Por thiago.antunes

Brasília - O Supremo Tribunal Federal (STF) divulgou, no fim da tarde desta quinta-feira, as gravações que integram a delação premiada da JBS. Mais cedo, o STF enviou o arquivo para a Presidência da República. O áudio, de 39 minutos, registra conversas entre um dos donos da JBS, Joesley Batista, e o presidente Michel Temer.

Ouça, abaixo, partir dos 9 minutos.

Aos 11min39s da gravação, Joesley pergunta a Temer como está a relação dele com Eduardo Cunha e diz: "Eu tô bem com o Eduardo". Temer diz: "Tem que manter isso". Joesley concorda: "Todo mês" (tal trecho seria referente ao pagamento de propina para comprar o silêncio de Eduardo Cunha).

Joesley afirma que está enrolado em um processo. Ele diz "dei conta de um lado do juiz dar uma segurada, do juiz substituto". Ao que Temer pergunta: "Tá segurando os dois?". Joesley diz que sim e diz ter conseguido alguém da força tarefa para lhe dar informações e que está para "dar conta de trocar o procurados que está atrás de mim".

Joesley pergunta quem pode ser interlocutor entre ele e o presidente. "Qual a melhor maneira de falar contigo, porque eu vinha falando através do Geddel...é o Rodrigo?". "O Rodrigo", responde Temer. "É rapaz de minha estrita confiança", continua o presidente.

"Se for alguma coisa que eu precisar eu falo com o Rodrigo, se for algum assunto desse tipo aí...", diz Joesley. Trata-se de referência ao deputado Rodrigo Rocha Loures, assessor muito próximo do presidente.

E continua: "Funcionou super-bem, à noite, venho aqui, a gente conversa dez minutinhos, meia horinha, eu vou embora".

Na gravação, Joesley e Temer falam da relação com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. O empresário pede ao presidente um "alinhamento" para resolver com o ministro assuntos de interesse dele junto ao Cade e ao BNDES.

Joesley se queixa da ação de procuradores e conta sobre um "seguro". "Corri la no procurador, dei um seguro-garantia de 1 bilhão e meio e pronto, resolvi meu problema"

Temer diz que não renuncia

No dia em que se tornou alvo de investigação do Supremo Tribunal Federal com base na delação dos irmãos Joesley e Wesley Batista, donos do frigorífico JBS, o presidente Michel Temer (PMDB) contra-atacou e disse que não vai renunciar ao cargo que assumiu um ano e seis dias após o afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff.

Em pronunciamento em rede nacional, Temer disse que as denúncias são baseadas em gravações clandestinas e cobrou do Supremo investigação rápida. O presidente foi categórico ao afirmar que não comprou o silêncio de ninguém — segundo a delação, ele teria autorizado pagamento de mesada a Eduardo Cunha —, nem autorizou que usassem seu nome para isso.  

Temer: 'Gravações foram clandestinas'Agência Brasil

"Primeiramente, me dirijo à nação e só falo agora porque precisei conhecer o conteúdo dos documentos da delação, que solicitei ao STF e não conseguiu. O Brasil viveu, nesta semana, seu melhor e pior momento. Os indicadores mostravam queda da inflação, o crescimento da economia e geração de empregos que criaram esperança de dias melhores. Uma conversa gravada de forma clandestina trouxe de volta o fantasma da crise política", disse Temer.

A conversa com Temer teria ocorrido no dia 7 de março deste ano, no Palácio do Jaburu, residência do presidente. No diálogo, Joesley teria dito ao peemedebista que estava pagando uma mesada a Cunha e a Lúcio Funaro, apontado como operador do ex-presidente da Câmara, também preso na Lava Jato, para que ambos ficassem em silêncio sobre irregularidades envolvendo aliados. "Tem que manter isso, viu?", disse Temer a Joesley, segundo relatou o colunista Lauro Jardim, no site do jornal O Globo.

"Aviso que não renunciarei. Não vou renunciar porque não tenho nada a esconder. Não preciso de cargo público nem de foro especial. Não comprei o silêncio de ninguém. A investigação do STF será o território onde surgirão todas as explicações e no Supremo demonstrarei minha inocência. Não renunciarei. Repito: não renunciarei. Sei o que fiz e sei da correção dos meus atos. Exijo investigação plena e rápida, tão rápidas quanto as investigações clandestinas".

Governo marcado por medidas impopulares e quedas de ministros

O Governo Temer vem sendo marcado por medidas impopulares e a queda de ministros.  Foram trazidas à tona diversas propostas econômicas, como o controledos gastos públicos, por intermédio da já aprovada PEC 55, que impõe limites a gastos futuros do governo federal; a polêmica Reforma da Previdência, que está em fase de discussão; uma reforma trabalhista; aprovada na Câmara, e a liberação da terceirização para atividades-fim, esta já aprovada na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.

Na Educação, Temer apresentou a reforma do Ensino Médio. A mudança institui a substituição das treze matérias que, no momento, formavam a grade curricular do ensino médio pelos chamados itinerários formativos. Os itinerários foram agrupados em cinco grandes conjuntos: linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e formação técnica e profissional. 

Na Segurança, Temer se deparou com uma forte crise no sistema carcerário, com rebeliões violentas em presídios no Norte e Nordeste do País. Ele anunciou as primeiras medidas do Plano Nacional de Segurança, incluindo a construção de cinco presídios federais para criminosos de alta periculosidade.

Temer perdeu sete ministros, todos envolvidos em polêmicas: Romero Jucá, Geddel Vieira Lima, Fábio Medina, Henrique Eduardo Alves, Marcelo Calero, Fabiano Silveira e José Serra.

A primeira baixa aconteceu em maio quando o ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão Romero Jucá foi flagrado em áudios vazados com o ex-presidente da Transpetro falando em “estancar a sangria”, se referindo à Operação Lava Jato.

Fabiano Silveira, na pasta da Transparência foi flagrado em gravações feitas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado onde fazia críticas a Operação Lava Jato e dava conselhos ao presidente do Senado Renan Calheiro.

Henrique Alves após ser citado na delação premiada do ex-presidente da Transpetro Sergio Machado. Machado diz ter pago 1,55 milhão de reais a Alves. Fábio Medina foi demitido após fazer críticas ao governo, sob a justificativas de que não conseguiu se firmar no cargo e tinha dificuldade de dialogar com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Durante o pronunciamento de Temer, foram ouvidos panelaços em vários bairros do Rio, como Ipanema, Humaitá e Barra da Tijuca. Pelas janelas e mesmo na rua, pessoas gritaram palavras de ordem contra o presidente. "Fora Temer" foi a mais comum.

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