Cartão do SUSReprodução internet

Em celebração ao Dia Mundial do Câncer nesta sexta-feira, 4, a Fundação do Câncer em parceria com a União Internacional para o Controle do Câncer (UICC), divulgou um levantamento inédito que revela que muitos casos e mortes da doença poderiam ser evitados. O levantamento foi feito com a intenção de chamar a atenção para as desigualdades e mostrar que a prevenção, o diagnóstico e tratamento da doença precisam ser acessíveis a todos.
A pesquisa Conhecimento e práticas da população e dos profissionais de saúde sobre prevenção do câncer do colo do útero teve como objetivo identificar as barreiras e as lacunas sobre a vacinação contra HPV e o rastreamento para o câncer do colo do útero, responsável pela morte de mais de seis mil mulheres por ano no Brasil.

O estudo analisou primeiramente o conhecimento, atitudes, práticas, mitos e fake news sobre a prevenção do câncer de colo do útero, tendo crianças e adolescentes, responsáveis e mulheres como público-alvo. Já a segunda etapa, em fase de finalização, abrange o conhecimento e a atuação dos profissionais de saúde relacionados à prevenção do HPV, maior causador da doença, e ao rastreamento. Os resultados apontam para as desigualdades existentes em toda a cadeia envolvida no enfrentamento contra o câncer de colo do útero.

De acordo com o levantamento, o câncer de colo de útero apresenta enormes diferenças regionais, sendo os estados do norte os primeiros colocados no ranking da doença, por falta de acesso a informações, vacinação, exames de rastreamento, confirmação diagnóstica e tratamento. "É algo inaceitável, já que vacina e exame preventivo ajudam a evitar a doença e estão disponíveis gratuitamente no SUS. Isso já é uma desigualdade extrema e injusta, e é para estas iniquidades na Oncologia que a UICC pede atenção na campanha de 2022", destaca Luiz Augusto Maltoni, diretor-executivo da Fundação do Câncer.
"Nossa ideia com esse movimento é mostrar que políticas preventivas podem mitigar o cenário de adoecimento e morte, especialmente quando já existem alternativas eficazes para prevenção", esclarece.

Com base em 16 estudos que, agrupados oferece informação de qualidade a respeito da vacinação contra HPV, apontou que crianças, adolescentes e pais ouvidos desconhecem tanto a efetividade da vacina, quanto a maneira como deve ser aplicada e se rendem às fake news disseminadas a respeito. “Nosso alerta é para que haja mais informação neste sentido”, destaca a médica Flávia Miranda Corrêa, que coordenou o levantamento.
“Entre 26 e 37% de 7.712 crianças e jovens entrevistados, com idades entre 10 e 19 anos, não sabiam que a vacina previne contra câncer de colo de útero. Entre 53% e 76% não sabiam que previne o aparecimento de verrugas causadas pelo HPV. Especialmente quando falamos de adolescentes, é um percentual de desconhecimento muito alto”, ressaltou ela, que é doutora em Saúde Coletiva.

Rastreamento

Dados de 52 estudos, incluindo 54.617 mulheres de 14 a 83 anos, apontam para conhecimentos e práticas inadequadas entre 40% e 71%, respectivamente. Os principais motivos apontados pelas mulheres que nunca realizaram o exame preventivo foram: “não achavam necessário” (45%), “não foram orientadas” (15%) e “tinham vergonha” (13%).

O levantamento da Fundação do Câncer concluiu ainda que baixa renda, menor escolaridade, cor da pele parda ou negra, residência em áreas urbanas pobres e rurais estão mais associadas ao conhecimento insatisfatório e práticas equivocadas referentes à vacinação contra HPV e ao rastreamento do câncer do colo do útero, o que reforça a importância da luta contra a iniquidade.

Desinformação

Outro aspecto que mostra a desinformação é o fato de 82% dos entrevistados acreditarem que a vacina previne outras Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), além do HPV. “Isso é um perigo! Precisamos esclarecer que a vacina tem a função específica de evitar os danos do HPV: verrugas, lesões precursoras e o próprio câncer de colo de útero. Doenças como sífilis, contágio por HIV e demais DSTs não estão contemplados nessa imunização”, alerta a médica.

Outros resultados revelam um possível problema relacionado a mitos e fake news. Entre 36 e 57% do público-alvo acharam que o imunizante contra HPV não é seguro. E de 35 até 47% que pode incentivar a iniciação sexual precoce. “Precisamos tratar desse tema com naturalidade e estudar maneiras de levar a informação segura e séria para esse público e suas famílias”, destaca Flávia.

A visão dos pais/responsáveis também demonstra o mesmo problema de desinformação: 17% disseram que não sabiam que a vacina previne câncer do colo do útero e 33% que não tinham ideia sobre a prevenção de verrugas anais e genitais; 74% imaginavam que a vacinação previne outras DSTs e 20% achavam que o imunizante poderia ser prejudicial à saúde; 22% achavam que a vacina poderia incentivar a iniciação sexual precoce dos filhos.

Para combater o problema, a médica Flávia Miranda diz: "Em 2014, ano da incorporação da vacinação contra HPV ao SUS, ocorreu a parceria educação-saúde para a aplicação da primeira dose, tanto nos serviços de saúde como nas escolas. Talvez essa seja uma medida crucial a ser retomada, para que, além de facilitar o acesso à imunização, auxilie pais, alunos, professores e toda a comunidade a entender verdades, esclarecer mitos e promover realmente a saúde nas escolas, atualizando até mesmo outras vacinas", sugere.