A médica Nise Yamaguchi em depoimento à CPI da CovidAFP
Em carta, Nise diz que decidiu processar senadores para 'restaurar integridade'
Médica afirma ter sido vítima de misoginia e humilhação no depoimento prestado na CPI no início do mês e cobra indenização de R$ 320 mil de dois parlamentares
Em carta aberta divulgada neste domingo, 20, a médica Nise Yamaguchi disse que decidiu entrar com ação por danos morais contra os senadores Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI da Covid, e Otto Alencar (PSD-BA) para "restaurar a integridade" dela e dos colegas de profissão. Ela afirma ter sido vítima de misoginia e humilhação no depoimento prestado na comissão parlamentar no início do mês e cobra indenização de R$ 160 mil de cada um - que, segundo o processo, será integralmente doado.
"Médica há mais de quatro décadas, nunca imaginei passar por situação parecida. É triste perceber que, na Casa do Povo Brasileiro, mesmo após décadas de evolução, ainda se perpetuem comportamentos misóginos", diz o texto.
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Na carta, a médica reclama do tratamento dispensado a ele no interrogatório e afirma que o senadores agiram movidos por "interesses políticos". "Por diversas vezes, tive minhas falas e raciocínios interrompidos. Ignoraram meus argumentos e atribuíram a mim palavras que não pronunciei. Não foi por falta de conhecimento que deixei de reagir, mas, sim, por educação", afirma.
A oncologista diz ainda que passou a ser vítima de ataques nas redes sociais na esteira do depoimento. "A partir daquele momento, passei a ser extremamente vilipendiada nas redes sociais com agressões em tons ameaçadores, o que é muito preocupante para um estado democrático", escreveu.
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Defensora da prescrição de cloroquina para pacientes com covid-19, tratamento comprovadamente ineficaz contra a doença, a médica foi colocada na lista de investigados divulgada na sexta-feira, 18, pela CPI.
Durante o depoimento na CPI, foi questionada sobre a existência do chamado "gabinete paralelo", que teria aconselhado o presidente da República, Jair Bolsonaro, sobre a gestão da pandemia, na contramão das orientações do Ministério da Saúde, e sobre o decreto presidencial para mudar a bula da cloroquina.
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Médico de formação, Otto Alencar confrontou Nise sobre conhecimentos técnicos a respeito de doenças virais. Insatisfeito com as respostas, interrompeu a oncologista: "A senhora não sabe, infelizmente a senhora não sabe nada de infectologia, nem estudou doutora, a senhora foi aleatória mesmo, superficial", disse.
Além de indenização, ela pede na ação que a Procuradoria-Geral da República (PGR) seja comunicada para analisar se os parlamentares cometeram o crime de abuso de autoridade.
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COM A PALAVRA, O SENADOR OTTO ALENCAR
"O senador Otto Alencar (PSD/BA), ainda não foi notificado. Assim que ocorrer a notificação, os advogados responderão, de acordo com a lei. A Constituição Federal em seu artigo 53, garante a senadores e deputados, o direito a manifestações, opiniões e votos no exercício de suas funções.
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O senador Otto Alencar reforça que durante os seus questionamentos se referiu a médica Nise Yamaguchi, com respeito, sempre a tratando como doutora, senhora e Vossa Senhoria.
Quanto à pergunta sobre vírus e protozoário, a médica não soube responder a indagação. O questionamento foi feito com o objetivo de indicar, como atestam cientistas e especialistas na área de saúde, que nenhuma medicação evita a contaminação pelo coronavírus e que o tratamento precoce, defendido por Nise Yamaguchi, não funciona e não é recomendado."
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A reportagem entrou em contato com o senador Omar e aguarda resposta. O espaço está aberto para manifestação.
Leia a íntegra da carta de Nise:
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"São notórios e de conhecimento nacional o desrespeito e a humilhação por mim sofridos durante o depoimento prestado à CPI da pandemia no Senado Federal no dia 1º de junho de 2021.
Médica há mais de quatro décadas, nunca imaginei passar por situação parecida. É triste perceber que, na Casa do Povo Brasileiro, mesmo após décadas de evolução, ainda se perpetuem comportamentos misóginos.
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Por diversas vezes, tive minhas falas e raciocínios interrompidos. Ignoraram meus argumentos e atribuíram a mim palavras que não pronunciei. Não foi por falta de conhecimento que deixei de reagir, mas, sim, por educação. Não iria alterar a minha essência para atender a nítidos interesses políticos.
A partir daquele momento, passei a ser extremamente vilipendiada nas redes sociais com agressões em tons ameaçadores, o que é muito preocupante para um estado democrático.
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Não faço parte de nenhum partido político. Atuei nos últimos cinco governos como colaboradora eventual, pelo bem da saúde do Brasil e do mundo, sendo que entre 2007 e 2011, participei oficialmente do gabinete do Ministério da Saúde. Meus principais trabalhos foram em ações de controle do tabaco, tratamento personalizado e de precisão do câncer, dentre outros afazeres de compliance e governança.
Agradeço o apoio do Conselho Federal de Medicina, do Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal e às inúmeras manifestações de apoio de entidades de classe e de apoio à mulher e ao idoso. Atendo os meus queridos pacientes em Brasília e em São Paulo e deles, de suas famílias e dos colegas, tenho recebido um reconfortante apoio.
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Na qualidade de mulher e de idosa, optei por entrar com uma ação judicial contra os senadores Omar Aziz e Otto Alencar, como uma medida para restaurar minha integridade e a de diversos outros médicos brasileiros, os quais também foram afetados com os discursos proferidos pelos parlamentares naquele dia.
Todos os valores ganhos com a causa serão revertidos a hospitais que tratem de crianças com câncer".
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