Santos - Se na abertura do Mirada - Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos a peça '4' passou incólume, na última sexta, a montagem do encenador Rodrigo García recebeu protestos de ativistas pelos direitos dos animais e o Sesc Santos foi multado em R$ 2.000 pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente. A autuação tem como base a lei complementar aprovada em 2004 que diz: "Fica proibida a concessão de alvará de licença, localização e funcionamento aos circos e outros estabelecimentos de diversão que utilizem em seus espetáculos animais selvagens ou domésticos, sendo vedada também a exibição de animais em logradouros públicos".
O espetáculo do La Carniceria Teatro integra a programação do Mirada e apresentou, em uma de suas cenas, quatro galos usando tênis Nike. Antes da sessão começar, um grupo de manifestantes se reuniu na entrada do teatro com placas contendo frases que acusavam o festival e o espetáculo de promoverem o sofrimento de animais.
Na obra, García cria diversas cenas aleatórias para criticar o consumismo. Em uma delas, quatro atores trouxeram os galos ao palco, enquanto um drone sobrevoava a montagem. Durante a apresentação, o elenco ainda colocava os animais dentro de casacos e calças. Nesse instante, várias pessoas se levantaram e uma mulher gritou: "Isso não é arte! Vocês não podem fazer isso!". Aos poucos, outros se juntaram ao protesto, questionando a curadoria do festival sobre a inclusão do espetáculo na programação. Na sequência, duas mulheres subiram no palco para tentar retirar os animais, que aparentemente, estavam calmos. "Eles estão dopados", uma delas alertou.
Com o espetáculo paralisado, outros integrantes da plateia replicaram o protesto, afirmando que se tratava de hipocrisia dos manifestantes. Em cerca de dez minutos, parte do público deixou o teatro.
Outros ingredientes da peça também causaram polêmica, como as duas crianças vestidas de top model, um homem que joga tênis diante do quadro A Origem do Mundo, de Gustave Courbet, e uma entrevista entre duas mulheres sobre posição sexual.
Na semana passada, o jornal "O Estado de S. Paulo" consultou a direção do Sesc Santos sobre possíveis protestos à peça 4. Em nota, o coordenador de Programação, Luiz Fernando Silva, explicou que a instituição "não interfere no processo criativo dos autores e só programa os espetáculos que cumprem todas as normas, cuidados e procedimentos necessários para utilização de animais em cena, como é o caso de 4".
A reportagem procurou a direção do Sesc e o gerente da unidade e coordenador-geral do Mirada, Luiz Ernesto Figueiredo, informou que o a instituição vai recorrer da autuação. "Acreditamos estar amparados pela lei estadual, no que diz respeito aos cuidados dispensados aos animais. O próximo passo será verificar qual das leis se aplica a essa situação em particular."