Brevetação de soldados paraquedistas com a presença do presidente Bolsonaro e o Governador Witzel, na Vila Militar. Estefan Radovicz / Agencia O Dia
Do forte discurso anti-corrupção ao enfraquecimento da Lava Jato e da investigação contra aliados, com o 'aliciamento' do centro das apurações, o governo Bolsonaro tem, até agora, o Centrão e os militares no foco das suspeitas de corrupção, duas bases de sustentação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Se meses atrás o grupo de congressistas que costuma ser base de todo governo, o Centrão, era o alvo favorito de Bolsonaro e os bolsonaristas, hoje é ele quem impede a abertura de processos de impeachment e ainda garante que o presidente tenha força política, podendo, por exemplo, citar repetidamente uma suposta fraude eleitoral provocada pelas urnas eletrônicas, jamais provada. O voto auditável, sonho de Bolsonaro, pode até vigorar, ainda que especialistas no assunto rechacem a necessidade, defendam a segurança do voto pela urna eletrônica e ainda apontem um retrocesso no processo eleitoral.
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Mas, pelo que mostram as investigações sobre as supostas irregularidades na compra de vacinas, governo e Centrão não estiveram sozinhos sob as possíveis ilegalidades: os militares estariam diretamente envolvidos nos escândalos. Em cada processo de importação de vacina há sua participação, já que, no ano passado, diante da pandemia, os indicados políticos para garantir a sobrevida do governo Bolsonaro foram os representantes das Forças Armadas, aliados numerosos do bolsonarismo desde antes da eleição presidencial de 2018.
A dupla Centrão-Exército se concentra no Departamento de Logística do Ministério da Saúde, coincidentemente ou não onde as principais suspeitas de irregularidades e um histórico de loteamento e denúncias de fraudes estão. O ciclo de suspeitas vem pelo menos desde o governo de Michel Temer, quando o setor passou a ser controlado por um dos principais partidos do Centrão, o Progressistas [antigo PP, de Maluf e tantos outros], do senador Ciro Nogueira (PI) e do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PR), que seria o principal envolvido no escândalo da Covaxin e pode implicar Bolsonaro por prevaricação.
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Os três diretores que passaram pelo departamento do Ministério da Saúde acumulam denúncias de corrupção e mau uso de dinheiro público. Dois deles foram reaproveitados pelo governo Bolsonaro, tendo direito a uma "segunda chance" em outro lugar.
Davidson Tolentino, por exemplo, é hoje diretor da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), a chamada estatal do Centrão, desde julho.
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Tiago Queiroz é, desde maio do ano passado, secretário de uma das principais pastas do Ministéiro do Desenvolvimento Regional, de Rogério Marinho, a de Mobilidade.
Na Saúde e também em outras áreas, o loteamento em cargos técnicos foi tradição mantida, bem como a aliança com o Centrão. Roberto Dias, agora ex-diretor de logística da Saúde, passou intacto pelas quedas de Mandetta, Teich e Pazuello, e só veio a cair após escandâlo ser revelado. Dias foi, como tantos outros, indicado e sustentado pelo Centrão.
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Desde 2019, Dias autorizou mais de R$ 20 bilhões em pagamentos no Ministério da Saúde. Após tantas mudanças e crises na saúde brasileira, ele só caiu na última terça-feira, após um policial militar dizer que ouviu pedido de propina do então diretor. Integrantes da CPI da Covid no Senado suspeitam que a denúncia pode ter sido “plantada” pelo governo para atrapalhar a linha principal de investigação, que envolve o caso Covaxin e os irmãos Miranda.
O avanço da CPI da Covid sugere e começa a chegar a possíveis provas de que militares e representantes do Centrão no Ministério da Saúde estiveram juntos no processo de compra da vacina indiana Covaxin, cujas suspeitas levaram o presidente Bolsonaro a ser alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo o deputado Luis Miranda, Bolsonaro sabia do envolvimento de Barros no caso, tinha conhecimento das irregularidades, e nada fez.
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Se antes do caso envolvendo os irmãos Miranda, Bolsonaro, aliados das Forças Armadas e a base governista do Congresso eram criticados por omissão na condução da pandemia, além da ineficiência e o desprezo à ciência, hoje o foco é outro: a corrupção na compra de vacinas, principais armas contra a doença que já matou mais de 523 mil brasileiros. A celeridade na vacinação e os casos de suspeita de corrupção no governo durante a pandemia, inclusive, foram alguns dos principais tópicos que motivaram protestos nacionais massivos contra Bolsonaro neste sábado, 3.