Equipe de socorro na porta da unidade, no município de Saudades
Equipe de socorro na porta da unidade, no município de SaudadesReprodução de vídeo
Por ESTADÃO CONTEÚDO
Era apenas mais um dia de rotina na creche Pró-Infância Aquarela, em Saudades, cidade no oeste de Santa Catarina. Às 10 horas, as 30 crianças já deveriam estar todas reunidas no refeitório para o almoço. Mas na terça-feira, 4, excepcionalmente, houve um atraso. Quem relata é uma professora que estava dentro da creche no momento do crime, mas que não quis ser identificada.
"Estava na sala dos professores realizando atividades extraclasse, o almoço atrasou não sei por que. Eu ouvi minha colega Keli (professora) dizer que atenderia uma pessoa no portão. Em seguida, ouvi gritos, larguei minha caixa de atividades e fui ver o que estava acontecendo. Ele já estava esfaqueando ela. Nesse momento eu gritei bem alto para avisar que tinha um homem armado dentro da escola, voltei pra sala, fechei a porta, peguei meu celular e avisei a secretaria de Educação: 'Mandem a polícia, tem um homem matando as pessoas aqui!'", conta a professora.
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No momento do ataque, havia cerca de 20 funcionárias e professoras na creche. O aviso foi decisivo para que outras crianças fossem protegidas.
"Depois, eu sai pelo corredor e vi que a Mirla (agente educadora morta durante os ataques) já estava deitada no chão. Pulei uma janela e consegui entrar na minha sala. Todas nós (professoras) ficamos segurando as portas para ele não conseguir entrar. Daí ele começou a bater nas janelas e (tentou) forçar para entrar nas salas", relata a professora.
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Do outro lado da rua, um homem que trabalhava em uma metalúrgica e o vizinho, numa loja de motos ao lado do prédio da creche, ouviram os gritos: "Tem um homem matando as crianças."
O primeiro pegou uma barra de ferro do chão e correu em direção à creche para conter o agressor e impedi-lo de cometer suicídio, enquanto o outro, diante dos pedidos de ajuda, pegou uma das crianças feridas e a levou ao hospital.
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Segundo a professora toda a ação durou cerca de 10 minutos.
"Quando pude sair, o vi deitado no chão com muito sangue. A minha colega Keli tentou salvar as crianças, ele conseguiu entrar naquela sala porque a Mirla havia saído para preparar o almoço delas e a porta estava aberta. A Keli tentou avisar, mas não deu tempo. Isso parece um filme de terror que ainda não acabou", lamenta a professora.
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No total, a creche possui sete salas de aula, sendo quatro na parte da frente, e atende a cinco turmas do berçário com crianças de até dois anos. Apenas uma professora conseguiu retirar as crianças da sala enquanto o jovem praticava os crimes
"Ninguém está preparado para isso. Ninguém imagina isso em uma cidade onde o máximo que você tem é algum roubo uma vez ou outra e geralmente praticado por alguém que não é daqui. Eu sou mãe, eu tenho três filhos, os pais confiam as crianças à gente. Eu não me imagino voltando lá. Se ele tivesse chegado um pouco depois teria pego todas as crianças juntas no refeitório e a tragédia poderia ser bem maior!", diz a professora.