Presidente Jair Bolsonaro
Presidente Jair BolsonaroAFP
Por iG Último Segundo
Rio - O governo Bolsonaro estuda a criação de um comitê de emergência para lidar com a crise hídrica e elétrica no país. Após o alerta de emergência hídrica emitido pelo Sistema Nacional de Meterologia, o primeiro em 111 anos, discute-se a ideia da realização de um racionamento elétrico para evitar um apagão. Os estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná estão envolvidos no alerta, que está sendo cogitado para os meses de junho a setembro.
Para o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Adílson de Oliveira, especialista em energia, o país está com os dias contados para um apagão. Com os reservatórios de água do país com volume bem abaixo do desejado após o período de chuvas, que terminou em abril, o engenheiro químico acredita que a crise será inevitável até em outubro, se o governo federal não tomar medidas drásticas e eficazes agora.
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"Daqui a cinco ou seis meses, não teremos capacidade para abastecer o mercado. Só não estamos em racionamento agora por causa da pandemia de coronavírus, que deu uma estagnada na economia", avaliou.
O Ministério da Agricultura informou em nota que "estudos realizados pelo SNM de acompanhamento meteorológico para o Setor Elétrico Brasileiro alertam que as perspectivas climáticas para 2021/2022 indicam que a maior parte da região central do país, a partir de maio até final de setembro, entra em seu período com menor volume de chuvas (estação seca)".
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Os reservatórios das hidrelétricas que integram o subsistema Sudeste/Centro-Oeste, responsáveis por 70% da geração de energia do Brasil, estão com o nível de armazenamento de água em 32,3%. O próprio ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) previu que, até o final de maio, eles deveriam estar em 39% para minimizar os riscos. Como não há previsão de chuvas, a tendência é que o volume caia cada vez mais, agravando a probabilidade de acontecer um apagão semelhante ao de 2011, quando houve racionamento.

Na usina de Marimbondo, na divisa dos estados de São Paulo e Minas Gerais, por exemplo, o nível do volume útil baixou para apenas 6,43%. A situação também está crítica na usina de Água Vermelha; o nível do reservatório bateu 7,9884% nesta sexta-feira.
Para fazer frente ao problema, o governo Bolsonaro tem recorrido ao acionamento cada vez maior de usinas termelétricas, que geram energia a partir da queima de combustíveis como óleo ou gás natural. É uma opção bem mais cara e que impacta na conta do consumidor. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) acionou a "bandeira vermelha" patamar 1 para maio. Isso significa que será cobrada uma taxa adicional mais alta, de R$ 4,169 para cada 100 kWh, ao longo deste mês. A bandeira fica na cor verde quando o nível dos reservatórios de água está alto e não há necessidade de acionamento extra de usinas térmicas.

Além disso, outro paliativo proposto pela União, que anunciou ontem que pretende importar maior quantidade de energia do Uruguai e Argentina, é uma solução que, segundo Oliveira não se sustentará a longo prazo.

"Os dois países têm inverno rigoroso e precisam do gás para aquecimento. Vão querer aquecer a população ou fornecer gás para o Brasil?", concluiu
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