Com o passaporte "preso" alguns brasileiros não conseguem nem ir fazer a quarentena em outros paísesMarcelo Camargo/Agência Brasil

As medidas sanitárias da Alemanha têm dificultado a vida de um grupo de brasileiros que deseja viajar para estudar e trabalhar. Por conta da pandemia do coronavírus, as restrições continuam vigentes no país e, com isso, a entrada de passageiros provenientes de locais de "alto risco", com presença de variantes do vírus, está vetada.
Os 103 brasileiros do grupo reclamam que têm sido prejudicados financeira e psicologicamente, pois todos passaram por longos e desgastantes processos seletivos, competindo com pessoas do mundo todo. Mas, agora que estão elegíveis à vistos de longa duração, não conseguem usufruir de seus contratos de trabalho e estudos com instituições alemãs. 
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“Essa situação é horrível, desesperadora. A família, que me contratou para ser Au pair, disse que pode me esperar até agosto, mas e se resolverem não esperar mais? Eu não vou conseguir fazer outro processo, pois eu não poderei solicitar o visto novamente, porque já terei atingido a idade limite para aplicação do visto. Além disso, gastei bastante dinheiro com o processo até agora. Para aplicação do visto, temos que organizar uma série de documentos, além de tirar o certificado oficial da língua alemã, que é obtido exclusivamente através uma prova oficial", disse Anderson, de 26 anos, um dos integrantes desse grupo.
Anderson, ainda, afirma que se sente impotente e com medo da possibilidade perda. "É uma situação de impotência. Várias pessoas perdendo contratos de trabalho, famílias, bolsas de estudo. É uma situação muito desanimadora. Não estamos indo como turistas, estamos indo como vistos de longa duração. É um descaso muito grande", completou o jovem. 
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Quem está sendo prejudicado pela situação reclama não somente do investimento em dinheiro que foi feito, mas também do tempo gasto e das oportunidades que estão sendo perdidas, pois alguns começaram o processo antes da pandemia e nem imaginavam que seriam barrados de entrar na Alemanha por tanto tempo.
"Meu marido já trabalha para uma empresa alemã. Viemos para o Brasil para o nascimento da nossa filha e agora precisamos voltar para lá, mas não estamos conseguindo emitir os vistos (Blue Card e reunião familiar). Meu marido corre o risco de perder uma promoção. Ele precisa estar na Alemanha para poder assumir cargo de chefia", relatou Marjorie, 26, também prejudicada pelo impasse envolvendo a crise da Covid-19 no Brasil.
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Alguns brasileiros pediram demissão de seus empregos no Brasil, venderam seus pertences e rejeitaram outras propostas por acreditar que iriam conseguir dar sequência em seus objetivos. No entanto, ainda não foi possível.
O estudante Carlos Alberto, 22, já tinha um contrato formal com uma família alemã, por isso chegou a rejeitar outras propostas de emprego no Brasil.
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“Eu comecei o meu processo em dezembro. Enxerguei uma oportunidade para estagiar na Alemanha, me candidatei e fui aprovado apesar da concorrência ter sido enorme. Corri atrás da documentação com muitas dificuldades pois tinha documentos que eu tinha que conseguir com o ministério do trabalho alemão. A Alemanha não aceita brasileiros desde 30 de janeiro e o consulado estava fechado. Até hoje não consegui marcar um horário para marcar o visto. Já paguei o caução para segurar minha vaga no apartamento lá e estou em uma situação muito complicada, porque estou deixando outras oportunidades aqui no Brasil”, disse ela.  
Por carta, o grupo afirmou que entende a péssima situação que o Brasil vive quanto à pandemia e que se compromete a se adequar as normas sanitárias impostas pela Alemanha.
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"Estamos cientes da situação caótica em nosso país, do risco do vírus, em especial da variante
originada no Brasil, e de forma alguma discordamos das medidas de restrição. Não estamos pedindo uma exceção para o turismo de brasileiros. Estamos pedindo uma exceção para vistos de longa duração para trabalhadores e estudantes. Todos nós nos comprometemos a seguir toda e qualquer medida determinada pela Alemanha para evitar a propagação da variante." 
No texto, o grupo ainda lamentou pela falta de vacinas no país. "Infelizmente, a vacina ainda não é uma realidade para todos nós, mas caso essa fosse uma opção, todos nós já estaríamos vacinados - vacinas, que por sinal, já se mostraram eficazes contra a variante brasileira". 
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O Itamaty afirmou, em nota, que a questão está sendo tratada pela Embaixada brasileira em Berlim, junto à União Europeia. 
O Ministério das Relações Exteriores acompanha a evolução das exigências para ingresso de cidadãos brasileiros em países estrangeiros. No caso em questão, estão envolvidas a Embaixada do Brasil em Berlim e a Delegação junto à União Europeia, uma vez que, no caso da Europa, a questão é igualmente tratada no âmbito comunitário.
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Já a Embaixada alemã no Brasil afirmou que está ciente da situação dos brasileiros e que espera que as barreiras impostas pelo país sejam suspensas o mais rápido o possível. 
“A Embaixada está ciente dos problemas que a pandemia Covid-19, especialmente o surgimento e a expansão da variante P-1 no Brasil e, por consequente, a interdição de entrada de pessoas vindo do Brasil para a Alemanha. Para proteger a população alemã, por enquanto, o governo não liberou viagens. O mesmo foi imposto a outros países com Covid-19 variantes. Muitos brasileiros estão usando meios eletrônicos para conseguir superar esta barreira, parcialmente. Esperamos que estas medidas acabem em breve”. 
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*Estagiário sob supervisão de Marina Cardoso