José Alves considera "piada" o governo alegar que os dados estão no portal da transparência Foto Twitter/Divulgação

São João da Barra – De uma população estimada de 36 mil pessoas, em recente divulgação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 17 mil vivem em extrema pobreza no município de São João da Barra. Um dos fatores que pesam, segundo pesquisadores, é a falta de investimentos capazes de gerar renda e empregos reais no município.
Dados recentes do Ministério da Cidadania (de março/2023) mostram que o município onde está instalado o Porto do Açu detém maior índice de desigualdade social entre os considerados ricos da região Norte Fluminense: “É uma dura e vergonhosa realidade”, comenta o professor universitário e analista administrativo José Alves de Azevedo Neto.
Economista e pesquisador lotado no Núcleo de Pesquisa Econômica do Rio de Janeiro (Nuperj), da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), José Alves ressalta que os números retirados do Cadastro Único do Ministério da Cidadania ilustram um quadro paradoxal em relação ao município administrado pela prefeita Carla Caputi.
- Hospedeiro de um dos mais pujantes condomínios econômicos do país, o Porto do Açu, financiado por dois fundos de investimentos da esfera internacional, a extrema pobreza sanjoanense afeta o quantitativo de 17.294 pessoas; ou seja, 47,08% dos habitantes - pontua.
Em nível nacional, as pesquisas apontam que extrema pobreza, embora aquém das expectativas, sofreu redução. No entanto, o pesquisador destaca que, no interior do Estado do Rio de Janeiro, falta de políticas públicas de assistência social efetivas mantém São João da Barra em destaque no mapa da fome.
- Chega-se a conclusão de que a triste realidade social e contraditória define um município rico, mas incapaz de implementar uma política social séria, capaz de impedir que os seus filhos fossem submetidos à humilhação da extrema pobreza – reforça José Alves.
A Câmara Municipal acaba de aprovar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2024, estimada em um valor superior a R$ 850 milhões. Na prática, a receita pode passar de R$ 1 bilhão, considerando-se que em 2022 foi feita projeção na faixa de R$ 400 milhões e arrecadou-se mais de R$ 800 milhões.
MODELO FRACASSADO - Na configuração do paradoxo definido por José Alves e outros especialistas da área econômica e de gestão pública, enquanto o município arrecada somas elevadas – inclusive já tendo faturado parte significativa dos cerca de R$ 20 bilhões gerados pelo Porto do Açu, no acumulado de 2014 até agora – devolve muito pouco em investimentos.
“O fracasso do modelo administrativo é notório; enquanto a prefeitura nada nos milhões, os índices sociais continuam baixos e a população fica a ver navios”. José Alves considera “fictícia, uma piada” a transparência que o governo diz ter: “Existisse realmente transparência, todos esses dados estariam no portal específico da prefeitura”.
O analista sugere a quem duvidar de que desde o início da operação, há nove anos, o complexo portuário já depositou montante expressivo nos cofres da prefeitura, basta consultar no site https://portodoacu.com.br/o-porto/.
“Uma pergunta não quer calar: cadê o desenvolvimento econômico e social municipal?”, questiona José Alves concluindo: “O que observamos na atual conjuntura é muito sofrimento da população; isso é lamentável”. O Dia tentou ouvir o governo, mas não obteve retorno à mensagem via WhatsApp.