Rio - Após a megaoperação considerada a mais letal da história do Rio, moradores levaram mais de 60 corpos à Praça São Lucas, na Estrada José Rucas, uma das principais do Complexo da Penha, na Zona Norte, entre a madrugada e manhã desta quarta-feira (29). Segundo o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, o número de mortos chega a 119, sendo 115 traficantes e quatro policiais.
No entanto, moradores ainda resgatam mais corpos na área de mata da Vacaria, na Serra da Misericórdia, onde ocorreram os principais confrontos entre as forças de segurança e criminosos. Os números podem crescer até o fim do dia.
Na região, uma equipe do DIA acompanha o caso. Em imagens chocantes é possível ver os corpos enfileirados no chão sob uma lona, a maioria com marcas de tiros no peito, cabeça e na barriga.
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O transporte dos cadáveres está sendo feito com caminhonetes da própria população. Em meio ao desespero das famílias, uma mãe foi flagrada beijando o corpo do filho. A todo momento, parentes chegam para reconhecer as pessoas. Na praça, um padre também esteve presente, fazendo uma oração junto aos moradores.
Ao longo da manhã, parte dos corpos começaram a ser retirados pela Defesa Civil e encaminhados ao IML. No instituo, os cadáveres também foram enfileirados na porta devido a grande quantidade.
De acordo com números oficiais disponibilizados em coletiva de imprensa, 58 mortos foram encontrados na terça (28), incluindo os agentes, e 61 nesta quarta (29). Além disso, 113 criminosos acabaram presos, sendo 33 deles de outros estados, e mais 10 adolescentes foram apreendidos.
"Todo trabalho de inteligência foi meticulosamente calculado, e deu certo, exatamente o que nós queríamos, o cenário que nós projetamos foi o que encontramos na data de ontem", afirmou Curi.
Em relação aos mortos, Curi frisou que as únicas vítimas são os policiais. "Hoje em dia todo mundo é vítima: o ladrão é vítima da sociedade, o traficante, outro dia, é vítima do usuário... Ontem, o filho do traficante Marcinho VP disse que, por trás do fuzil, há uma pessoa, até o fuzil virou vítima. Quero falar também para quem quis rotular essa operação de chacina: chacina são mortes indiscriminadas, de pessoas aleatórias. O que fizemos foi uma ação legítima do Estado. Quem optou pelo confronto foi neutralizado. A ação da polícia depende da ação dos criminosos", afirmou.
Como o alto número de mortes, a Polícia Civil informou que o atendimento às famílias ocorrerá no prédio do Detran localizado ao lado do Instituto Médico Legal (IML), a partir das 8h. Nesse período, o acesso ao IML será restrito à instituição e ao Ministério Público, que realizam os exames necessários. As demais necropsias, sem relação com a operação, serão feitas no IML de Niterói.
Apoio as famílias
A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj (CDDHC) realiza, na manhã desta quarta-feira (29), atendimento no Complexo do Alemão, em parceria com diversas instituições, para acompanhar os desdobramentos da operação policial que resultou em mais de 100 mortos.
No dia anterior, a Comissão oficiou o Ministério Público do Estado, a Polícia Civil, a Polícia Militar e o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), responsável pelo comitê de monitoramento da ADPF 635, solicitando informações urgentes sobre o planejamento, a execução e as responsabilidades pela ação. O documento também pede especial atenção ao uso da força nesse contexto de operação.
A Defensoria Pública informou também que através da Ouvidoria e do Núcleo de Direitos Humanos (NUDEDH) tem ouvido e acolhido os moradores dos locais afetados e os familiares das vítimas fatais.
Nesta quarta (29), desde as primeiras horas, o NUDEDH segue acompanhando os desdobramentos da operação, com a presença de Defensores Públicos e toda equipe no Complexo da Penha e no IML do Rio e de Niterói para identificação dos corpos das vítimas. Além disso, Defensores Públicos atuam junto às audiências de Custódia e no Núcleo de Atendimento Integrado (NAI) para oitiva dos adolescentes apreendidos.
Megaoperação
A megaoperação também resultou na apreensão de 91 fuzis, 26 pistolas, um revólver, 14 artefatos explosivos, centenas de cartuchos e toneladas de drogas. O governo do Rio diz que esta foi a maior ação integrada das forças de segurança dos últimos 15 anos. A Operação Contenção mobilizou mais de 2,5 mil policiais civis e militares. O objetivo foi capturar lideranças criminosas e conter a expansão territorial do Comando Vermelho.
Em maio de 2022, outra grande operação na Vila Cruzeiro, também na Zona Norte, deixou 24 mortos. Mesmo somando os óbitos das ações de 2021 e 2022, o total não supera o número de óbitos da operação desta terça-feira
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