Brasil e cerca de cem países assinaram compromisso para acabar com o desmatamento até 2030, com ajuda de 19,2 bilhões de dólares de fundos públicos e privadosAFP

Na contramão do discurso pró-ambiente adotado na Cúpula do Clima (COP-26), em Glasgow, o Brasil continua a registrar recordes em seus índices de desmatamento na Amazônia. Foi o que ocorreu no mês passado. Dados divulgados nesta sexta-feira, 12, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão do Ministério de Ciência e Tecnologia, apontam que a área de alertas de desmatamento de outubro foi a maior para o mês nos últimos sete anos. A conservação do bioma foi destaque na abertura da conferência na Escócia e é considerada chave para evitar uma catástrofe climática.

Ao todo, foram 877 quilômetros quadrados de devastação da floresta na Amazônia, um aumento de 5% em relação a outubro de 2020 e o maior índice no mês em toda a série histórica do Deter, sistema de alertas do Inpe, iniciado em 2016. O governo Jair Bolsonaro ainda não divulgou os dados consolidados do desmatamento neste ano - o sistema Prodes -, que também é medido pelo Inpe, de agosto de um ano a julho do ano seguinte. Tradicionalmente, essa informação é tornada pública no começo de novembro.
Na COP-26, o Brasil assinou acordos multilaterais contra o devastação da floresta, prometeu zerar o desmate ilegal até 2028 e reduzir as emissões de metano. Na prática, porém, os dados mostram uma realidade diferente. "As emissões acontecem no chão da floresta, não nas plenárias de Glasgow. E o chão da floresta está nos dizendo que este governo não tem a menor intenção de cumprir os compromissos que assinou na COP-26", diz Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima.

Relatório divulgado por um grupo de cerca de 200 cientistas mostra que a Amazônia está perto de um ponto irreversível e perde, em ritmo acelerado, sua capacidade de regeneração. Os pesquisadores, que lançaram o documento na Cúpula do Clima, alertam que o bioma pode se tornar deserto se não foram tomadas medidas efetivas.

"O dado do Deter é um lembrete de que o Brasil que circula pelos corredores e pelas salas da COP, em Glasgow, é o mesmo onde grileiros, madeireiros ilegais e garimpeiros têm licença do governo para destruir a floresta", afirma ele. Os alertas de desmatamento em outubro se concentraram nos Estados do Pará 501 km2 (57% do total), Amazonas 116 km2 (13% do total) e Mato Grosso 105 km2 (12% do total).
Na última terça-feira, 9, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que participa da conferência, declarou que o Legislativo está comprometido com a agenda assumida pelo país na conferência da ONU sobre mudanças climáticas em Glasgow (COP26). O compromisso para acabar com o desmatamento até 2030 também foi adotado por cerca de cem países e contará com 19,2 bilhões de dólares de fundos públicos e privados.

“É muito importante que o Congresso Nacional esteja presente e a fiscalizar (...) para que haja a efetivação de tudo que foi prometido e comprometido” disse o parlamentar em evento paralelo à Conferência do Clima da ONU, organização pela Confederação Nacional da Indústria, em Glasgow. O senador afirmou ainda que “a sociedade brasileira amadureceu na questão ambiental”.

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não compareceu ao evento em Glasgow, que foi aberto por mais de 120 líderes há uma semana. No período de abertura da conferência, o chefe do Executivo cumpriu agenda na cidade Anguillara Vênetta, no norte da Itália, onde recebeu o título de cidadão honorário. A região corresponde ao lugar onde nasceram e viveram alguns dos antepassados do líder brasileiro.
*Com informações do Estadão Conteúdo