Brasília - O ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso na Operação Lava Jato, recebeu a visita da mulher do operador de propinas do PMDB, João Augusto Henriques Rezende, no dia de 10 de janeiro. A informação foi obtida pelo jornal O Estado de S Paulo por meio da Lei de Acesso à Informação. Os registros apontam todas as visitas a Eduardo Cunha entre janeiro e 23 de maio.
Henriques, preso em Curitiba desde setembro de 2015, é apontado pela força-tarefa da Lava Jato como o operador que depositou propina a Cunha em contas na Suíça. Os valores teriam saído da compra, pela Petrobras, do campo de petróleo de Benin, na África, em 2011.
Por receber essa propina entre 2010 e 2011, o ex-presidente da Câmara foi condenado pelo juiz federal Sérgio Moro a 15 anos e 4 meses de prisão em março deste ano.
O ex-deputado está custodiado no Complexo Médico-Penal em Pinhais, região metropolitana de Curitiba. Eduardo Cunha foi transferido da Superintendência da Polícia Federal na capital paranaense para o mesmo presídio estadual em 19 de dezembro do ano passado.
Entre janeiro e maio, Cunha recebeu 71 visitas de 36 pessoas. Deste total, 29 visitantes entraram no Complexo Médico-Penal se identificando como advogados.
Alguns não constam da relação de defensores habilitados a representar o peemedebista nos processos junto à 13ª Vara Federal Criminal, sob tutela do juiz Moro, e nem na 10ª Vara Federal Criminal, do juiz federal Vallisney de Souza Oliveira, em Brasília.
Luciana T. P. Rezende Henriques, mulher de João Henriques, entrou no Complexo Médico-Penal para visitar Eduardo Cunha com seu cadastro de advogada. Ela foi sócia do marido na empresa Trend Empreendimentos.
Segundo a Lava Jato, a Trend recebeu pelo menos R$ 20,2 milhões de empresas do cartel que fatiava obras na Petrobras, pagando propinas a agentes públicos, partidos e políticos.
Luciana detinha 0,10% do capital social, João Henriques, 99,90%. O casal também foi sócio na JHL Participações Consultoria Assessoria Empresarial. João Henriques detinha 60%, Luciana, 40%
Em seu interrogatório a Moro, em fevereiro deste ano, o ex-deputado declarou ter 'convivência quase que diária' com João Augusto Henriques no Complexo Médico-Penal. Eduardo Cunha declarou, no entanto, ter conhecido o operador de propinas do PMDB 'durante uma única vez' antes de encontrá-lo no presídio.
"Se eu tive duas vezes na vida, foi muito. Não tive relação. Eu fui apresentado a ele, porque era o candidato que (ex-deputado) Fernando Diniz estava defendendo na bancada para ser o diretor da Petrobras", declarou o ex-deputado.
Eduardo Cunha disse ainda, na ocasião, que 'nunca soube' que o dinheiro que chegou à sua conta na Suíça havia sido depositado por João Henriques.
Além da mulher do operador do PMDB, outros advogados que não constam do rol formal de constituídos por Cunha no Paraná e em Brasília o visitaram na prisão estadual.
O presidente do PTC, Daniel Tourinho, esteve no presídio em 15 de fevereiro deste ano. O pastor Davi Secundo de Souza, da Assembleia de Deus Ministério de Madureira, em Curitiba, visitou o ex-deputado em quatro oportunidades - 11 de abril e 11 e 18 de abril.
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A Assembleia de Deus Ministério Madureira, em Campinas, foi citada na Lava Jato. Denúncia da Lava Jato contra Cunha aponta que o lobista e delator da Lava Jato Júlio Camargo foi procurado em 2012 por Fernando Soares, que operava a propina para o PMDB na estatal, e lhe indicou que ele deveria fazer pagamento desses valores à Igreja Evangélica Assembleia de Deus. O nome da igreja no registro da Receita Federal corresponde à Igreja Evangélica Assembleia de Deus, ministério Madureira, em Campinas.
Esta acusação foi remetida, no início de maio, a Moro pelo desembargador federal Paulo Espirito Santo, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2).
Segundo a denúncia, que também alcança a ex-prefeita de Rio Bonito Solange Almeida, o ex-deputado teria pedido propina que somaria US$ 40 milhões do estaleiro Samsung, com sede na Coreia do Sul, para atuar na contratação de navios-sonda com a Petrobrás.
O equipamento se destinava a operações de perfuração em águas profundas na África e no Golfo do México e a negociação teria sido efetuada com a intervenção de Solange Almeida e de Júlio Camargo, que prestou colaboração premiada e foi condenado pela Justiça Federal paranaense.
Davi Secundo de Souza e Luciana Rezende Henriques não foram localizados. A reportagem ligou para o escritório do advogado de João Henriques, mas ninguém atendeu. A reportagem fez contato com a assessoria de Daniel Tourinho. Não houve retorno.