
Há onze anos consecutivos apresentando 'A Alma Imoral'(em cartaz simultaneamente em São Paulo), Clarice Niskier leva à cena sua segunda peça em parceria com o diretor Amir Haddad. Estreia no domingo, às 19h30, no Centro Cultural Municipal Parque das Ruínas, em Santa Teresa, o novo espetáculo da atriz, 'A Lista'.
A peça fala da necessidade de atingir o máximo de produtividade possível, 'otimizando' o tempo para o maior número de tarefas. Uma exigência cada vez maior, especialmente nos grandes centros urbanos. E aborda também a solidão que muitas vezes acompanha todo este movimento.
"É um convite à reflexão sobre nossa percepção em relação àqueles que nos cercam. Nos idealizamos como seres impecáveis, perfeitos, superiores. Vamos nos isolando, nos fechando afetivamente para o outro", afirma Clarice. A atriz dá vida a uma personagem (cujo nome nunca é citado na peça) que mora no campo, casada, mãe de três filhos. Ela sente falta da rotina urbana que deixou para trás e se sente ainda mais inadequada quando se compara à sua 'perfeita' vizinha, que parece levar uma vida feliz. Já Clarice, na peça, atormenta-se para estar em dia com todas as tarefas. E encaixa o mundo dentro de listas intermináveis.
Diferentemente da personagem, Clarice diz que lida melhor com essa "pressão". "Como tenho muito entusiasmo de fazer o que faço, respondo bem à exigência de produtividade. Minha arte me alimenta muito", diz. Mas propõe uma reflexão: "Tento manter um senso crítico em relação a isso. Essa exigência me seduz de certa maneira. Porque por outro lado também fico seduzida de colocar um freio e de trabalhar para que eu possa também me dedicar ao meu mundo emocional, íntimo, afetivo, de uma forma equilibrada. É esse o tema da 'Lista'".
Sozinha em cena mais uma vez, a carioca confessa gostar da troca íntima com o público. "O monólogo impõe uma conversa com a plateia de uma forma profunda. E exige de mim uma presença que não tem escapatória, tem de ser cem por cento. Mais que cem por cento", conta Clarice, rindo. "E claro que busco sempre dar esse máximo".
As listas geram a solidão ou a solidão geral geram as listas? "Acho que uma alimenta a outra. À medida que você faz uma lista e consegue cumprir, você tem a sensação de controle sobre a vida. O prazer momentâneo do controle te faz produzir mais listas. E isso pode aumentar sua solidão, principalmente quando o outro não está incluído nelas".