Reverendo Amilton Gomes presta depoimento à CPI da Covid nesta terça-feiraAgência Senado

Brasília - O reverendo Amilton Gomes de Paula, presidente da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), recebeu uma dura advertência do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) por não dar respostas convincentes à CPI da Covid. Isso porque o depente disse que não sabia quanto iria receber por compra de vacinas. 


Amilton afirmou que a carta datada de 14 de março de 2021 e endereçada ao Ministério da Saúde só foi enviada por email para Élcio Franco, o então secretário-executivo da pasta, dez dias depois. A carta assinada pelo reverendo oferecia vacinas a US$ 11 a unidade. Anteriormente, em resposta ao senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o depoente havia dito que a oferta de vacinas ao ministério foi enviada dia 14.

O depoente também voltou a afirmar não saber quanto em dinheiro seria a doação que sua entidade receberia pela ajuda na obtenção das vacinas.

">

"O mais absurdo é o governo brasileiro dar espaço para gente como o senhor, como Dominguetti, como Cristiano. Enquanto as pessoas estavam morrendo, vocês estavam atrás de vantagem financeira. A oferta de vacinas é mentirosa, a conversa fiada de apoio humanitário é mentirosa, tudo atrás de dinheiro, no pior momento da vida do Brasil. Se em algum momento, o senhor teve na sua conduta o princípio cristão, já passou foi muito da hora do arrependimento, agora é hora de punição. O documento que o senhor envia ao Ministério da Saúde é eivado de mentiras, do cabeçalho ou rodapé. E o senhor senta aí e ainda tenta se apresentar como agente humanitário da paz mundial ou coisa parecida. Sinceramente, está mais fácil acreditar no cara que acha que é o Super-Homem", afirmou Alessandro Vieira.

Na CPI, o vice-presidente do colegiado, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), confrontou o pastor com o preço da vacina oferecida pela Davati Medial Supply ao Ministério da Saúde. Segundo Randolfe, a Davati teria apresentado um documento a Pasta no dia 15 de março oferecendo vacinas à US$ 10,00, preço que mais tarde foi atualizado pelo reverendo, por carta endereçada ao então secretário executivo do ministério da Saúde, Elcio Franco, mudando o preço para US$ 11 dólares.

O líder religioso chegou à CPI após ser citado como um intermediador entre o governo federal e empresas que ofereciam vacinas sem comprovar a entrega dos imunizantes. O caso é investigado pela CPI após a denúncia de um pedido de propina de US$ 1,00 por dose de vacinas. Pedido esse que teria envolvido o então chefe do departamento de logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias.

Randolfe apresentou as duas propostas à CPI, e Amilton negou conhecer o primeiro documento, que oferecia a vacina a US$ 10,00 "Eu não encaminhei esse documento de US$ 10, eu tenho a oferta de U$S 11", disse. Para Randolfe, o aumento do preço da vacina, e a denúncia de pedido de propina de US$ 1,00 "não parece coincidência".

O vice-presidente da CPI continuou, após questionar se o reverendo conhecia Roberto Dias, coisa que no começo da oitiva o líder religioso negou. O parlamentar leu uma mensagem que Amilton enviou ao cabo da Polícia Militar Luiz Paulo Dominghetti, que se apresentava como representante da Davati no Brasil, sobre estar em uma sala com Roberto Dias. O reverendo mudou o discurso afirmando não se lembrar do encontro.
CNBB
Publicidade
Durante a oitiva, as credenciais da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), que pertence ao reverendo, também foram questionadas. Randolfe questionou o fato de o reverendo ter assinado uma carta afirmando que sua instituição era reconhecida pela Organização das Nações (ONU) e pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) mesmo sem o reconhecimento das organizações.

o vice-presidente da CPI também apontou que Amilton é inscrito na dívida ativa da União com débito de R$ 29,5 mil. Amilton declarou ter sido um débito antigo. O senador, contudo, afirmou que, com o débito, o Ministério da Saúde não poderia seguir com as negociações do reverendo.

O pastor também afirmou não haver nenhum contrato da Senah com a Davati. Amilton reclamou que recebia pressão de Cristiano Carvalho e de Dominghetti, ambos representantes da Davati, para levar adiante as tratativas com o governo para a venda de vacinas. "Conversar com presidente, Ministério, com quem for para dar prosseguimento ao pedido dos dois", disse. De acordo com o líder religioso, ele era uma das pessoas que solicitava documentação da Davati para enviar ao Ministério da Saúde, e reclamou que os documentos não chegavam a ele. "Por eu ter colocado meu nome nessa operação fiquei um pouco preocupado", disse.
*Com informações do Estadão Conteúdo e Agência Senado