Brasília - Horas após se ver como protagonista de uma revelação que ameaça sua permanência no governo Temer, o ministro do Planejamento, Romero Jucá, sentou-se diante da imprensa para rechaçar a tentativa de obstruir a investigação da Lava Jato, defender a operação e garantir que permanecerá chefiando a pasta do Planalto.
LEIA MAIS: Em gravações, Romero Jucá fala em pacto para acabar com a Lava-Jato
Na entrevista coletiva, Jucá criticou a reportagem do jornal Folha de S. Paulo que divulgou uma série de gravações de conversas entre ele e o ex-senador Sérgio Machado nas quais o ministro que escancaram a tentativa de obstruir a operação da força-tarefa federal – que tem o peemedebista entre os alvos de investigação.
Ele, que esteve pela manhã com Temer para debater a situação crítica, afirmou que a publicação tirou do contexto original as conversas tidas com Machado, que teriam sido focadas nas crises econômica e política.
"O que vemos no jornal Folha são frases soltas dentro de um diálogo que ocorreu [...] A matéria não colocou todo o contexto, como é a questão da sangria da economia [...] Os mesmos argumentos termos que estão lá [nas gravações] estão aqui [em entrevistas recentes do ministro] Este é um posicionamento permanente."
Jucá não teve vida fácil durante a coletiva de imprensa. Jornalistas não o pouparam e o pressionaram com questões como sua saída do governo ou se sua explicação a respeito das gravações seria mesmo crível para justificar o conteúdo das conversas.
Sem demonstrar tanta tranquilidade, o ministro afirmou ser o maior interessado em esclarecer a situação atual e garantiu ser o maior defensor da continuidade da Operação Lava Jato, apesar de ser um de seus investigados.
"Não há nenhum demérito em ser investigado, todos podem ser. O demérito é ser condenado. Não tenho temor de ser investigado na Lava Jato, não tenho nada a temer e não devo nada a ninguém [...] Se tivesse telhado de vidro não teria assumido a presidência do PMDB num momento de confronto com o PT, de processo de afastamento de Dilma. Se tivesse algum medo, não teria meu posicionamento claro e cristalino desde 2012 [sobre o governo petista]", prosseguiu o ministro.
"Delimitar resposabilidade não é parar investigação. Portanto, lamento que o enfoque da Folha tenha sido este. Delimitar é apontar responsabilidades. É evitar a sangria, o sofrimento da sociedade brasileira. Sangria não é Lava Jato. Ninguém em sã consciência deve entender que isso é uma forma de barrar a Lava Jato."
Assim como se complicou na tentativa de explicar a suposta tentativa de obstruir a investigação, Jucá não conseguiu esclarecer direito a citação do nome de Aécio Neves e do relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, ministro Teori Zavascki.
Nas gravações, o peemedebista afirma que "Aécio vai ser o primeiro a ser comido" pela tentativa das autoridades de derrubar políticos corruptos e diz que Zavascki é uma pessa fechada ao ser indagado sobre a possibilidade de um contato com o magistrado para supostamente tentar obstruir a investigação.
"É importante o Supremo participar para construir um arcabouço legal. Nessa reconstrução do Brasil, os três poderes são fundamentais", afirmou Jucá.