Brasília - No dia em que se tornou alvo de investigação do Supremo Tribunal Federal com base na delação dos irmãos Joesley e Wesley Batista, donos do frigorífico JBS, o presidente Michel Temer (PMDB) contra-atacou e disse que não vai renunciar ao cargo que assumiu um ano e seis dias após o afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff.
Em pronunciamento em rede nacional, Temer disse que as denúncias são baseadas em gravações clandestinas e cobrou do Supremo investigação rápida. O presidente foi categórico ao afirmar que não comprou o silêncio de ninguém — segundo a delação, ele teria autorizado pagamento de mesada a Eduardo Cunha —, nem autorizou que usassem seu nome para isso.
"Primeiramente, me dirijo à nação e só falo agora porque precisei conhecer o conteúdo dos documentos da delação, que solicitei ao STF e não conseguiu. O Brasil viveu, nesta semana, seu melhor e pior momento. Os indicadores mostravam queda da inflação, o crescimento da economia e geração de empregos que criaram esperança de dias melhores. Uma conversa gravada de forma clandestina trouxe de volta o fantasma da crise política", disse Temer.
"Aviso que não renunciarei. Não vou renunciar porque não tenho nada a esconder. Não preciso de cargo público nem de foro especial. Não comprei o silêncio de ninguém. A investigação do STF será o território onde surgirão todas as explicações e no Supremo demonstrarei minha inocência. Não renunciarei. Repito: não renunciarei. Sei o que fiz e sei da correção dos meus atos. Exijo investigação plena e rápida, tão rápidas quanto as investigações clandestinas".
Nesta quarta-feira, veio à tona o conteúdo das deleções dos donos do grupo JBS. Joesley Batista, que disse ter gravado um áudio do presidente dando aval para a compra do silêncio de Eduardo Cunha (PMDB), ex-presidente da Câmara, peça fundamental do impeachment de Dilma Rousseff, que foi preso pela Lava Jato.
O relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Edson Fachin autorizou na manhã desta quinta-feira a abertura de inquérito para investigar as denúncias contra o presiente Michel Temer.
Segundo o STF, a delação de Joesley e de seu irmão, Wesley Batista, foi homologada nesta quinta-feira. Assim como determina a Constituição, o presidente só pode ser investigado por atos cometidos durante o mandato e após a autorização do Supremo.
A conversa com Temer teria ocorrido no dia 7 de março deste ano, no Palácio do Jaburu, residência do presidente. No diálogo, Joesley teria dito ao peemedebista que estava pagando uma mesada a Cunha e a Lúcio Funaro, apontado como operador do ex-presidente da Câmara, também preso na Lava Jato, para que ambos ficassem em silêncio sobre irregularidades envolvendo aliados. "Tem que manter isso, viu?", disse Temer a Joesley, segundo relatou o colunista Lauro Jardim, no site do jornal O Globo.
Governo marcado por medidas impopulares e quedas de ministros
O Governo Temer vem sendo marcado por medidas impopulares e a queda de ministros. Foram trazidas à tona diversas propostas econômicas, como o controle dos gastos públicos, por intermédio da já aprovada PEC 55, que impõe limites a gastos futuros do governo federal; a polêmica Reforma da Previdência, que está em fase de discussão; uma reforma trabalhista; aprovada na Câmara, e a liberação da terceirização para atividades-fim, esta já aprovada na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.
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Na Educação, Temer apresentou a reforma do Ensino Médio. A mudança institui a substituição das treze matérias que, no momento, formavam a grade curricular do ensino médio pelos chamados itinerários formativos. Os itinerários foram agrupados em cinco grandes conjuntos: linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e formação técnica e profissional.
Na Segurança, Temer se deparou com uma forte crise no sistema carcerário, com rebeliões violentas em presídios no Norte e Nordeste do País. Ele anunciou as primeiras medidas do Plano Nacional de Segurança, incluindo a construção de cinco presídios federais para criminosos de alta periculosidade.
Temer perdeu sete ministros, todos envolvidos em polêmicas: Romero Jucá, Geddel Vieira Lima, Fábio Medina, Henrique Eduardo Alves, Marcelo Calero, Fabiano Silveira e José Serra.
A primeira baixa aconteceu em maio quando o ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão Romero Jucá foi flagrado em áudios vazados com o ex-presidente da Transpetro falando em “estancar a sangria”, se referindo à Operação Lava Jato.
Fabiano Silveira, na pasta da Transparência foi flagrado em gravações feitas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado onde fazia críticas a Operação Lava Jato e dava conselhos ao presidente do Senado Renan Calheiro.
Henrique Alves após ser citado na delação premiada do ex-presidente da Transpetro Sergio Machado. Machado diz ter pago 1,55 milhão de reais a Alves. Fábio Medina foi demitido após fazer críticas ao governo, sob a justificativas de que não conseguiu se firmar no cargo e tinha dificuldade de dialogar com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Durante o pronunciamento de Temer, foram ouvidos panelaços em vários bairros do Rio, como Ipanema, Humaitá e Barra da Tijuca. Pelas janelas e mesmo na rua, pessoas gritaram palavras de ordem contra o presidente. "Fora Temer" foi a mais comum.
Repercussão internacional
Os jornais internacionais continuam a acompanhar os desdobramentos da crise em Brasília, e destacam as declarações do presidente.
"O combalido presidente brasileiro Michel Temer diz que vai lutar contra as alegações de que tenha endossado o pagamento de propina para um ex-parlamentar preso por corrupção", diz o New York Times. "Não renunciarei, não comprei o silêncio de ninguém", destaca o jornal argentino La Nacion, com uma galeria de fotos do peemedebista.
O portal online do Clarín, também na Argentina, dá destaque à crise no Brasil. "Temer: Não renunciarei", diz manchete do site acompanhada de uma grande foto do presidente. Em uma análise da situação, especialistas afirmam que o acontecimento também é duro golpe para a Argentina.
Já o Washington Post não deu muito destaque para o caso, mas contextualiza a crise brasileira para seus leitores, afirmando que o governo brasileiro afundou em crise. Na França, o Le Monde também dá pouco destaque para o assunto, disponibilizando as notícias apenas na sessão internacional.
Na Europa, o britânico financial Times destaca em sua página principal o efeito da crise política nas ações brasileiras. Também no Reino Unido, o site internacional da BBC aborda o impacto no mercado de ações, observando o tombo de mais de 10% das ações brasileiras que resultou no acionamento do circuit breaker na Bolsa de São Paulo. O Ibovespa fechou hoje em queda de 8,80%, aos 61.597,05 pontos.
O site do jornal Público português vem disparando durante toda a tarde o passo a passo da crise. A última frase disparada pela publicação aos seus assinantes informa: Brasil: "Não renunciarei", diz Temer. Anteriormente, o periódico vinha acompanhando as decisões de políticos e partidos que estão abandonando o apoio ao presidente.
Com informações do Estadão Conteúdo