Fiocruz alerta que avanço de síndrome respiratória indica risco de piora da pandemia
Fiocruz alerta que avanço de síndrome respiratória indica risco de piora da pandemiaDaniel Castelo Branco
Por ESTADÃO CONTEÚDO
Uma nova onda da pandemia de covid-19 está se formando no Brasil, alertam pesquisadores da Fiocruz. Boletim divulgado ontem mostra que 8 das 27 unidades da federação apresentam sinais de crescimento de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Doze Estados apresentam reversão de tendências de queda ou têm estabilização em patamares muito altos. Outro dado preocupante é que, pela primeira vez no Brasil, a mediana da idade de internações em UTIs de todo o País está abaixo dos 60 anos.
As síndromes respiratórias registradas pelo Boletim InfoGripe Fiocruz são, neste momento, na maioria dos casos, causadas por infecções pelo SARS-CoV-2. A nova edição do boletim diz respeito à semana epidemiológica número 19, de 9 a 15 de maio.
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Boletins anteriores mostravam que, mesmo com redução ou estabilidade, o número de casos permaneceu em patamares muito altos. O relaxamento das medidas de prevenção contribui diretamente para a reversão das tendências, segundo pesquisadores. Dados de mobilidade da Fiocruz mostram que o País está basicamente de volta ao "normal". Para piorar a situação, a vacinação avança muito lentamente.
Já o Boletim Covid-19 Fiocruz, também divulgado nesta sexta, comparou as semanas epidemiológicas 1 (de 3 a 9 de janeiro) e 18 (de 2 a 8 de maio) deste ano. Constatou que a mediana das idades das internações hospitalares (que delimita a concentração de 50% dos casos) caiu de 66 anos para 58 anos. Ou seja, 50% dos internados estão abaixo dessa faixa etária, afetando duramente também os jovens.
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Os pesquisadores alertam que desde o início de 2021 a pandemia vem rejuvenescendo a cada semana. Em relação aos óbitos, embora a mediana ainda seja superior a 60 anos, ao longo deste ano houve uma queda de dez anos. Baixou de 73 em janeiro para 63 em maio.
"Não existe uma definição formal de onda epidemiológica", explicou Leonardo Bastos, pesquisador do InfoGripe. "Mas informalmente estamos chamando de onda quando o número de casos desceu e depois voltou a subir. Nesse sentido, uma nova onda pode acontecer, já estamos vendo uma nova retomada."
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Casos crescem
Oito unidades da federação apresentam sinais de crescimento de casos: Amazonas, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Paraná, Tocantins, Distrito Federal e Rio de Janeiro. A interrupção da tendência anterior de queda foi observada em Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe e São Paulo. Foi verificada tendência de estabilização em Minas Gerais e no Piauí.
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Boletins anteriores do InfoGripe já mostravam que, mesmo com uma tendência de redução ou estabilidade, os números de casos permaneciam muito altos. Isso mantinha o sistema de saúde sob pressão. "É importante ter redução sustentada de número de casos para uma recomposição do sistema de saúde, até para reduzir a taxa de ocupação de leitos", afirmou o coordenador do InfoGripe, Marcelo Gomes. "Como vem sendo alertado desde a atualização da semana 14, diversos Estados ainda estão com valores similares ou até mesmo superiores aos picos observados em 2020."
Os dados reforçam a importância de cautela nas medidas de flexibilização das recomendações de distanciamento social. Esse deve ser o procedimento enquanto a tendência de queda não tiver sido mantida por tempo suficiente para derrubar significativamente o número de novos casos.
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Como os valores atingidos em diversos Estados durante o crescimento observado neste ano foram extremamente elevados (em alguns o pico de 2021 foi superior ao de 2020), a retomada precoce das atividades interrompe a queda em patamares muito distantes de um cenário seguro.
Na semana epidemiológica número 9 (entre 28 de fevereiro e 6 de março) deste ano, o País todo esteve à beira de um colapso. Quase todos os Estados estavam em níveis críticos de ocupação de leitos. Nesse período, a incidência média de casos de SRAG era de 15,5 por 100 mil habitantes. Atualmente, este número é de 11,4 por 100 mil. Esse valor é considerado extremamente elevado.
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"Os dados de mobilidade mostram que praticamente voltamos ao normal", afirma o virologista Fernando Bozza, da Fiocruz. "Com isso, provavelmente aquele movimento de queda de casos e mortes deve reverter. Com o ritmo lento da vacinação, dificilmente conseguiremos jogar para baixo, deve haver aumento. A extensão desse aumento é mais difícil de prever."
Ocupação de leitos
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Outro dado preocupante, segundo a Fiocruz, diz respeito às taxas de ocupação de leitos de UTI covid-19. Os números de maio sinalizam uma quebra na expectativa de melhoria do indicador registrado nas semanas anteriores. O número mantinha tendência de queda lenta, mas consistente.