Por thiago.antunes

Curitiba - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em seu segundo interrogatório como réu da Operação Lava Jato, em Curitiba, nesta quarta-feira, 13, que é alvo de um processo injusto.

Com feição fechada e irritado, Lula começou a responder a Moro que "entende que o processo é ilegítimo, é injusto, eu prefiro falar". "Eu talvez seja a pessoa que mais queira a verdade nesse processo."

A audiência de Lula durou mais de duas horas. O primeiro a questionar o ex-presidente foi Moro. O ex-presidente vestia camisa azul, gravata listrada e falou sem intervalos. Após o interrogatório do ex-presidente, Moro passou a ouvir Branislav Kontic, ex-assessor do ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda e Casa Civil/Governos Lula e Dilma).

Lula é réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro sobre contratos entre a empreiteira e a Petrobrás. Segundo o Ministério Público Federal os repasses ilícitos da Odebrecht chegaram a R$ 75 milhões em oito contratos com a estatal. O montante, segundo a força-tarefa da Lava Jato, inclui um terreno de R$ 12,5 milhões para Instituto Lula e cobertura vizinha à residência de Lula em São Bernardo do Campo de R$ 504 mil.

Moro abriu interrogatório questionando sobre o apartamento comprado pela Odebrecht e registrado em nome do sobrinho do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, Glauco Costamarques Bumlai.

Lula disse que não conhece o sobrinho de Bumlai e que não participou de negócio de compra do imóvel. É um apartamento vizinho ao do presidente em São Bernardo, que era usado pela segurança presidencial. O ex-presidente disse que imóvel era do sobrinho e que ele quis ficar com o apartamento e alugado por ele.

"Hoje é um apartamento que está lá a minha disposição. Se permitirem que eu seja candidato em 2018, ele terá uma função política muito forte."

Sobre Palocci, Lula disse que ele se preparou para cumprir um "ritual" no interrogatório feito por Moro na semana passada, com o objetivo de reduzir sua pena e conseguir a liberação de recursos bloqueados pela Justiça. O ex-presidente disse ainda lamentar o que classificou de "serviço pequeno" prestado por Palocci, acrescentando não ter raiva, mas sim pena pela forma como o ex-ministro encerra uma "carreira tão brilhante".

"Fico pensando o que está pensando a mãe dele agora, que é militante e fundadora do PT. Fico imaginando como estão as pessoas que militavam com ele no PT. É lamentável. Eu, sinceramente, não tenho raiva do Palocci, tenho pena de ele ter terminado uma carreira tão brilhante como ele terminou", declarou Lula.

O ex-presidente afirmou que, por conhecer como Palocci reage em situações adversas, sabe que o ex-ministro foi até Moro para entregar um conjunto de simulações.

"Já vi Palocci em situações difíceis na área econômica. O Palocci veio preparado para dizer que havia um fundo que eu sabia, para dizer que o doutor Emilio Odebrecht tinha me procurado para conversar, para dizer que eu chamei ele para conversar para bloquear a Justiça", disse Lula. "Foi um conjunto de simulações que o Palocci fez. Por isso, utilizei a palavra simulador", concluiu. (Eduardo Laguna, Luiz Vassallo, Ricardo Brandt, Julia Affonso, Fausto Macedo, Elisa Clavery e Ricardo Galhardo)

Irritado

Questionado sobre os pagamentos de aluguéis, Lula disse que "deve ter os recibos" de pagamentos. Moro insistiu que eles não foram apresentados ainda pela defesa.

Aos 20 minutos de depoimento, Lula alterou a voz, visivelmente irritado com a insistência de Moro sobre a acusação de não pagamento de aluguel do imóvel em nome do sobrinho de Bumlai.

"Vou repetir para o senhor. Nunca houve qualquer denúncia que o apartamento não estava sendo pago, seu Glauco nunca levantou… seu Glauco nunca cobrou, seu Glauco nunca me telefonou. Nem ele, nem ninguém. Pois bem, estou dizendo para o senhor que tinha uma relação da Dona Marisa (Letícia, ex-primeira dama, que morreu em fevereiro) no contrato do aluguel, que a Dona Marisa cuidava de forma responsável das coisas da casa. Só fiquei sabendo agora quando Glauco prestou depoimento."

Confissão

Na semana passada, Palocci rompeu o silêncio, fez um relato devastador e entregou o ex-presidente, a quem atribuiu envolvimento com o que chamou de "pacto de sangue" com a empreiteira Odebrecht que previa repasse de R$ 300 milhões para o governo petista e para Lula.

Além do ex-presidente e de Branislav Kontic, ex-assessor de Palocci, também respondem ao processo o próprio ex-ministro, o advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula - que será interrogado na quarta-feira, 20 -, o empreiteiro Marcelo Odebrecht e outros três investigados.

Lula já foi condenado na Lava Jato. Em julho, Sérgio Moro aplicou uma pena de 9 anos e seis meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro ao petista no caso tríplex. 

Com informações do Estadão Conteúdo

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