos], além de distensões musculares, escoriações, feridas com potencial de infectar e necessitar cuidados contínuos pós trauma”, exemplifica.
“Nos centros de trauma, a frequência maior é de média e alta complexidade das lesões, mas, mesmo as de baixa, podem comprometer temporariamente as atividades destas vítimas”, destaca.
Musafir lembra que estudos da Sbot junto aos serviços de ortopedia e traumatologia de todo país têm confirmado a tendência de aumento do número de pacientes vítimas dos veículos de duas rodas, com lesões cada vez mais graves e complexas e tempo de internação prolongado.
“Por isso, a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia está lançando em 2025 a campanha 'Na Moto, Na Moral - não mate, não morra', para chamar a atenção da sociedade e dos poderes executivo e legislativo sobre a importância de se reduzir os acidentes de moto, que estão cada vez mais graves, gerando lesões mais complexas e mortes. Esse é um problema sério de saúde pública e nós ortopedistas temos compromisso com a sociedade em ajudar a encontrar caminhos para reverter”.
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